Em todas as tentativas de combater a inflação pelo controle de preços, eles explodem mais adiante e o processo retorna
A inflação do mês de março, anunciada pelo IBGE, fechou em 0,92%. Se essa taxa se repetisse em todos os meses, a inflação anual seria de 11,6%, o que representaria o fracasso total da política econômica. A meta prevista em resolução do Banco Central (BC) é de 4,5% e, se chegasse próxima dos 12% ao ano, produziria um estrago econômico e social de graves proporções.
Além de desorganizar o sistema de preços, acabar com a previsibilidade dos orçamentos e inibir os investimentos privados nacionais e estrangeiros no país, eventual inflação na faixa dos 12% ao ano funcionaria como o estopim para greves e movimentos de trabalhadores contra a perda do poder de compra e o empobrecimento social. Porém, o efeito mais perverso da inflação é sempre o de provocar queda no Produto Interno Bruto (PIB) e aumento do desemprego.
Um cenário com tal configuração é suficiente para exigir que governo e sociedade adotem como prioridade número um o combate sem trégua à inflação. A maior conquista nacional no campo da economia nos últimos 30 anos foi a derrubada da inflação, em 1994, com o Plano Real. Se não tivesse vencido a guerra contra a hiperinflação, que teimava em não ir embora mesmo depois de cinco planos econômicos, o Brasil não teria conseguido qualquer progresso econômico ou ganho social, pois não se conhece exemplo no mundo de país que prosperou sob inflação elevada.
A taxa de elevação dos preços em 0,92% em março pode ser vista como um ponto fora da curva e não significa perda do controle das autoridades em relação ao problema. Mas não deixa de ser um quadro preocupante, em especial porque a trajetória dos preços nos últimos anos aconteceu mesmo com alguns preços submetidos a represamento pelo governo. É o caso da energia, dos combustíveis e das tarifas de transporte público. Além de impor prejuízos nos balanços e perda no valor das empresas do setor, o controle de preços puxa a inflação para baixo artificialmente e termina como todas as tentativas de combater o mal por esse caminho: mais adiante, os preços explodem e o processo retorna, muito mais grave.
A definição mais comum de inflação é a de um processo de aumento generalizado e contínuo de preços. Para muitos economistas, esse processo é o efeito da verdadeira inflação, que seria a emissão de moeda acima do crescimento do PIB, em geral para cobrir déficits nominais das contas do governo. Desse ponto de vista, a inflação é um fenômeno essencialmente estatal e, na base de suas causas, está sempre o mau comportamento do governo ao gastar mais do que arrecada.
Por coincidência ou não, a elevação da taxa de inflação brasileira ocorre logo após o governo passar três anos não cumprindo as metas de superávit primário (receitas tributárias menos gastos públicos antes do pagamento dos juros da dívida). Quando computados os juros da dívida, o balanço fiscal apresenta déficit que, em alguns momentos, chega a 3% do PIB, exigindo do governo que aumente impostos e/ou busque tomar mais dinheiro emprestado da população. Mais dívida pública significa simplesmente forçar a subida dos juros e, logo à frente, a subida da inflação.
A presidente Dilma cometeu três erros simultâneos. O primeiro foi aumentar os gastos públicos, reduzir o superávit primário e elevar o déficit nominal. O segundo foi forçar o BC a reduzir os juros. O terceiro foi tentar segurar a inflação represando alguns dos preços administrados pelo governo. Essa combinação não tem consistência e acaba sempre estourando em mais inflação e perda da capacidade das autoridades de agir. Se fizer um movimento rápido, voltar à ortodoxia econômica e impuser um rigoroso programa de austeridade, o governo pode salvar a grande causa nacional, que é ter inflação aceitável para os padrões dos países emergentes.
Uma pedra no sapato da presidente Dilma é o fato de essa situação exigir urgência justamente em ano eleitoral, quando o impulso natural dos governos é gastar mais, sobretudo sendo ela própria candidata à reeleição. Porém, se perder tempo e jogar o ano de 2014 fora em termos de gestão macroeconômica, Dilma deixará para o próximo presidente (que pode ser ela mesma) uma bomba armada difícil de ser desativada. Inflação alta não interessa a ninguém, nem mesmo à oposição política, pois o tamanho do prejuízo social é grande demais para sequer ser admitido por qualquer segmento da sociedade.
16 de abril de 2014
Editorial Gazeta do Povo
A inflação do mês de março, anunciada pelo IBGE, fechou em 0,92%. Se essa taxa se repetisse em todos os meses, a inflação anual seria de 11,6%, o que representaria o fracasso total da política econômica. A meta prevista em resolução do Banco Central (BC) é de 4,5% e, se chegasse próxima dos 12% ao ano, produziria um estrago econômico e social de graves proporções.
Além de desorganizar o sistema de preços, acabar com a previsibilidade dos orçamentos e inibir os investimentos privados nacionais e estrangeiros no país, eventual inflação na faixa dos 12% ao ano funcionaria como o estopim para greves e movimentos de trabalhadores contra a perda do poder de compra e o empobrecimento social. Porém, o efeito mais perverso da inflação é sempre o de provocar queda no Produto Interno Bruto (PIB) e aumento do desemprego.
Um cenário com tal configuração é suficiente para exigir que governo e sociedade adotem como prioridade número um o combate sem trégua à inflação. A maior conquista nacional no campo da economia nos últimos 30 anos foi a derrubada da inflação, em 1994, com o Plano Real. Se não tivesse vencido a guerra contra a hiperinflação, que teimava em não ir embora mesmo depois de cinco planos econômicos, o Brasil não teria conseguido qualquer progresso econômico ou ganho social, pois não se conhece exemplo no mundo de país que prosperou sob inflação elevada.
A taxa de elevação dos preços em 0,92% em março pode ser vista como um ponto fora da curva e não significa perda do controle das autoridades em relação ao problema. Mas não deixa de ser um quadro preocupante, em especial porque a trajetória dos preços nos últimos anos aconteceu mesmo com alguns preços submetidos a represamento pelo governo. É o caso da energia, dos combustíveis e das tarifas de transporte público. Além de impor prejuízos nos balanços e perda no valor das empresas do setor, o controle de preços puxa a inflação para baixo artificialmente e termina como todas as tentativas de combater o mal por esse caminho: mais adiante, os preços explodem e o processo retorna, muito mais grave.
A definição mais comum de inflação é a de um processo de aumento generalizado e contínuo de preços. Para muitos economistas, esse processo é o efeito da verdadeira inflação, que seria a emissão de moeda acima do crescimento do PIB, em geral para cobrir déficits nominais das contas do governo. Desse ponto de vista, a inflação é um fenômeno essencialmente estatal e, na base de suas causas, está sempre o mau comportamento do governo ao gastar mais do que arrecada.
Por coincidência ou não, a elevação da taxa de inflação brasileira ocorre logo após o governo passar três anos não cumprindo as metas de superávit primário (receitas tributárias menos gastos públicos antes do pagamento dos juros da dívida). Quando computados os juros da dívida, o balanço fiscal apresenta déficit que, em alguns momentos, chega a 3% do PIB, exigindo do governo que aumente impostos e/ou busque tomar mais dinheiro emprestado da população. Mais dívida pública significa simplesmente forçar a subida dos juros e, logo à frente, a subida da inflação.
A presidente Dilma cometeu três erros simultâneos. O primeiro foi aumentar os gastos públicos, reduzir o superávit primário e elevar o déficit nominal. O segundo foi forçar o BC a reduzir os juros. O terceiro foi tentar segurar a inflação represando alguns dos preços administrados pelo governo. Essa combinação não tem consistência e acaba sempre estourando em mais inflação e perda da capacidade das autoridades de agir. Se fizer um movimento rápido, voltar à ortodoxia econômica e impuser um rigoroso programa de austeridade, o governo pode salvar a grande causa nacional, que é ter inflação aceitável para os padrões dos países emergentes.
Uma pedra no sapato da presidente Dilma é o fato de essa situação exigir urgência justamente em ano eleitoral, quando o impulso natural dos governos é gastar mais, sobretudo sendo ela própria candidata à reeleição. Porém, se perder tempo e jogar o ano de 2014 fora em termos de gestão macroeconômica, Dilma deixará para o próximo presidente (que pode ser ela mesma) uma bomba armada difícil de ser desativada. Inflação alta não interessa a ninguém, nem mesmo à oposição política, pois o tamanho do prejuízo social é grande demais para sequer ser admitido por qualquer segmento da sociedade.
16 de abril de 2014
Editorial Gazeta do Povo
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