"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

GRANDES VISÕES FRACASSADAS

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A reportagem do New York Times do último domingo, intitulada "Grandes Visões Fracassam no Brasil" (Great Visions Fizzle in Brazil), de autoria de Simon Romero, jornalista americano que cobre o Brasil desde 2011, apresenta uma radiografia lúgubre e depressiva da situação atual do nosso país

A matéria se inicia pela referência à decadência que se seguiu ao boom artificial de progresso  que, como qualquer cidadão razoavelmente informado não desconhece, não foi construído em alicerces sólidos, mas baseado no estímulo ao consumo irresponsável e no populismo de resultados imediatos, visando a objetivos puramente eleitorais. 

A reportagem desfia, em seguida, um rosário de projetos mal concebidos e dispendiosos, obras grotescamente inacabadas, destacando-se a construção de várias pontes ferroviárias, testemunhos patéticos e fantasmagóricos de ligações desligadas e pernetas que  unem o ar daqui com o ar de lá, vestígios da Ferrovia Transnordestina, iniciada em 2006, interrompida e, hoje, abandonada, depois de desalojar e deslocar  inúmeras famílias que não receberam nenhuma compensação e vivem hoje numa atmosfera de desesperança e miséria. 

Cita também o incrível teleférico de 32 milhões de reais, construído numa comunidade do Rio de janeiro e que só realizou, com o prefeito fazendo o papel de mestre da banda, a viagem inaugural, em 2012, parado desde então.

Foram lembrados também os geradores eólicos, sem "tomadas" e linhas de transmissão, necessidades óbvias para a oferta de energia, além dos gastos mal direcionados e sem propósito, como o monumento aos ET's, em Varginha, um espelho da incompetência da administração pública, atualmente parado, no esqueleto, e oxidando.

O que dizer então do projeto futurista construído em Natal, inaugurado em 2008, assinado por afamado arquiteto, também abandonado, servindo, no momento,  de habitação para desabrigados? 

Dignos de menção são também os projetos megalomaníacos de irrigação cuja prontificação, prometida para 2010, apresenta como único resultado, no entanto, até agora, a degradação do solo por onde deveriam  passar quantidades generosas de água para atender agricultores nordestinos secularmente torturados pela seca. 

Sobre toda essa rede de absurdos desconexos e capengas, está o impacto produzido pela construção de luxuosos estádios para a Copa do Mundo que se aproxima, alguns dos quais em locais em que o futebol desperta menos interesse que lançamento de coco, em cidades nas quais grande parte do esgoto ainda corre a céu aberto. 

Enfim, a matéria  expõe um quadro de apreensão, agravado por uma disputa eleitoral no corrente ano que promete ser a mais desleal dos últimos tempos, tudo adornado com um crescimento raquítico, uma inflação persistente, uma classe política mergulhada em fétido ambiente de corrupção e pragmatismo corrosivo e uma justiça a serviço dos propósitos de um executivo ensandecido pela manutenção do poder a qualquer custo. 

Ao contrário de "Viva o Povo Brasileiro", título de uma das obras mais significativas de João Ubaldo Ribeiro, somos forçados a falar baixinho, "Pobre Povo Brasileiro".
 
16 de abril de 2014
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.



 

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