Causa preocupação o anúncio de que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística suspendeu a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua). A apreensão cresce quando se descobre a razão: dois senadores - o pernambucano Armando Monteiro e a paranaense Gleisi Hoffmann, ex-chefe da Casa Civil do Planalto - sugeriram a medida por considerarem grande a margem de erro do levantamento.
O desvio, segundo eles, prejudicaria a distribuição de recursos por meio do Fundo de Participação dos Estados. Tomada sem consulta aos técnicos, a decisão provocou rebelião no órgão. A diretora de Pesquisas, Márcia Quintslr, e a coordenadora geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), Denise Briotz, se exoneraram. Não só: 18 coordenadores de área puseram os cargos à disposição.
De um lado, alegam ter sido surpreendidos com a reprogramação do calendário. De outro, rebelam-se contra possíveis dúvidas sobre a eficiência do IBGE. Muitos acusam a presidente do instituto, Wasmália Bivar, de se submeter a pressões do Palácio do Planalto para adequar informações à Lei Complementar nº 143/2013. A rebelião levanta dúvidas sobre a instituição, que construiu sólida reputação de independência e profissionalismo técnico ao longo de 80 anos de história.
É assustador. Um dos grandes desafios dos países emergentes é contar com estatísticas confiáveis. Elas servem de norte para planejamento do governo, escolha e avaliação de políticas públicas. É com elas que os organismos internacionais, entre os quais a Organização das Nações Unidas, analisa indicadores para fazer comparações e analisar avanços e retrocessos em diferentes setores.
A divulgação de pesquisas, ao jogar luz sobre pontos obscuros, esquecidos ou negligenciados, balança zonas de conforto, origina reportagens e estimula respostas. Graças à liberdade de ação e ao apuro técnico, o Brasil conquistou credibilidade no levantamento de dados sobre a realidade nacional. Ao divulgá-los, não sofre questionamentos nem do público interno nem do externo.
Conquistar é, sem dúvida, o verbo mais adequado para traduzir o esforço e a seriedade das instituições brasileiras no trabalho realizado. O respeito não se compra em supermercado nem se impõe por decreto. É fruto de técnica e empenho de profissionais sérios e qualificados, que põem a ciência acima de interesses particulares ou partidários. Deixar que sombras pairem sobre as pesquisas é jogar o país no descrédito. A Argentina serve de exemplo do que não fazer.
16 de abril de 2014
Editorial Correio Braziliense
O desvio, segundo eles, prejudicaria a distribuição de recursos por meio do Fundo de Participação dos Estados. Tomada sem consulta aos técnicos, a decisão provocou rebelião no órgão. A diretora de Pesquisas, Márcia Quintslr, e a coordenadora geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), Denise Briotz, se exoneraram. Não só: 18 coordenadores de área puseram os cargos à disposição.
De um lado, alegam ter sido surpreendidos com a reprogramação do calendário. De outro, rebelam-se contra possíveis dúvidas sobre a eficiência do IBGE. Muitos acusam a presidente do instituto, Wasmália Bivar, de se submeter a pressões do Palácio do Planalto para adequar informações à Lei Complementar nº 143/2013. A rebelião levanta dúvidas sobre a instituição, que construiu sólida reputação de independência e profissionalismo técnico ao longo de 80 anos de história.
É assustador. Um dos grandes desafios dos países emergentes é contar com estatísticas confiáveis. Elas servem de norte para planejamento do governo, escolha e avaliação de políticas públicas. É com elas que os organismos internacionais, entre os quais a Organização das Nações Unidas, analisa indicadores para fazer comparações e analisar avanços e retrocessos em diferentes setores.
A divulgação de pesquisas, ao jogar luz sobre pontos obscuros, esquecidos ou negligenciados, balança zonas de conforto, origina reportagens e estimula respostas. Graças à liberdade de ação e ao apuro técnico, o Brasil conquistou credibilidade no levantamento de dados sobre a realidade nacional. Ao divulgá-los, não sofre questionamentos nem do público interno nem do externo.
Conquistar é, sem dúvida, o verbo mais adequado para traduzir o esforço e a seriedade das instituições brasileiras no trabalho realizado. O respeito não se compra em supermercado nem se impõe por decreto. É fruto de técnica e empenho de profissionais sérios e qualificados, que põem a ciência acima de interesses particulares ou partidários. Deixar que sombras pairem sobre as pesquisas é jogar o país no descrédito. A Argentina serve de exemplo do que não fazer.
16 de abril de 2014
Editorial Correio Braziliense
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