"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

EROSÃO DE CONFIANÇA

Datafolha detecta queda de 39 pontos no otimismo com país e economia; Dilma enfrenta uma convergência de fatores eleitorais negativos
Numa nação apaixonada por futebol a 58 dias de receber a Copa do Mundo, a acentuada retração no otimismo dos brasileiros assume ares preocupantes. Em ano eleitoral, sobretudo para o Planalto.
O instantâneo perturbador foi colhido pelo Datafolha. O instituto criou o Índice Datafolha de Confiança (IDC) e, já na primeira comparação anual, detectou variação significativa de humor --para pior.

O índice se compõe de sete quesitos: avaliação do Brasil como lugar para viver, orgulho de ser brasileiro e cinco expectativas econômicas --sobre a situação do próprio entrevistado, a do país, poder de compra, desemprego e inflação.

Cada um dos itens recebe pontuação de 0 a 200, após pesquisa representativa da população brasileira (ouvida em 162 municípios). Acima de 100 o IDC é considerado positivo, e abaixo disso, negativo.

Em março de 2013, a média estava em 148, claro indicador de confiança no futuro. Na pesquisa dos últimos dias 2 e 3, contudo, o índice desceu à média de 109.

A consideração dos itens individuais dá mais motivos para apreensão com os rumos da economia nacional. Só três deles recebem pontuação acima de 100, dois dos quais se referem mais à percepção do país do que à sua realidade: Brasil como lugar para viver (179 pontos, nove abaixo dos 188 de 2013) e orgulho de ser brasileiro (159, diante de 178 no ano passado).

O único quesito econômico com valor positivo (159) é a expectativa com a situação econômica do próprio entrevistado pelo Datafolha, mesmo assim 25 pontos abaixo da de 2013. Todos os outros quatro ficaram abaixo da linha divisória.

Francamente ruim é a expectativa quanto ao futuro da inflação, com índice 17. Um recuo de 40 pontos com relação a um ano atrás.

Dito de outra maneira, a inflação alta está "na boca do povo", como se fala, e não em supostas conspirações "da elite" ou "da mídia" com que tentam justificar-se setores do PT e ventríloquos do Planalto. O brasileiro normal sabe o quanto dói perder poder de compra em razão do descuido governamental com a saúde da moeda.

A erosão geral da confiança captada no IDC faz eco, assim, à crescente insatisfação dos contribuintes com a deficiência dos serviços públicos --mote das manifestações de junho-- e com o desgaste do governo Dilma Rousseff aos olhos de boa parte do empresariado.

A confluência de fatores negativos não configura nenhum pesadelo eleitoral para a presidente, pois nem mesmo começou a campanha. Mas já reúne potencial suficiente para perturbar-lhe o sono e os sonhos de reeleição tranquila.

16 de abril de 2014
Editorial Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário