Celso de Mello fez o gol contra que deixou a vitória da Justiça com cara de empate
Imagine um zagueiro que, aos 45 minutos do segundo tempo, ignora as advertências dos companheiros e faz o gol contra que leva à prorrogação.
No intervalo, o dono da bola aproveita a saída involuntária de um craque do time que dominava a partida para substituí-lo por um novato disposto a ajudar o adversário.
O truque não impede a derrota da pior equipe, mas a vitória fica com cara de empate. Em vez de envergonhar-se da jogada irresponsável que mudara o rumo da partida, o zagueiro trapalhão usa os segundos finais para caprichar em embaixadas, passes de trivela e outras firulas inúteis.
O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, primeiro condenou com singular veemência os quadrilheiros do mensalão. Em seguida, resolveu socorrê-los com a aceitação de embargos infringentes de aplicação tão duvidosa que foram rejeitados por cinco ministros.
O voto de Celso de Mello forçou um segundo julgamento. Graças a mudanças espertas na composição do Supremo Tribunal Federal, os culpados já se haviam livrado da acusação por formação de quadrilha quando Celso de Mello começou a ler o seu palavrório.
Sem aparentar remorso, voltou a afirmar que os corruptos juramentados são também quadrilheiros. Merecem, portanto, ficar um bom tempo na cadeia da qual logo sairão graças à vaidade e à teimosia do decano.
Celso de Mello é o zagueiro de toga.
14 de março de 2014
in Augusto Nunes
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