Desde 2007, perambula pelas gavetas e comissões do Senado o Projeto de Lei nº 464. Ele tem como meta estabelecer critérios mais objetivos para a indicação de nomes que exercerão cargos nas agências reguladoras. Como sou um eterno crítico da relação Estado-cidadão, suponho por que ele anda nesse ritmo de jabuti: o PMDB e o PT, praticamente donos de algumas agências, não demonstram interesse em que a escolha obedeça a normas claras. Como ter, no mínimo, 10 anos e experiência profissional. Ou formação acadêmica compatível com o cargo. Recentemente, um senador do PMDB justificou a escolha de aliado: "É um menino bom, trabalhador". Ué, e daí?
Hoje, para se tornar diretor ou conselheiro, bastam: a) ser brasileiro (e daí?); b) ter reputação ilibada (há muita gente aí de má reputação sem nenhuma condenação, por exemplo); c) formação universitária (isso torna alguém melhor?); e) elevado conceito (pode ser um "elevado conceito" negativo?). Perdão pela ironia, mas lembrei-me neste instante de uma figura pública que preenche todos os requisitos acima, mas rouba pirulito de criança.
Bem, o ritmo lento da tramitação dessa proposta (curiosamente de Delcídio Amaral, um petista meio escanteado do poder) também pode ser explicado pela quizumba armada, à base da chantagem, pelo PMDB da Câmara. A reação do governo, ao ceder às pressões fisiológicas dos peemedebistas, foi logo "oferecer" cargos nas agências. Aliás, para ilustrar como o PMDB "pensa no país", desde ontem tento, sem sucesso, lembrar- me de algum questionamento relevante, feito por qualquer dirigente, sobre erros de gestão dos últimos governos federais. Também, pudera: seria atirar nas próprias pernas, não é?
Insisto no tema em função do fato de que a sociedade ainda não entendeu: serviços essenciais, como fornecimento de energia elétrica, transportes e telecomunicações devem ter altíssimo padrão, como ocorre nos EUA, por exemplo. E que seus diretores não só devem se curvar ao deputado, ao senador ou mesmo ao ministro e, principalmente, à tentação de bajular empresários para ganhar vantagens - seja um cruzeiro de navio ou um futuro emprego.
14 de março de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
Hoje, para se tornar diretor ou conselheiro, bastam: a) ser brasileiro (e daí?); b) ter reputação ilibada (há muita gente aí de má reputação sem nenhuma condenação, por exemplo); c) formação universitária (isso torna alguém melhor?); e) elevado conceito (pode ser um "elevado conceito" negativo?). Perdão pela ironia, mas lembrei-me neste instante de uma figura pública que preenche todos os requisitos acima, mas rouba pirulito de criança.
Bem, o ritmo lento da tramitação dessa proposta (curiosamente de Delcídio Amaral, um petista meio escanteado do poder) também pode ser explicado pela quizumba armada, à base da chantagem, pelo PMDB da Câmara. A reação do governo, ao ceder às pressões fisiológicas dos peemedebistas, foi logo "oferecer" cargos nas agências. Aliás, para ilustrar como o PMDB "pensa no país", desde ontem tento, sem sucesso, lembrar- me de algum questionamento relevante, feito por qualquer dirigente, sobre erros de gestão dos últimos governos federais. Também, pudera: seria atirar nas próprias pernas, não é?
Insisto no tema em função do fato de que a sociedade ainda não entendeu: serviços essenciais, como fornecimento de energia elétrica, transportes e telecomunicações devem ter altíssimo padrão, como ocorre nos EUA, por exemplo. E que seus diretores não só devem se curvar ao deputado, ao senador ou mesmo ao ministro e, principalmente, à tentação de bajular empresários para ganhar vantagens - seja um cruzeiro de navio ou um futuro emprego.
14 de março de 2014
Renato Ferraz, Correio Braziliense
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