"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 24 de março de 2014

CAI POR TERRA A FALSA PACIFICAÇÃO DAS FAVELAS, "INVENTADA" POR SÉRGIO CABRAL




Como se sabe, o governador Sérgio Cabral jogou a toalha e pediu à Presidência da República o apoio das forças federais para conter os ataques em comunidades pacificadas. Ele anunciou a decisão na madrugada de sexta-feira, depois de se reunir com um tal “Gabinete de Crise”, convocado em caráter de urgência após ataques em três áreas com unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), ocorridos na noite de quinta-feira.

Para saber o que está acontecendo no Rio de Janeiro, é preciso lembrar o que está por trás da chamada Política de Pacificação das Favelas através das UPPs. Numa cidade conflagrada como o Rio de Janeiro, onde cada favela tinha “dono” e os traficantes mantinham milícias fortemente armadas que enfrentavam a Polícia Militar em situação privilegiada (de cima para baixo, como na famosa batalha de Monte Castelo), foi de estranhar que a “ocupação” de diversas favelas ocorresse sem que houvesse a menor resistência, nenhuma troca de tiros, nada, nada.

Era como se os traficantes subitamente tivessem desistido da criminalidade. E o governador se jactava, dizendo: “Dei o prazo de 24 horas para que os traficantes abandonassem as favelas do Cantagalo, Pavão e Pavaõzinho”. E eles, tremendo de medo, obedeceram. Era o que os jornais noticiavam, sem perguntar como Sérgio Cabral teria feito esse ultimado aos traficantes: se fora pessoalmente ou através de quem?

ACORDO COM O TRÁFICO

Na época, comentei com Helio Fernandes que essa situação era muito estranha, porque em todas as favelas o fenômeno se repetia, monotonamente, com os traficantes se retirando sem dar um só tiro. Helio Fernandes então saiu em campo, colheu informações e escreveu uma série de artigos na Tribuna, denunciando que Cabral havia feito um acordo com os traficantes, nos seguintes termos:
1) A PM ocuparia sem resistência as favelas.

2) Os traficantes desmobilizariam suas milícias, não haveria mais “soldados do tráfico” com suas máscaras ninjas (eles são precursores dos black blocs, digamos assim), não  exibiriam fuzis e metralhadoras, não haveria disparos e balas perdidas, os moradores das comunidades não seriam aterrorizados, a paz reinaria em cada favela.

3) Em troca, os traficantes poderia seguir suas atividades sem repressão, desde que o fizessem discretamente, através do sistema de entrega a domicílio (droga delivery).

A MÍDIA SILENCIA

As denúncias de Helio Fernandes, é claro, tiveram enorme repercussão, mas os grandes jornais e as emissoras de TV não se interessaram em ampliar a apuração desses fatos, por um simples motivo: a política de Cabral aparentemente estava funcionando. Apenas O Globo certa vez entrou no assunto, ao receber imagens da “venda livre” de drogas numa das favelas pacificadas. Fez duas matérias de página inteira, mas depois acomodou novamente e esqueceu o problema…

Os traficantes ficaram encantados com a ideia de Cabral, porque rapidamente aumentaram os lucros. Não precisavam mais gastar dinheiro para comprar armamentos e munições nem para pagar o grande número de “olheiros” e “soldados-ninjas” que protegiam suas atividades e impediam o acesso da Polícia Militar às comunidades.

SONHANDO ACORDADO

O criativo Sergio Cabral vivia nas nuvens. Já tinha como certo que seria eleito presidente da República, para aplicar no país inteiro sua “política de pacificação”. Sonhar não é proibido, lógico, mas o governador não contava com alguns variáveis que, pouco a pouco, iriam jogando por terra a farsa das UPPs.

1) Alguns policiais militares acharam absurda a “liberação” do tráfico e começaram a cobrar propinas dos traficantes. No bairro de Santa Teresa, por exemplo, três meses depois da “pacificação”, a própria PM prendeu um soldado corrupto, que estava com 13 mil reais no bolso.

2) O tráfico de drogas no Rio de Janeiro se caracteriza pela rotatividade de suas lideranças nas favelas. Os grandes traficantes não moram no morro. Pelo contrário, vivem nos bairros mais luxuosos, especialmente na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes, onde facilmente se misturam aos novos ricos em ascensão.

3) Começaram a ocorrer enfrentamentos entre novos milicianos do tráfico e os PMs que estão lotados nas UPPs, a grande maioria formada de soldados sem nenhuma experiência, recentemente recrutados.
Assim, de repente a “pacificação” foi desmoronando, as instalações das UPPs começaram a ser atacadas, soldados e oficiais da PM foram alvejados pelos novos traficantes, que não fizeram acordo com ninguém e agora lutam para ocupar territórios.

Esta é a realidade do Rio de Janeiro. E o que fará a Guarda Nacional? Vai ocupar as favelas, ficará eternamente lá? O Grande Rio tem 1071 comunidades consideradas favelas. Até agora, só existem 38 UPPs. Portanto, faltam apenas 1033 unidades pacificadoras.

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