Eduardo Campos deu uma entrevista ao apresentador Jô Soares. Foi ao ar na madrugada desta terça-feira (12).
A certa altura, Jô recordou ao presidenciável do PSB sua condição de ex-aliado dos governos petistas e seu conhecimento sobre José Dirceu. E sapecou: que influência terá o mensalão “no combate à corrupção?”
Numa resposta longa, Eduardo Campos falou de quase tudo –a redemocratização, o impeachment de Collor, a estabilização econômica, os investimentos sociais, as escolas de Pernambuco, as disfunções do Judiciário… Ele só não falou de Dirceu nem de mensalão.
No miolo da resposta, Campos disse que “a população paga 36% do PIB de tributos” e não suporta mais ver casos como esse dos fiscais da prefeitura de São Paulo. O que fazer? O combate à corrupção “não é só uma responsabilidade de quem está na máquina pública, não”, declarou Campos. “É uma responsabilidade da sociedade como um tudo.”
Ou seja: o sujeito salta da cama junto com as galinhas, engole o café com leite, sacode no ônibus apinhado, ensopa a camisa em troca do feijão com arroz, entrega o pedaço do fisco e ainda tem que evitar o arrombamento do cofre? Vivo, Bussunda gritaria: Fala sééééério!!!
Vai reproduzido abaixo, para que você tire suas próprias confusões, o fatídico trecho da entrevista:
Você vê o negócio do mensalão, o tempo que está levando para chegar a uma conclusão. [...]
Como é que você vê isso? Você que chegou a participar do governo, você que conhece o Zé Dirceu, [...] como é que você vê o desenrolar disso tudo e a inflência que isso terá no sentido de combate à corrupção?
- Eduardo Campos: Olha, Jô, eu acho que nasce na sociedade um grande desejo de construção de um pacto que resgate novos valores para um novo ciclo político e econômico no Brasil. Se a gente for perceber, nos últimos 30 anos nós fizemos isso. A sociedade construiu um ciclo da redemocratização.
[...] O Congresso não aprovou as eleições diretas, mas a gente foi pelo Congresso mesmo. E quebrou o regime autoritário. [...] Quem comandou esse ciclo foi o PMDB. Na sequência, o Brasil perdeu duas décadas pratricamente com inflação, instabilidade, falta de crédito lá fora, falta de visão estratégica.
Aí veio uma nova onda de mobilização, que ocorre quando o primeiro presidente é eleito e é tirado, pelas razões que todos nós sabemos —o impeachment do Collor, em 92.
A juventude vai pra rua. E ali começa, com Itamar [Franco], o ciclo da estabilização econômica, bem seguido pelo presidente Fernando Henrique, que operou reformas que permitiram o terceiro ciclo, que foi conduzido pelo presidente Lula. [...]
Então, nós tivemos esses três ciclos claramente puxados, a redemocratização pelo PMDB, o PSDB puxando o cliclo da estabilização econômica, e o PT o da inclusão social. E um não haveria sem o outro. Agora, nós percebemos que há um esgotamento dessa pactuação política. E é necessário um outro ciclo, onde a questão ética está no centro.
A população nos paga 36% do PIB de tributo. Ninguém quer ver o tributo saindo pelo ralo como estamos assistindo aí essas fitas dos fiscais da prefeitura de São Paulo, coisas do gênero.
Como vence isso? Não é só uma responsabilidade de quem está na máquina pública, não.
É uma responsabilidade da sociedade como um tudo.
Onde tem um corrompido há um corruptor. Alguém está corrompendo.
Então, esse valor tem técnicas. Grandes empresas privadas tem auditoria, não tem? Por quê? Porque também tem no universo privado.
Ou seja, a transparência é uma grande aliada, as ferramentas da tecnologia da informação são uma grande aliada do enfrentamento da corrupção, a premiação por êxito…
Ora, quando a gente diz numa escola, nos fizemos em Pernambuco. Escolas integrais, que acho que a educação é um negócio estratégico, fundamental para você mudar esse país. Na hora que você, numa escola, define: se essa escola bater as metas no aprendizado dos alunos, o professor vai ter o 14º salário, podendo chegar até o 15º, a depender do resultado, o ambiente da escola muda logo.
Ninguém quer ver aquele professor que não vai dar aula, ninguém quer mais aquela diretora que não faz circular os textos para debate mandados pelo nível central. Ou seja, temos que fazer inovação no serviço público, que vai permitindo reduzir a presença da corrupção.
A corrupção está na humanidade. Mas acho que, hoje, com ferramentas de tecnologia da informação, transparência e um direito processual em casos de crime envolvendo dinheiro público muito mais célere do que tem hoje. Porque hoje, um bom advogado procrastina um processo por dez anos.
Eu acho que a gente precisa rever algumas coisas do Judiciário no Brasil. Por exemplo: eu acho que a gente precisa discutir se é o caso no século 21 de termos ministros vitalícios. Nós podemos ter mandatos. Acho que o juiz precisa de estabilidade para cumprir seu papel, mas não necessariamente ministros vitalícios.
Nós não podemos ficar com um Código Penal, quando envolve corrupção, com os mesmos trâmites de quando é uma questão que não envolve dinheiro público. Para a democracia é fundamental que o cidadão acredite que não cabe a ele resolver com as próprias mãos.”
12 de novembro de 2013
Josias de Souza - UOL
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