País recebeu US$ 28,2 bi em setores como infraestrutura e agronegócio
Os chineses querem mais do Brasil, além das riquezas naturais, dos grãos e do próspero mercado de consumo para as quinquilharias que exportam mundo afora. Desde 2010, uma onda de anúncios de investimentos de empresas chinesas no Brasil mostra não só um aumento do interesse no país, mas também uma diversificação dos negócios. Os chineses estão disputando concessões de infraestrutura, comprando instituições financeiras e construindo fábricas de automóveis a componentes eletrônico. Levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) mostra que nos últimos cinco anos os chineses anunciaram projetos que somam US$ 68,5 bilhões para o país. Deste total, US$ 24 bilhões já foram desembolsados.
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De acordo com a The Heritage Foundation, instituição que mapeia os investimentos chineses pelo mundos, desde 2005 a China já destinou US$ 28,2 bilhões em investimentos no Brasil, o que faz do país o quarto principal destino dos recursos da segunda economia do planeta, atrás apenas da Austrália, EUA e Canadá.
— A China agora se tornou um investidor global em busca de oportunidades em diversas áreas — diz o economista Derek Scissors, da Heritage.
A compra do Bic Banco há duas semanas pelo China Construction Bank — que pagou R$ 1,6 bilhão por 72% do capital da instituição fundada pela família Bezerra de Menezes em 1938 — e a entrada das estatais de petróleo CNOOC e CNPC no consórcio que irá explorar a área de Libra (com um aporte inicial de R$ 3 bilhões), dias antes, dão a medida do apetite asiático. Há ainda a estatal chinesa Shandong Shipping Corporation, que fechou acordo de R$ 1,15 bilhão com a Vale em outubro para operar quatro dos navios gigantes da mineradora brasileira. Três operações que, de saída, somam quase R$ 6 bilhões.
Scissors lembra que o investimento chinês se dá por ciclos. Concentrou-se na Austrália inicialmente, depois na África, Brasil e agora está focado nos EUA e Canadá.
— Houve uma mudança de foco dos investimentos chineses no Brasil depois de 2010. Além de continuar aplicando em fontes de energia, como petróleo, eles agora também olham o Brasil como uma plataforma de manufaturas muito interessante na América Latina — avalia Cláudio Frischtak, consultor do Conselho Empresarial Brasil-China.
Mercado automobilístico
De fato, a maior parte do investimento da China que veio para o Brasil desde 2005 destinou-se ao setor de energia, como petróleo, gás e carvão. São US$ 19 bilhões, segundo a Heritage. A área é estratégica para garantir fontes de energia no médio e longo prazo ao gigante asiático e seu 1,3 bilhão de habitantes. O crescimento da renda per capita dos chineses, a urbanização acelerada e o crescimento das vendas de automóveis fizeram da China, em setembro, o maior importador de petróleo do mundo, superando os Estados Unidos.
Mas, paralelo a isso, os chineses avançam no mercado automobilístico brasileiro. Em Jacareí, interior paulista, a montadora Chery está construindo a sua primeira planta fora da China. Com investimento de US$ 530 milhões, que inclui uma fábrica de motores, começa a produzir seus modelos em junho de 2014. Em 2017, quando estiver a pleno vapor, serão 100 mil carros por ano, gerando 3 mil empregos.
— Além de abastecer o mercado brasileiro, vamos exportar para Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia e Peru — diz Luís Curi, CEO e vice-presidente da Chery no Brasil.
Destino de 60% das exportações brasileiras de soja, a China já avança também no agronegócio. Enquanto estuda opções em Goiás, a Chongqing Grain Group investirá US$ 300 milhões numa esmagadora de soja em Barreiras, no Oeste da Bahia.
— O projeto inclui ainda unidades de biodiesel e de fertilizantes. E a empresa também já disse que tem interesse na Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que vai de Figueirópolis (TO) até Ilhéus (BA) — diz o secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles.
10 de novembro de 2013
João Sorima Neto e Ronaldo D’Ercole - O Globo
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