Confiram algumas razões pelas quais escoa pelo ralo a credibilidade da política econômica do governo
O RALO DA CREDIBILIDADE – 1
Quem tem acompanhado com atenção as análises de especialistas não comprometidos com o oficialismo – ditos dentro do governo como “pessimistas” – não se surpreendeu com a deterioração das contas públicas e as dificuldades que Brasília vai ter de cumprir a meta de superávit primário deste ano (qualquer que seja ela) e com as desculpas da Secretaria do Tesouro Nacional para o rombo de mais de 10 bilhões de reais somente nas contas federais em setembro.
A verdade, sem voleios no trapézio, do secretário Arno Agustin é que o governo vem gastando mais do que pode e deve – e gastando errado.
Os números oficiais não mentem: até o mês passado a arrecadação federal cresceu 8%, os gastos subiram 13% e os investimentos foram 2,9% menores.
O ralo da credibilidade – 2
Em que pese os números da na nota anterior, Agustin voltou a afirmar que o superávit será honrado.
Qual?
3,1% do PIB?
2,3%?
Com desconto dos gastos no PAC?
Com mais receitas extraordinárias?
Com o governo federal não cumprindo a parte dos Estados e municípios?
O ministro da Fazenda Guido Mantega, fazendo cara de surpreendido logo depois do resultado de setembro, afirmou que o governo vai rever as regras do seguro-desemprego e talvez a do abono salarial, duas despesas que subiram além do razoável nos últimos anos.
O rombo no seguro-desemprego causa especial estranheza porque o Brasil há muitos anos não vive uma situação tão boa na área do trabalho. Mantega atirou no que foi possível para apagar o incêndio e dar uma satisfação aos agentes econômicos. É história sem futuro.
Há tempos o governo analisa mudanças no seguro-desemprego, já fez até uma pequena alteração, mas não leva o projeto para frente porque encontra resistências nas centrais sindicais – e em parte do PT.
O próprio ministro disse que ainda vai conversar com os sindicalistas antes de apresentar as propostas de alteração.
Impossível imaginar que o governo vá meter a mão numa cumbuca dessas em plena temporada eleitoral, quando nem a gasolina a Petrobras consegue aumentar para não colocar fogo na inflação.
O ralo da credibilidade – 3
O número do superávit primário é importante, segundo os especialistas, para conter o crescimento da dívida pública, diminuir o consumo oficial e assim ajudar no combate ao processo inflacionário.
Mas ele não é mais importante do que a disposição do governo para cumprir o que promete, sem malabarismos ou desculpas pouco críveis.
É por esse ralo que se esvai a confiança na política econômica, no prometer o que não pode cumprir e tentar ofuscar a realidade com um véu pouco diáfano de fantasias.
10 de novembro de 2013
Ricardo Setti - Veja
Do blog Política & Economia Na Real, do jornalista José Márcio Mendonça e do economista Francisco Petros
Nenhum comentário:
Postar um comentário