Diante do iminente risco que persiste na economia global, o panorama internacional não se apresenta muito favorável ao Brasil, principalmente em função das possibilidades crescentes de desaceleração sincronizada entre as principais economias do planeta - a americana e a chinesa e, também, da guerra comercial entre elas, o que torna as perspectivas mais sombrias para nós, neste ano. Diante disso, só nos resta sermos aplicados, procurando fazer o “dever de casa”, se quisermos atrair investimentos e sair dessa paralisia em que se encontra a atividade econômica.
O grande desafio será encaminhar o mais breve possível uma solução para a crise fiscal que vem destruindo as finanças públicas, sob pena de ocorrer um desastre sem precedentes; como primeiro passo, deve haver a aprovação de uma ampla e impactante reforma Previdenciária. Existe uma ansiedade grande na sociedade em relação a alguma coisa que tem que tramitar e passar. Trata-se de aprovar a proposta do Temer (PEC 287) ou até mesmo outra que seja um pouco mais branda do que a ideal, mas que traga mudanças, como é o caso da instituição de uma idade mínima. Isso já é melhor do que nada.
A esperança era de que 2018 fosse um ano que apresentasse uma recuperação econômica progressiva e consistente. Infelizmente, isso não aconteceu, talvez por causa da inconsequente crise política que continuou impactando na economia, levando-a para um ambiente totalmente impregnado de incertezas por quase todo o exercício. Este ano, sob o comando de um novo governo, as expectativas foram renovadas e esperamos que o País possa ingressar num novo ciclo benigno de crescimento e desenvolvimento.
Sem dúvida, o cenário externo poderá nos atrapalhar, uma vez que ele revela inúmeras peculiaridades envoltas por uma indiscutível abrangência. A grande realidade é que hoje, o Brasil só depende exclusivamente de si mesmo. Existe a necessidade de termos um Congresso mais responsável que olhe a Nação com respeito e comprometa-se a buscar efetivas soluções que tragam melhores dias a todos os brasileiros.
Embora a nossa economia não seja muito aberta, neste atual ciclo econômico que estamos atravessando, ela sofre uma influência muito forte do exterior sem nos deixar isolados. Se o mundo vai mal, consequentemente torna-se difícil por aqui aportarem novos investimentos. Isso também não quer dizer que as questões domésticas sejam inofensivas. Inicialmente, a economia vem apresentando no seu cenário básico um crescimento de 2% em 2019. Quando fazemos o “dever de casa”, conseguimos de alguma forma nos descolar um pouco do cenário internacional e, quando não realizamos, naufragamos.
O presidente tem que aproveitar o excelente trunfo que tem em suas mãos no momento - nada mais do que um respeitável nível de aceitação. Segundo as últimas pesquisas realizadas recentemente, antes da sua posse, aproximadamente 60% dos brasileiros admitiam que ele fará um governo ótimo ou bom. A lua de mel deve ser aproveitada para o avanço da reforma nas aposentadorias, mas isso dependerá muito do envolvimento dele.
Na verdade, o Governo precisa apresentar logo resultados concretos, utilizando-se imediatamente do significativo capital político adquirido com legitimidade nas urnas em outubro, aprovando rapidamente o que é indispensável. Este posicionamento exige extrema cautela, pois uma largada que não transmita confiança provocaria, de imediato, reflexos negativos na economia e no mercado financeiro. O câmbio e a inflação iriam às alturas apesar da ociosidade e das expectativas ancoradas. Isso, fatalmente forçaria o Banco Central a antecipar a alta na Selic (taxa básica da economia) e seria um golpe no andamento da recuperação econômica.
Acenos desarmônicos ainda têm sido dados por membros do governo sobre a principal reforma que poderia ser realizada e a estratégia para sua aprovação no Congresso Nacional. Ocorre que Bolsonaro procurou inovar, buscando quebrar paradigmas e adotando uma nova forma de articulação política, desprezando o peso dos partidos com suas respectivas lideranças e privilegiando as bancadas representativas, fazendo negociações diretas com os congressistas, o que deixa uma certa dúvida, apenas por termos um Legislativo fragmentado.
É importante compreender que não será qualquer reforma que servirá como sinalização para que os empresários e investidores venham de fato injetar recursos no país. Acredito que do ponto de vista econômico, essa foi a eleição mais importante que tivemos após o período militar. Caso seja um governo de poucas ambições, logicamente o Brasil terá um crescimento limitado, muito aquém do grupo dos países emergentes no qual estamos inseridos. Mas existe uma questão importante - se já começa aprovando uma sólida reforma previdenciária, isso vai facilitar consideravelmente a agenda política para outros temas relevantes e, certamente, iremos surpreender.
Sempre que o Brasil foi colocado no caminho certo, ele soube reagir, superando em grande parte as adversidades. O poder de articulação, o entrosamento e a coordenação neste novo governo são fundamentais. Existe a necessidade de avançar nas reformas estruturais, principalmente aquelas que venham a diminuir o risco fiscal, para que as esperanças não se dissipem, dando lugar às incertezas e colocando o país numa nova rota de desconfiança externa.
15 de janeiro de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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