Os dados divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que a inflação em março é a
menor dos últimos 24 anos. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)
avançou apenas 0,09% ante a alta de 0,25% em igual mês do ano passado. No
acumulado em 12 meses ela desacelerou para 2,68% (em fevereiro foi 2,84%) e, no
acumulado do ano, o índice está em 0,70%.
O baixo resultado foi puxado pela
deflação dos preços dos transportes (-0.25%), com destaque para o recuo das passagens
aéreas (-15,42%) e, igualmente, comunicação (-0,33%).
A inflação sob controle só tem a favorecer a continuidade de
uma política monetária expansionista durante 2018, reforçando inteiramente o
caminho já traçado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) de mais uma queda
de 0,25 p.p. na taxa Selic (taxa básica da economia) na próxima reunião que
será realizada em maio próximo. Atualmente, a expectativa é que a inflação se
aproxime da meta prevista ao final do ano, provavelmente apontando viés de baixa.
Se confirmado este cenário, podemos acreditar numa
conjuntura benigna com política monetária expansionista, inflação abaixo da
meta e crescimento não inflacionário. Mesmo assim, as incertezas que vêm
caracterizando e desafiando este ano eleitoral podem impactar o câmbio e
ricochetear perigosamente na inflação.
Além de propiciar a manutenção da Selic em patamar
baixo, os preços sob controle devem impulsionar o consumo
das famílias. Os impactos deste cenário favorecem o mercado de crédito e as
vendas no varejo, proporcionando uma previsibilidade maior ao consumidor para
gerenciar seu orçamento, apesar de o desemprego ainda se situar num patamar
elevado e a renda real ainda não ter se restabelecido.
A sensação que
passa é que predomina a insegurança em relação à direção que a economia deverá
seguir. O consumidor anda apavorado com o desemprego (54% dos desempregados em 2016 ainda não se
recolocaram), procurando se resguardar contra outras adversidades que porventura venham
a comprometer o seu futuro. Em função disso, eles procuram não ousar numa
compra mais alentada para não aumentar seu endividamento.
Lamentavelmente, estamos convivendo com os efeitos nocivos
provocados pela longa e profunda recessão que começamos a deixar para trás e,
além disso, temos que reconhecer também que uma política monetária bem
conduzida, sem dúvida, contribuiu basicamente para a derrubada da inflação.
É
necessário acrescentar que o IPCA de preços ao consumidor vem se mantendo
abaixo do patamar de 3% da faixa considerada oficial para este exercício.
Diante disso, especula-se ser possível, embora, não impossível, que a inflação
continue a ficar assim tão baixa até o final do ano.
A mediana de projeções do boletim Focus, elaborado semanalmente pelo
Banco Central, já foi recalculada para baixo umas dez vezes consecutivas. O
mais recente relatório prevê que o IPCA fechará 2018 com alta de 3,53% acima do
nível atual, mas ainda abaixo da meta estabelecida pelo BC, de 4,5%, com margem
de tolerância de 1,5 pontos para mais ou para menos.
Com a inflação subjugada, abre-se ainda mais espaço para a
diretoria do BC (Banco Central) poder continuar flexibilizando a política
monetária, incentivando a recuperação da nossa economia.
Indiscutivelmente, estamos adentrando numa atmosfera bastante
incerta com relação ao futuro da nossa economia. Os diretores do BC manifestam
certa preocupação e encontram-se debruçados avaliando e discutindo sobre
projeções em torno dos prováveis números da inflação de 2019, a fim de poderem
dimensionar melhor a taxa de juros no curto prazo.
A última pesquisa semanal Focus publicada pelo BC sinaliza que
certamente a Selic (taxa básica de juros) encerrará 2018 em torno de 6,25%, um
quarto de ponto percentual abaixo da faixa atual. Afinal de contas, o
desemprego continua elevado, deixando, dessa forma, uma razoável folga na
economia, sendo natural que, inicialmente, se perceba algum consumo e isso
venha a contribuir coma dinâmica na recuperação da nossa vida econômica.
Em certos momentos, a economia me parece ancorada em dados
oscilantes, dando a impressão, nesse primeiro trimestre, que não engatou como
era esperado e que a recuperação por ora patina, cada vez mais dependente de um
segundo semestre mais promissor.
O PIB (Produto Interno Bruto) subiu 1% no ano passado,
depois de apresentar durante dois anos consecutivos queda de 3,5%. Ocorre que o crescimento desacelerou em cada
trimestre de 1,3% no período finalizado em março de 2017 para somente 0,1% no
quarto trimestre.
Está visível um padrão de contenção parcial nos investimentos
antes das eleições presidenciais de outubro. Comprovadamente
continuamos com uma enorme capacidade ociosa no setor produtivo, talvez porque
as empresas ainda estejam preferindo aguardar mais um pouco, para sentir uma
maior transparência no ambiente político e, a partir daí, desengavetar
definitivamente seus projetos de expansão.
À medida que as eleições se aproximam de 07 de outubro, as
incertezas continuam se expandindo. O número de pré-candidatos à Presidência
aumenta e, pelo visto, é quase uma dúzia. Apesar das projeções indicarem uma
disputa com muitos candidatos, o cenário está, até o momento, tão aberto que
dificulta até mesmo antecipar quais deles sobreviverão ao aquecimento para
disputar de fato a corrida pra valer.
Não é só pela nossa conjuntura, mas o contexto da economia
global também deve ser levado em consideração, já que atravessa um momento de
estresse em função da guerra comercial liderada por Donald Trump e a escalada
do conflito da Síria, embora o risco maior ainda esteja em nosso âmbito
doméstico pela falta de continuidade no processo das reformas que a economia
brasileira exige, com a obstrução inevitável no crescimento da dívida pública,
a busca de um sólido equilíbrio fiscal e o crescimento da produtividade.
O Brasil derrubou a hiperinflação há duas décadas, mas reviveu
esse fantasma sempre que os índices alcançaram dois dígitos nos últimos anos. Os
dados divulgados mostram que há espaço para que o país passe por uma redução
estrutural da inflação, mas o desequilíbrio fiscal e as possíveis turbulências
com o cenário eleitoral não deixam de ser um dos maiores riscos que talvez
venhamos a enfrentar.
22 de abril de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é
Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade
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