O conflito entre EUA e Rússia por causa da Síria parece ter-se acalmado depois da recente reunião no G-20 entre Putin e Trump. Algum tipo de acordo foi feito, mas não se sabe nem os objetivos nem os compromissos que se criam. Um dos objetivos atuais é derrotar o Estado Islâmico (ISIS). No encontro entre os presidentes Trump e Putin em Hamburgo ficou acertada uma trégua, para a área sudoeste da Síria.
POSIÇÕES – O governo sírio controla a cidade de Deraa; vários grupos insurgentes patrocinados por dinheiro estrangeiro, incluindo a al-Qaeda e o ISIS, ocupam as fronteiras na direção de Israel e Jordânia. Houve alguns combates sérios ali, depois de recentes ataques pela al-Qaeda contra a cidade de Baath, perto do Golan. Durante esses combates, a força aérea de Israel várias vezes garantiu apoio a grupos da al-Qaeda, atacando o exército sírio.
Nos termos do acordo para a trégua, os russos garantem que o governo sírio e aliados suspendem os combates; e os EUA garantem que Israel, os vários grupos do chamado Exército Sírio ‘Livre’, da al-Qaeda e do ISIS ficam quietos. A trégua já dura vários dias, sem novidades e sem provocações. Os EUA parecem ter forte influência sobre todos esses participantes.
UMA BASE DESERTA – A leste da área de Deraa, na província de Sweida, o Exército sírio continuou as operações contra vários grupos apoiados pelos EUA. No período de poucos dias, ganhou muito terreno, enfrentando fraca resistência, inclusive encontrou uma base norte-americana deserta, cuja existência não era conhecida publicamente. É possível que uma parte secreta do acordo para a trégua de Deraa permita que o Exército Árabe Sírio libere toda a área próxima da fronteira da Jordânia em direção leste até o posto de fronteira ocupado pelos EUA na passagem de al-Tanf.
A base norte-americana em Tanf perdeu qualquer viabilidade depois que o Exército Sírio tomou todo terreno ao norte dela e milícias iraquianas bloquearam o acesso pelo outro lado da fronteira. Os EUA treinaram alguns mercenários sírios em Tanf e planejavam mandá-los para o norte, na direção de Deir Ezzor. Como essa via está agora bloqueada, alguns dos mercenários treinados foram recentemente transferidos por ar para a base Shadadi no nordeste da Síria onde terão de lutar sob comando curdo.
Outros recusaram-se a se deslocar para o norte. O grupo Jaysh Maghawir al-Thawra, antes chamado de Novo Exército Sírio, é constituído principalmente de homens locais que provavelmente não querem deixar a família e não aceitam lideranças curdas. Os EUA devem mandá-los para casa e deixar a área.
MOVIMENTAÇÃO – Na quinta-feira, dia 13, começou um novo movimento de duas pinças pelo ISIS contra o sítio de Deir Ezzor. Forças militares sírias e aliados moveram-se em direção leste das posições que tinham em Palmyra, e para sudeste, das posições que tinham ao sul de Raqqa. Um movimento adicional contra Deir Ezzor pode vir de forças sírias mais a sudeste, perto da fronteira iraquiana.
A força aérea do Iraque recentemente fez ataques contra posição do ISIS em áreas de Deir Ezzor. A ação foi feita em acordo com o governo sírio. Pode ser sinal de que forças iraquianas se unirão à luta para libertar a cidade, com mais um movimento para sudoeste, a partir de suas posições perto de Tal Afar. Os militares norte-americanos já desistiram, pelo menos por hora, do sonho de atacar e ocupar Deir Ezzor, servindo-se das forças que os ‘representam’ naquela área.
CALMA RELATIVA – O oeste e o norte da Síria andam relativamente calmos. Um muito comentado ataque turco, que estaria próximo, contra áreas ocupadas pelos curdos, não aconteceu. Áreas controladas principalmente pela al-Qaeda na província de Idleb permanecem sem comando. Gangues da Al-Qaeda, do ISIS, de turcomenos, uigures, curdos e grupos locais do Exército ‘Livre’ Sírio mantêm, todas elas, pequenos ‘feudos’ na área. Assassinatos e ataques de grupo contra grupo acontecem diariamente. Não há motivo algum para que o governo turco intervenha nessa confusão.
O acordo entre Trump e Putin para a Síria pode ter objetivos mais amplos do que já divulgado publicamente. Por enquanto, parece que as partes concordaram em áreas de influência com os EUA, ocupando o nordeste atualmente sob controle do YPG curdo, ‘representante’ local dos EUA. Há mais bases ali em construção, que perfazem hoje oito ou nove. Pelo menos três delas têm pista de pouso. Há pedido tramitando no Congresso dos EUA para legalizar a construção de mais bases. É óbvio que os militares norte-americanos planejam permanecer na área mesmo depois de o ISIS ter sido derrotado.
EM MINORIA – Na Síria os curdos não passam de minoria em praticamente todas as áreas que controlam atualmente. Não são unidos e o YPG, único grupo ‘parceiro’ dos EUA, é grupo de marxistas anarquistas radicais, cuja única legitimidade é a força. A área é cercada por todos os lados, e todos os vizinhos circundantes opõem-se à autonomia dos curdos.
Os esforços dos EUA para se imporem na área não têm qualquer probabilidade de sucesso. Usar os curdos como Cavalo de Troia é expediente que dificilmente dará certo. O Departamento de Defesa, parece, ainda não aceitou esse fato. E pode ainda tentar sabotar qualquer projeto que Trump e Putin tenham conseguido construir juntos. (artigo enviado por Sergio Caldieri, tradução da Vila Vudu)
17 de julho de 2017
Deu no site Moon of Alabama
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