título fala por si e destaca como personagem central o sistema de corrupção, que no Brasil atinge um nível estratosférico. O livro do jornalista Nilo Dante, editora Midia In, foi lançado em julho de 2016, mas é de uma atualidade impressionante em julho de 2017. O autor, com quem trabalhei quando ele dirigiu o Jornal do Brasil, inspira-se na cultura francesa ao denominar um capítulo de “O Visitante da Noite”, filme famoso de Marcel Carné, e também ao se referir a uma definição que praticamente repete sua antecedente, de 150 anos, atrás destacada por Honoré de Balzac. Diz Nilo Dante: “No Brasil, por trás de uma grande fortuna há sempre um governo”.
Veja-se o caso de Joesley e Wesley Batista, financiados pelo BNDES em mais de 8 bilhões de reais. Foi desse financiamento que partiram para um ciclo interminável de aventuras à de subornos e envolvimentos em negócios nada lícitos. Joesley Batista foi recebido por Michel Temer no Jaburu. E depois concordou com o empréstimo particular de 2 milhões de reais ao senador Aécio Neves.
FICÇÃO E REALIDADE – O Sócio Oculto divide-se em 30 capítulos. Primeiro, “O Visitante da Noite”. O segundo, “Um Presidente à Deriva”. Nilo Dante, um autor brilhante, em ambos os casos parece ter sido envolto por uma nuvem de premonição. Acentuo novamente, como disse a pouco, a obra foi lançada exatamente há doze meses. Os personagens da estrada de Dante têm nomes fictícios, porém tenho a impressão de que ele mescla num só plano a ficção e a realidade.
Aliás, ficção e realidade são instrumentos acionados por grandes autores. Na verdade, como concordava Antonio Houaiss, ninguém até hoje no mundo, de Shakespeare a Nelson Rodrigues, passando por Marcel Proust, Charles Dickens e Gustave Flaubert, para ficar só nestes nomes, escreveu nada que não haja acontecido. O jogo das situações das palavras dos climas, dos ideogramas, varia de acordo com o movimento dos artistas, que vão buscar na prática dos fatos a inspiração para suas histórias, seus romances, seus enredos.
TUDO POR DINHEIRO – Portanto, a utilização de personagens fictícios não os afasta de acontecimentos concretos. Assim está em “O Sócio Oculto”, que destaca a influência decisiva do dinheiro para a manutenção do poder, para a busca também do poder, e para os negócios que se concretizam à sua volta.
Agora mesmo tivemos mais uma prova disso na votação ocorrida na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados, que, por inspiração do Planalto, optou por tentar impedir o julgamento do presidente Michel Temer pelo Supremo Tribunal Federal. Na CCJ e no plenário da Câmara não se encontra em jogo o julgamento do presidente da República, mas tão somente a admissão de tal julgamento pelo STF.
Se os governistas tivessem a certeza de que Temer não é culpado de nada, por que ele precisa escapar da decisão final do STF?
Assim, o temor revelado pela conduta de Michel Temer está fora de discussão. A CCJ é uma página virada. Mas fica na história.
DIA 2 DE AGOSTO – O próximo capítulo será a votação pelo plenário da Câmara no dia 2 de agosto, de acordo com a data prevista pelo presidente, deputado Rodrigo Maia. Uma reportagem de Pedro Venceslau e Carla Araujo, Estado de São Paulo deste sábado, revela que o presidente da República está avaliando realizar uma reforma ministerial para assegurar os votos necessários ao seu esforço de obstruir a denúncia.
Essa reforma ministerial está sendo meta principalmente do PMDB, que deseja afastar o PSDB do governo, uma vez que dos sete deputados federais que a legenda possui na CCJ, cinco votaram a favor do relatório Sérgio Zveiter.
O capítulo final aproxima-se, mas corrupção continua. Uma página a ser acrescentada a “O Sócio Oculto”, obra que muito acrescenta ao seu autor e à consciência da população brasileira.
17 de julho de 2017
Pedro do Coutto
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