A Rede Record exibiu na noite deste domingo, em horário nobre, a prometida “reportagem-bomba” que fora anunciada no site de emissora e imediatamente ganhou expressiva repercussão na internet. A matéria foi feita pelo ex-repórter global Luiz Carlos Azenha e exibida no programa “Domingo Espetacular”, que concorre com o “Fantástico” e o “Programa Silvio Santos”. A denúncia da Record realmente tem substância e atualiza antigas denúncias sobre sonegação tributária da Organização Globo, uma prática que parece institucionalizada nas grandes corporações do país.
Desta vez, a denúncia foi renovada com fundamento em pequena nota publicada na coluna “Radar”, da Veja, editada por Maurício Lima. A informação do colunista dava conta de que a delação do ex-ministro Antonio Palocci comprometia a Globo, e a reportagem de Azenha foi procurando o fio dessa meada.
EMPRESAS DE FACHADA – O mais impressionante da denúncia da Record, que se baseou em investigações da Polícia Federal, foi ter revelado o esquema de empresas-fantasmas montadas no exterior pela Globo para sonegar impostos no alto faturamento obtido com a exclusividade na cobertura das Copas do Mundo.
O repórter Azenha atualizou as antigas denúncias da sonegação de impostos e mostrou como a Rede Globo conseguiu uma saída jurídica, aproveitando-se da aprovação no Congresso da Medida Provisória 783, que aumentou as vantagens para as empresas sonegadoras, que puderam se livrar de 99% das multas e dos juros.
Mas neste ponto, como diriam os geniais compositores Haroldo Barbosa e Luiz Reis (no samba “Notícia de Jornal”, que Chico Buarque regravou), “a notícia carece de exatidão“. Realmente, na ânsia de incriminar a Globo, a Record acabou extrapolando.
LIBEROU GERAL – Na incriminadora matéria, ficou parecendo que a MP foi criada para beneficiar a Globo, mas na verdade favoreceu indistintamente todas as sonegadoras, inclusive empresas pertencentes ao relator da MP na Câmara, deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-RJ), responsável pela ampliação do perdão às multas e juros. A ilação foi um exagero da Record, a reportagem já estava explosiva demais, não era necessário extrapolar.
Outra overdose da matéria foi dar a entender que Palocci estava se referindo à Globo quando falou em uma grande empresa de comunicação prestes a falir. Desculpem os colegas da Record (que já estiveram duas vezes em minha casa me entrevistando sobre irregularidades cometidas por Roberto Marinho no caso da TV Paulista), mas esta foi a grande mancada da denúncia. Ao depor, Palocci estava se referindo ao grupo SBT, de Silvio Santos, não estava citando a Rede Globo, altamente superavitária, jamais esteve ameaçada de falência, isso só pode ser Piada do Ano.
MANCADA DA RECORD – No depoimento ao juiz Sérgio Moro, Palocci contou o milagre, mas não citou o santo, como se dizia antigamente. Ameaçado com a iminente falência do Banco PanAmericano em 2009, Silvio Santos foi ao Planalto e conseguiu ser salvo pelo então presidente Lula da Silva, que mandou a Caixa Econômica comprar por R$ 739,2 milhões parte da massa falida do PanAmericano (49% das ações ordinárias e mais 20,69% das ações preferenciais).
Considerando os dois tipos de ações, a Caixapar passou a deter 35,54% do capital total do banco, que só não sofreu intervenção do Banco Central por ter se tornado uma instituição financeira estatal – portanto, imune à falência. Na época, isso deveria ter sido um escândalo enorme, mas a mídia estava silenciada pela generosidade de Lula com a propaganda oficial.
Resumindo: a matéria da Record foi importante, impactante e relevante, mas pecou também pelo exagero. Não é assim que se faz jornalismo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em 2009, eu consegui informações exclusivas sobre o escândalo da estatização do Banco PanAmericano, procurei diversos jornais e revistas, ninguém se interessou. O escândalo é muito pior do que vocês pensam. Depois eu conto, como dizia Ibrahim Sued. (C.N.)
17 de julho de 2017
Carlos Newton
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