"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

NO RIO, AS CRIANÇAS JÁ NASCEM BALEADAS NO ÚTERO DA MÃE

Rio - Confesso que fiquei em dúvida quanto a escolher entre dois temas para escrever. Se gastaria meu tempo para falar sobre o Lula, agora condenado a nove anos e seis meses de cadeia por corrupção, ou da falência financeira e da insegurança do Rio de Janeiro. 
Achei mais interessante abordar a decadência da Cidade Maravilhosa (?), já que o ex-presidente agora virou literalmente um caso de polícia. Na história republicana já vimos muitas coisas de presidentes: renúncia, suicídio e até impeachment. 
Mas esta é a primeira vez que um ex-presidente é condenado por suborno. Portanto, o caso de Lula, o chefe da organização criminosa que saqueou os cofres públicos, é agora um problema do sistema penal brasileiro que o receberá em um do seus presídios.

Nunca imaginei escrever um artigo com o título acima sobre o Rio de Janeiro, a cidade que todos os brasileiros aprenderam a amar e apreciar pela sua beleza natural. Habitada por um povo hospitaleiro e amável, o Rio do carioca espirituoso e solidário, é hoje um local em ruína, fruto das más administrações dos últimos quarenta anos. Diria até que não é só isso, mas também da irreverência do carioca quando deixou de levar a sério o voto, tratando-o com desdém como se isso fosse desprezível numa democracia. 
A prova mais eloquente disso – e até hoje a população paga um preço caro – foi a votação que o macaco Tião, do Zoológico, teve: 400 mil votos, ficando em terceiro lugar na eleição para prefeito do Rio.

Vivia-se naquela época, 1988, o voto de protesto pós-ditadura. Tião, de 1,52 e 70 kg, celebridade, teve direito até música de Ed Motta no lançamento da sua candidatura e depois foi parar no Guinness World Records como o chimpanzé a receber mais votos no mundo. Morreu de diabetes, em dezembro de 1996, aos 34 anos, homenageado com luto oficial de 3 dias no Rio de Janeiro. 
De lá pra cá, o Rio não se aprumou mais. Naquele mesmo ano, o macaco assistiu de seu gabinete no Zoológico a falência financeira da cidade decretada por Saturnino Braga, e apavorou-se com a incapacidade administrativa e inapetência de seu adversário no cargo de prefeito.

O Tião não assumiu a prefeitura porque, como se sabe, ficou em terceiro lugar. Mas se tivesse vencido a eleição, certamente teria feito um papel melhor do que os governantes cacarecos que já passaram por aqui. Até hoje o Rio se recente disso: de não ter, à época, a tropa do Tião à frente da sua administração. Sou capaz de apostar que o chimpanzé teria sido um governante melhor do que os que passaram por aqui nesses últimos anos: Chagas Freitas, Brizola, Moreira Franco, Marcelo Alencar, Sérgio Cabral e Pezão (Veja só: Pezão!!). 
Pelo que você viu dessa lista, fica evidente que os eleitores do Rio, infelizmente, só votaram em coisas inúteis nas últimas décadas, depois que se frustraram com a derrota do Tião.





O jeito irreverente do carioca de brincar com o voto não deu certo. O que se assiste agora é o Rio mergulhado numa dramática tragédia, mesmo depois dos bilhões de reais investidos em infraestrutura para o PanAmericano, a Copa e os Jogos Olímpicos. 
O ex-governador Sérgio Cabral está preso, acusado de assaltar os cofres públicos, e o Pezão, seu comparsa, decretou a falência do Estado. 
Os servidores públicos continuam com os salários atrasados, humilhados, mendigando cestas básicas. E a sua principal universidade, a UERJ, desmoronou-se, vive no caos.

Mas se você acha que essa calamidade acima é o fim dessa história, veja mais: a segurança pública faliu, entrou em profunda indigência. Nessa altura do campeonato ninguém sabe quem é polícia ou quem é bandido, contrariando a máxima do assaltante de banco, na década de 1970, Lúcio Villar Lírio, de que “bandido é bandido, polícia é polícia”. 

Aqui, principalmente na periferia, as crianças são baleadas dentro do útero da mãe, como aconteceu com Arthuzinho, ainda entre a vida e a morte depois de ferido com um tiro na barriga da mãe. Se escapar, coitado!, ficará com sequelas para o resto da vida.

E ainda tem gente que se arrepia com os crimes do Estado Islâmico. Bobagem, o povo do Rio vive na mais lamentável guerra civil, onde a atrocidade é um filme com cenas vivas, em preto e branco, nos locais mais carentes do Estado sem que nenhuma autoridade mexa um só músculo da cara desavergonhada. 
Se você ainda não sentiu náuseas lendo esse artigo diante de tanta violência, bestialidade, e abandono administrativo nessa tumba coletiva, veja esta estatística da própria secretaria de Segurança Pública, publicada pelo Globo, de crimes contra turistas:

Foram registrados 6.494 assaltos contra turistas entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017, isso equivale a um assalto a visitante a cada 1 hora e 34 minutos. Os principais locais mais violento, cartões postais: Copacabana 2.492 assaltos, Ipanema 1.467 e Centro 741. Nas praias foram cometidos 2.816 assaltos e em via pública 2.263. O turismo no Rio teve uma queda de receita de 768 milhões de janeiro a abril deste ano, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio.

Não vamos falar aqui nos quase quinze tiroteios diários, nas balas perdidas (35 mortos este ano), no tráfico de drogas e no assalto a cargas nas estradas. Lamentável, mas é chover no molhado. 
Diante de tanto desmando, será que o carioca ainda não entendeu que o voto não é cacareco? Ou ainda continua procurando o seu chimpanzé estimação?

Com a palavra os 400 mil eleitores do Tião.



17 de julho de 2017
jorge oliveira

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