As aparências enganam, ninguém pode negar, trata-se de um ditado que tem base na realidade. Deve-se notar que na política este fenômeno ocorre com impressionante frequência, é preciso estar atento para não se iludir com as aparências, como estava ocorrendo no caso do julgamento da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Na sexta-feira à noite, a cúpula do governo festejou efusivamente o resultado, como se daqui para a frente tudo passasse a ser diferente, no estilo Roberto Carlos. Na verdade, o inferno astral de Temer e de seu governo estava apenas começando. E a tendência é o clima piorar irreversivelmente.
Antes mesmo de o julgamento começar, no Planalto todos já sabiam o resultado, a ministro Gilmar Pilatos Mendes sempre teve a situação sob controle, estava tudo dominado. Apesar de não ter sido surpresa, é claro que a “absolvição” foi um alívio para o governo e tinha de ser comemorada. Mas o clima de alegria só durou algumas horas, porque na madrugada de sábado a Veja acabou com a festa, ao publicar uma explosiva matéria dos repórteres Robson Bonin, Marcela Mattos e Thiago Bronzatto, denunciando que o Planalto mandara a Abin devassar a vida do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.
ACREDITAR EM TEMER? – O presidente Temer ligou para a ministra Cármen Lúcia, negando que tivesse dado ordem para espionar Fachin, mas a presidente do Supremo não acreditou nele e divulgou uma pesada nota oficial de protesto. Temer reclamou de novo e na segunda-feira Cármen Lúcia soltou outra nota, mas macia, digamos assim.
Voltando ao sábado, foi um verdadeiro festival contra Temer. Na revista Época, o jornalista Diego Escosteguy divulgou a existência de outra gravação feita por Joesley Batista com Temer, num segundo encontro que o presidente teve com o empresário. E o repórter Jailton de Carvalho revelou em O Globo que a denúncia contra Temer no Supremo vai incluir o novo depoimento do doleiro Lúcio Funaro, que operava para Eduardo Cunha e o PMDB na distribuição da propinas.
Para culminar, no mesmo sábado o vice-procurador eleitoral Nicolao Dino anunciou que apresentará recurso ao Supremo para anular o julgamento do TSE ou reverter o resultado.
CLIMA DE VELÓRIO – Embora o presidente Temer e os ministros mais próximos tentassem demonstrar otimismo, as notícias negativas foram se acumulando e o Planalto iniciou a semana em clima de velório. Além do recurso do procurador Dino, que não engoliu as ofensas que lhe foram feitas no julgamento pelo Pilatos de Diamantino, nesta segunda-feira (dia 12) o partido Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, se adiantou e foi logo apresentando uma reclamação ao Supremo, arguindo a nulidade do julgamento.
Simultaneamente, o ministro Edson Fachin decidiu prorrogar por mais cinco dias o prazo para que a Polícia Federal encerre a investigação sobre o presidente Temer. Em tradução simultânea, isso significa que dentro de mais alguns dias o procurador-geral Rodrigo Janot estará apresentando a denúncia formal ao Supremo, pedindo formalmente a abertura de processo penal contra o presidente da República.
172 VOTOS – Para evitar o processo, o presidente abriu os cofres e voltou a fazer nomeações, porque precisa garantir 172 votos na Câmara Federal. Nessa manobra para escapar da cassação no Supremo, Temer conta com o fisiologismo dos deputados. É possível que consiga os 172 votos, mas pouco provável, porque a votação será aberta, cada deputado terá de usar o microfone em transmissão direta, ao vivo e a cores, para dizer que – “em nome de Deus, da família, de minha mãezinha etc.” – vai votar a favor ou contra o processo contra o presidente.
Detalhe importantíssimo: na Câmara, não vai prosperar aquela justificativa que Gilmar Mendes usou no TSE sobre os supostos riscos que o país correria com uma nova troca de governante. Os deputados sabem que Temer já faz tempo não governa, tudo o que faz é se defender. Quem governa é Henrique Meirelles, que deu entrevista avisando que continuará no cargo se Temer sair, e o ministro da Fazenda não fez esta declaração da boca para fora, como se dizia antigamente. Estava calçado, caso contrário não fazê-la-ia (olha a mesóclise aí, gente!).
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PS – Até as pilastras do Palácio do Planalto sabem que desde o regime militar o país é conduzido pelo “Sistema”, que nos últimos anos passou a ser conhecido pelo codinome “Mercado”. Tanto um quanto outro estão pouco ligando para o que aconteça a Michel Temer. Recentemente, a Bélgica ficou quase dois anos sem governante, por falta de entendimento entre os partidos políticos, e não aconteceu rigorosamente nada. O Brasil, que gosta de imitar os países estrangeiros, vai na mesma balada. Com Temer ou sem Temer, já não faz a menor diferença. (C.N.)
PS – Até as pilastras do Palácio do Planalto sabem que desde o regime militar o país é conduzido pelo “Sistema”, que nos últimos anos passou a ser conhecido pelo codinome “Mercado”. Tanto um quanto outro estão pouco ligando para o que aconteça a Michel Temer. Recentemente, a Bélgica ficou quase dois anos sem governante, por falta de entendimento entre os partidos políticos, e não aconteceu rigorosamente nada. O Brasil, que gosta de imitar os países estrangeiros, vai na mesma balada. Com Temer ou sem Temer, já não faz a menor diferença. (C.N.)
14 de junho de 2017
Carlos Newton
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