“Desculpe, a Odebrecht errou”. Assim começa o anúncio de duas páginas que a maior empreiteira do país publicou nos jornais de sexta-feira (2). Na propaganda, a empresa “reconhece que participou de práticas impróprias”.
“Não importa se cedemos a pressões externas”, prossegue o texto, insinuando que os empresários corruptores foram forçados a financiar os políticos corruptos. “Foi um grande erro, uma violação dos nossos próprios princípios, uma agressão a valores consagrados de honestidade e ética”, continua o comunicado.
O discurso pode sugerir arrependimento, mas é apenas marketing. Há um ano e meio, a mesma empresa manifestava “indignação com as ordens de prisão de cinco de seus executivos”. “A Odebrecht nega ter participado de qualquer cartel”, dizia a peça publicitária de junho de 2015.
UM NOVO CONTEXTO – Entre as duas propagandas, publicadas em formato idêntico, o que mudou foi o contexto. A construtora esperava se safar de bico calado, mas foi atropelada por um caminhão de provas e teve que negociar um acordo de delação com a Lava Jato.
As investigações revelaram que a empresa mantinha um departamento exclusivo para o pagamento de propina. Suas planilhas ligam valores milionários a mais de 300 políticos de todos os grandes partidos.
Um pedido de desculpas pode ser melhor do que nenhum, mas seria melhor se a Odebrecht, em vez de posar de Madalena arrependida, fosse direto ao ponto. Num comunicado objetivo, poderia dizer quem subornou, quanto pagou e que obras fraudou, embolsando dinheiro público.
MAIS ILUSÃO – O anúncio desta sexta-feira ainda ilude os leitores ao sugerir que os malfeitos recentes destoaram do histórico de “princípios” da empresa. Velha freguesa do noticiário de corrupção, a Odebrecht deve sua força à ditadura militar.
Apoiada pelo regime, saltou do 19º lugar para o topo do ranking do setor. Numa curiosa coincidência, a escalada começou com a construção do edifício-sede da Petrobras.
05 de dezembro de 2016
Bernardo Mello Franco
Folha
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