Os movimentos populares espontâneos que se realizaram nas capitais do país, a exemplo das concentrações da Avenida Atlântica e da Avenida Paulista, simbolizaram voz firme e forte das ruas contra a corrupção e os ardis de Renan Calheiros e Rodrigo Maia, para conter e até tentar dissolver a Operação Lava-Jato e suas consequências concretas. O vigor das ruas contrastou com a posição genérica do governo Michel Temer sobre mais esse episódio de repúdio às clássicas manobras políticas para fugir à realidade dos fatos. A Globonews, na tarde de domingo, divulgou um frio e distante comunicado do Palácio do Planalto, não indo ao encontro da vontade da planície.
O que o povo esperava, do presidente da república, era, como fez em relação à manobra do caixa dois, o anúncio do veto exigido pela sociedade brasileira. Estava no pensamento de todos. Mas, em vez disso, de assumir uma posição clara, o Executivo, também mais uma vez, tentou sair pela tangente. Impossível. Recusou-se a enfrentar a questão. Certamente agora encontra-se empenhado numa articulação para buscar um recuo que coloque em suas mãos a caneta do veto final.
NUM IMPASSE – Michel Temer, me parece, é um articulador dos bastidores, na sombra dos acontecimentos para reduzir seus impactos. Dessa vez, porém, não conseguiu: encontra-se entre perder ainda mais a opinião pública ou deixar para segundo plano sua frágil base parlamentar. Perdeu o espaço de manobra, deixou escapar a linha na estrada do recuo. Tem que enfrentar o dilema.
Os fatos convergem para uma definição inevitável. Contra ele, além das ruas nas quais o povo vai perdendo esperança de melhora, posiciona-se também até o PSDB.
TUCANOS SE RETRAEM – Reportagem de Pedro Venceslau, Erich Decat e Sônia Racy, O Estado de São Paulo de sábado, revelou que o presidente Michel Temer ofereceu a pasta da articulação política ao PSDB, antes ocupada por Geddel. O PSDB recusou. Ele quer, no fundo, nomear Armínio Fraga para o Planejamento, passando assim a dividir o comando da economia com Henrique Meirelles. Se for aceita a reivindicação, tal lance é de alto risco porque encontra-se exatamente em Henrique Meirelles a verdadeira peça de sustentação do próprio governo. Se ele deixar a Fazenda, a meu ver o governo afasta-se do plano de gravidade. Política vai para o espaço. Perde sua órbita.
Na realidade, voltando ao tema corrupção, Michel temer somente possui uma saída: anunciar o veto antecipado à hipótese de Renan e Rodrigo Maia conseguirem aprovar o projeto que desfere, isso sim, uma bofetada na face da sociedade brasileira. Transforma a Nação num rebanho de excluídos ilegalmente, ao mesmo tempo em que consagra bandos de corruptos e suspeitos de corrupção.
NUVEM DA ILUSÃO – E o país assim ingressa na nuvem da ilusão, justamente poucos dias depois de a Odebrecht firmar sua delação premiada, portanto a véspera de serem publicados os nomes daqueles que receberam seu dinheiro e contribuíram direta ou indiretamente para elevar ao máximo os contratos superfaturados. O prejuizo financeiro foi enorme, como a própria Odebrecht confirmou e divulgou.
O espaço está cada vez menor para o Palácio do Planalto. Temer francamente só tem um caminho: ir ao encontro do povo. Não possui outra opção: ou o veto ou nada.
05 de dezembro de 2016
Pedro do Coutto
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