O Reino Unido se tornou o primeiro país a sair do bloco de 28 países europeus, provocando uma imensa onda de instabilidade, incertezas, tristeza, espanto, críticas e ressaca nos mercados globais.
Sua repentina saída da União Europeia acelera o desaparecimento da maior tentativa integracionista já vista na história da Humanidade, levando uma das democracias mais antigas do planeta a um abismo econômico, político e financeiro.
A nação saiu literalmente mutilada das urnas do Brexit e, infelizmente, o populismo desvairado e irresponsável venceu o cosmopolitismo, a globalização e a integração
A situação começa a ser debatida com mais intensidade entre os analistas do mercado financeiro, ao verificarem como esta desgarrada poderá trazer possíveis consequências para a economia brasileira, com reflexos no médio prazo, à medida que o afastamento se consolidar, embora o nosso futuro esteja mais dependente de nós mesmos do que do resto do mundo.
Algumas reflexões convergem para alguns pontos que guardam relativo consenso, iniciando-se pelo dólar, já que, nesses instantes iniciais, poderemos inclusive presenciar uma fuga de divisas para o mercado americano, permitindo com isso a sua valorização frente às principais moedas do mundo.
Uma vez que o mercado global mantém-se apetecido por dólar, consequentemente é natural que surja uma desvalorização do real. Não fica descartada a hipótese de que ocorram pequenas flutuações, o que poderá vir a protelar, ao menos no curto prazo, uma valorização mais consistente do real. A moeda americana mais valorizada nos conduz ao que, particularmente, intitulo de um “conjunto de emoções” em nossa economia a partir de alguns pressupostos factíveis.
Caso o real venha a se desvalorizar por um tempo maior que o provável, com certeza isso influenciará negativamente nossa inflação, mas se fará notar com rigor se o dólar retornar a um patamar girando em torno de R$ 3,60 a R$ 3,70. Portanto, abaixo disso, no presente, podemos admitir que este ativo esteja razoavelmente precificado.
Uma valorização do real como vem de modo aparente se delineando, poderia contribuir essencialmente na diminuição dos custos de alguns produtos e, portanto, auxiliar a baixar a inflação.
Com esta posição assumida pelo Reino Unido, possivelmente, deveremos ter esse processo prorrogado. Dessa forma, indiretamente, essa fragmentação poderá prejudicar um pouco a nova política econômica contra a inflação em andamento.
Outra questão importante é quando se verifica uma generalizada queda nos preços das commodities. Por que isso acontece? Em função de que grande parte dos produtos agrícolas (soja, milho, farelos etc.), que se destacam pela sua maior circulação, tem seus preços estabelecidos em dólar.
Se o dólar torna-se mais caro, as commodities, da mesma forma, encarecem no ato da conversão para nossa moeda.
Muitas vezes, o mercado se incumbe de trazer esses preços ao ponto de equilíbrio, ocasionando um declínio nos preços dos produtos cotados em dólares.
Dessa forma, existe uma vinculação muito acentuada no dólar subindo e os preços das commodities caindo; dólar caindo e os preços das commodities subindo. Portanto, com relação ao nosso país, o que se torna exequível é uma queda nas cotações dos produtos do setor, colaborando para amenizar nosso ambiente inflacionário.
Diante dessa mutação apresentada, é possível que se perceba por que a valorização do dólar é um “conjunto de emoções” que nos leva naturalmente a algumas indagações: vai aquecer ou não a inflação? Nossa moeda vai se depreciar? Qual será o comportamento nos preços das commodities? Parece-me difícil fazer uma previsão, especialmente se quisermos enxergar os horizontes de médio e longo prazo.
Ainda sobre os EUA, há fortes indícios de que o FED (Banco Central americano) não venha, por enquanto, como estava sendo divulgado pela mídia econômica, voltar a aumentar sua taxa básica de juros.
Talvez porque passaram a entender que a “cautela” diante de algumas expectativas em função dos últimos dados internos aliados aos globais, seja, contextualmente, o melhor posicionamento para o equilíbrio na sua recuperação econômica.
Torna-se até benéfico para nós, porque se abre uma janela para atrair investidores dispostos a enfrentar com mais apetite o risco, visando ganhos e, desse modo, o Brasil passa a ser uma opção para se investir.
A principal dúvida levantada sobre esta situação é que parte desses investimentos possa ser direcionada para países que já firmaram, com certa rapidez, acordos comerciais com o Reino Unido.
Ou até mesmo, aqueles que desfrutam de uma posição mais tranquila dentro dos aspectos político e econômico.
Temos que ser proativos e devidamente céleres em promover parcerias que já deveriam ter sido realizadas pelos últimos desgovernos que não tiveram competência em fazer acontecer. Só dessa forma deveremos marcar presença à frente dos possíveis concorrentes.
Um setor importantíssimo que é inevitável estar envolvido neste acordo é o de alimentos. O Reino Unido produz muito pouco, sobretudo itens essenciais como soja e milho.
Aliás, as regulações locais permitem mais flexibilidade que as da União Europeia.
Em função disso, seria interessante estabelecer um tratado bilateral com o Reino Unido visando favorecer parcialmente a nossa recuperação econômica, mesmo que seja timidamente, estendendo-se a outros setores também atraentes.
Quanto aos juros domésticos, o cenário por aqui está meio indefinido. Especula-se que eles tenham o início de uma queda um pouco antes do final deste exercício, porventura diante do recuo da inflação, devido à fraqueza da atividade econômica, dos avanços do lado fiscal, da política monetária global mais expansionista e se o Executivo e o Legislativo entregarem as medidas fiscais convincentes que prometeram.
Tudo indica, entretanto, que isso não deverá acontecer de forma substancial, embora ainda não se esteja admitindo uma desvalorização vigorosa do real que venha a turbinar os preços.
Quanto à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), noto nela, igualmente, outro “conjunto de emoções”. Caso o real venha a se desvalorizar, poderemos atrair o investidor estrangeiro para aplicar em nossa moeda, em razão de que as ações ficarão mais descontadas, em dólares.
Na realidade, os fatores que mais influenciarão para nós, nos próximos meses, são os laços que cercam a política e a economia.
É imprescindível ficar bastante nítido para os brasileiros como este novo governo vai conseguir dominar esta situação, com indivíduos ocupando o alto escalão da República e envolvidos até o pescoço em graves escândalos de corrupção.
A nossa economia continua a se deteriorar lentamente e as propaladas reformas estruturais indispensáveis ainda estão completamente pendentes. Para muitos economistas, financistas e analistas econômicos partícipes do mercado financeiro, estas questões deverão ser um dos grandes balizadores da Bolsa nacional.
Acabamos de assistir há dias atrás, um referendo que atraiu a atenção mundial e, pelo visto, vários ingleses já admitem que mudaram suas opiniões deixadas nas urnas.
Se este arrependimento se cristalizar no curto prazo, durante a tramitação legal exigida pela apartação, é plausível que o Reino Unido venha a estabelecer um canal de negociação com a União Europeia para continuar incorporado ao bloco econômico através do consenso, na alteração de algumas regras que julgarem apropriadas sem desconhecer jamais as obrigações necessárias.
No que toca ao Brasil, se alguns ministérios junto com o Itamaraty encetarem uma articulação estrategicamente bem direcionada, poderemos, sem dúvida, desfrutar juntamente com o Reino Unido de uma relação econômica vantajosa, até mesmo estando ele ausente da União Europeia.
Logicamente existem empecilhos e, pelo que se sabe, eles não são poucos, devido a um efeito contaminador que incentiva vários países a também deixarem a União Europeia. Esta, sim, é a questão mais inquietante de todas.
O Reino Unido poderá sofrer dolorosas consequências com sua saída do bloco logo neste segundo semestre, com a queda no seu PIB (Produto Interno Bruto), elevação de impostos e o corte nos gastos com o propósito de estabilizar as contas públicas, sendo que o aumento do desemprego e da inflação somente surgirá com mais agressividade no próximo ano.
Nesse caso, a consequência deverá ser extremamente nociva para a economia global, já que poderá haver uma fuga generalizada para os mercados de investimentos americano e alemão. Então, caso isso venha a acontecer, deverá surgir um novo espaço para que o Banco Central americano venha a avançar na sua taxa básica de juros. Nesse contexto, com essa atitude, não se pode desprezar a China que também sofrerá em suas exportações.
Na verdade, não se pode desconhecer os riscos políticos com relação ao comércio internacional e, por conseguinte, ao desenvolvimento global.
O Brasil é um dos elos desse mecanismo e, atualmente, está carente de uma perfeita integração que poderia contribuir consideravelmente para tentar vencer esta seriíssima crise em que está envolvido.
07 de julho de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
Sua repentina saída da União Europeia acelera o desaparecimento da maior tentativa integracionista já vista na história da Humanidade, levando uma das democracias mais antigas do planeta a um abismo econômico, político e financeiro.
A nação saiu literalmente mutilada das urnas do Brexit e, infelizmente, o populismo desvairado e irresponsável venceu o cosmopolitismo, a globalização e a integração
A situação começa a ser debatida com mais intensidade entre os analistas do mercado financeiro, ao verificarem como esta desgarrada poderá trazer possíveis consequências para a economia brasileira, com reflexos no médio prazo, à medida que o afastamento se consolidar, embora o nosso futuro esteja mais dependente de nós mesmos do que do resto do mundo.
Algumas reflexões convergem para alguns pontos que guardam relativo consenso, iniciando-se pelo dólar, já que, nesses instantes iniciais, poderemos inclusive presenciar uma fuga de divisas para o mercado americano, permitindo com isso a sua valorização frente às principais moedas do mundo.
Uma vez que o mercado global mantém-se apetecido por dólar, consequentemente é natural que surja uma desvalorização do real. Não fica descartada a hipótese de que ocorram pequenas flutuações, o que poderá vir a protelar, ao menos no curto prazo, uma valorização mais consistente do real. A moeda americana mais valorizada nos conduz ao que, particularmente, intitulo de um “conjunto de emoções” em nossa economia a partir de alguns pressupostos factíveis.
Caso o real venha a se desvalorizar por um tempo maior que o provável, com certeza isso influenciará negativamente nossa inflação, mas se fará notar com rigor se o dólar retornar a um patamar girando em torno de R$ 3,60 a R$ 3,70. Portanto, abaixo disso, no presente, podemos admitir que este ativo esteja razoavelmente precificado.
Uma valorização do real como vem de modo aparente se delineando, poderia contribuir essencialmente na diminuição dos custos de alguns produtos e, portanto, auxiliar a baixar a inflação.
Com esta posição assumida pelo Reino Unido, possivelmente, deveremos ter esse processo prorrogado. Dessa forma, indiretamente, essa fragmentação poderá prejudicar um pouco a nova política econômica contra a inflação em andamento.
Outra questão importante é quando se verifica uma generalizada queda nos preços das commodities. Por que isso acontece? Em função de que grande parte dos produtos agrícolas (soja, milho, farelos etc.), que se destacam pela sua maior circulação, tem seus preços estabelecidos em dólar.
Se o dólar torna-se mais caro, as commodities, da mesma forma, encarecem no ato da conversão para nossa moeda.
Muitas vezes, o mercado se incumbe de trazer esses preços ao ponto de equilíbrio, ocasionando um declínio nos preços dos produtos cotados em dólares.
Dessa forma, existe uma vinculação muito acentuada no dólar subindo e os preços das commodities caindo; dólar caindo e os preços das commodities subindo. Portanto, com relação ao nosso país, o que se torna exequível é uma queda nas cotações dos produtos do setor, colaborando para amenizar nosso ambiente inflacionário.
Diante dessa mutação apresentada, é possível que se perceba por que a valorização do dólar é um “conjunto de emoções” que nos leva naturalmente a algumas indagações: vai aquecer ou não a inflação? Nossa moeda vai se depreciar? Qual será o comportamento nos preços das commodities? Parece-me difícil fazer uma previsão, especialmente se quisermos enxergar os horizontes de médio e longo prazo.
Ainda sobre os EUA, há fortes indícios de que o FED (Banco Central americano) não venha, por enquanto, como estava sendo divulgado pela mídia econômica, voltar a aumentar sua taxa básica de juros.
Talvez porque passaram a entender que a “cautela” diante de algumas expectativas em função dos últimos dados internos aliados aos globais, seja, contextualmente, o melhor posicionamento para o equilíbrio na sua recuperação econômica.
Torna-se até benéfico para nós, porque se abre uma janela para atrair investidores dispostos a enfrentar com mais apetite o risco, visando ganhos e, desse modo, o Brasil passa a ser uma opção para se investir.
A principal dúvida levantada sobre esta situação é que parte desses investimentos possa ser direcionada para países que já firmaram, com certa rapidez, acordos comerciais com o Reino Unido.
Ou até mesmo, aqueles que desfrutam de uma posição mais tranquila dentro dos aspectos político e econômico.
Temos que ser proativos e devidamente céleres em promover parcerias que já deveriam ter sido realizadas pelos últimos desgovernos que não tiveram competência em fazer acontecer. Só dessa forma deveremos marcar presença à frente dos possíveis concorrentes.
Um setor importantíssimo que é inevitável estar envolvido neste acordo é o de alimentos. O Reino Unido produz muito pouco, sobretudo itens essenciais como soja e milho.
Aliás, as regulações locais permitem mais flexibilidade que as da União Europeia.
Em função disso, seria interessante estabelecer um tratado bilateral com o Reino Unido visando favorecer parcialmente a nossa recuperação econômica, mesmo que seja timidamente, estendendo-se a outros setores também atraentes.
Quanto aos juros domésticos, o cenário por aqui está meio indefinido. Especula-se que eles tenham o início de uma queda um pouco antes do final deste exercício, porventura diante do recuo da inflação, devido à fraqueza da atividade econômica, dos avanços do lado fiscal, da política monetária global mais expansionista e se o Executivo e o Legislativo entregarem as medidas fiscais convincentes que prometeram.
Tudo indica, entretanto, que isso não deverá acontecer de forma substancial, embora ainda não se esteja admitindo uma desvalorização vigorosa do real que venha a turbinar os preços.
Quanto à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), noto nela, igualmente, outro “conjunto de emoções”. Caso o real venha a se desvalorizar, poderemos atrair o investidor estrangeiro para aplicar em nossa moeda, em razão de que as ações ficarão mais descontadas, em dólares.
Na realidade, os fatores que mais influenciarão para nós, nos próximos meses, são os laços que cercam a política e a economia.
É imprescindível ficar bastante nítido para os brasileiros como este novo governo vai conseguir dominar esta situação, com indivíduos ocupando o alto escalão da República e envolvidos até o pescoço em graves escândalos de corrupção.
A nossa economia continua a se deteriorar lentamente e as propaladas reformas estruturais indispensáveis ainda estão completamente pendentes. Para muitos economistas, financistas e analistas econômicos partícipes do mercado financeiro, estas questões deverão ser um dos grandes balizadores da Bolsa nacional.
Acabamos de assistir há dias atrás, um referendo que atraiu a atenção mundial e, pelo visto, vários ingleses já admitem que mudaram suas opiniões deixadas nas urnas.
Se este arrependimento se cristalizar no curto prazo, durante a tramitação legal exigida pela apartação, é plausível que o Reino Unido venha a estabelecer um canal de negociação com a União Europeia para continuar incorporado ao bloco econômico através do consenso, na alteração de algumas regras que julgarem apropriadas sem desconhecer jamais as obrigações necessárias.
No que toca ao Brasil, se alguns ministérios junto com o Itamaraty encetarem uma articulação estrategicamente bem direcionada, poderemos, sem dúvida, desfrutar juntamente com o Reino Unido de uma relação econômica vantajosa, até mesmo estando ele ausente da União Europeia.
Logicamente existem empecilhos e, pelo que se sabe, eles não são poucos, devido a um efeito contaminador que incentiva vários países a também deixarem a União Europeia. Esta, sim, é a questão mais inquietante de todas.
O Reino Unido poderá sofrer dolorosas consequências com sua saída do bloco logo neste segundo semestre, com a queda no seu PIB (Produto Interno Bruto), elevação de impostos e o corte nos gastos com o propósito de estabilizar as contas públicas, sendo que o aumento do desemprego e da inflação somente surgirá com mais agressividade no próximo ano.
Nesse caso, a consequência deverá ser extremamente nociva para a economia global, já que poderá haver uma fuga generalizada para os mercados de investimentos americano e alemão. Então, caso isso venha a acontecer, deverá surgir um novo espaço para que o Banco Central americano venha a avançar na sua taxa básica de juros. Nesse contexto, com essa atitude, não se pode desprezar a China que também sofrerá em suas exportações.
Na verdade, não se pode desconhecer os riscos políticos com relação ao comércio internacional e, por conseguinte, ao desenvolvimento global.
O Brasil é um dos elos desse mecanismo e, atualmente, está carente de uma perfeita integração que poderia contribuir consideravelmente para tentar vencer esta seriíssima crise em que está envolvido.
07 de julho de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
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