ARTIGOS - GLOBALISMO
O Islã, alerta o autor de best-sellers argelino Boualem Sansal, irá dividir a sociedade européia. Em umaentrevista concedida à mídia alemã, esse corajoso escritor árabe pintou um quadro da Europa subjugada pelo Islã radical.
Ayaan Hirsi Ali, autora que teve de fugir da Holanda para os EUA. |
O Islã, alerta o autor de best-sellers argelino Boualem Sansal, irá dividir a sociedade européia. Em umaentrevista concedida à mídia alemã, esse corajoso escritor árabe pintou um quadro da Europa subjugada pelo Islã radical.
De acordo com Sansal, os ataques terroristas em Paris e Bruxelas estão direcionados ao modo de viver ocidental: "vocês não conseguem nem derrotar os fracos estados árabes, então eles trouxeram os quintas colunas para que o Ocidente se autodestrua. Se tiverem sucesso a sociedade cairá".
O Sr. Sansal, que vem sendo ameaçado de morte, pertence a um crescente contingente de dissidentes muçulmanos. Eles compõem o melhor movimento de libertação para milhões de muçulmanos que aspiram praticar sua fé pacificamente, sem terem que se submeter aos ditames de fundamentalistas e fanáticos.
O Sr. Sansal, que vem sendo ameaçado de morte, pertence a um crescente contingente de dissidentes muçulmanos. Eles compõem o melhor movimento de libertação para milhões de muçulmanos que aspiram praticar sua fé pacificamente, sem terem que se submeter aos ditames de fundamentalistas e fanáticos.
Esses muçulmanos dissidentes aspiram alcançar a liberdade de consciência, coexistência entre religiões, pluralismo na esfera política, direito de criticar o Islã e respeito à vigência do estado de direito. Para o mundo islâmico a mensagem dos muçulmanos dissidentes pode ser devastadora. É por isso que os islamistas estão à caça deles.
São sempre indivíduos que fazem a diferença, como por exemplo: Lech Walesa, que fez toda a diferença. A União Soviética foi derrotada por três pessoas apenas: Ronald Reagan, o Papa João Paulo II -- e os dissidentes. Quando o professor Robert Havemann faleceu na Alemanha Oriental, poucos ficaram sabendo. Este corajoso crítico do regime estava confinado em prisão domiciliar em Grünheide, sob os cuidados da Stasi. Mas o velho professor jamais se deixou intimidar. Ele continuou lutando pelos seus ideais.
O herói do anticomunismo tchecoslovaco, Jan Patočka, morreu sob pesado interrogatório policial. Patočka pagou com a vida o preço do silenciamento. Suas palestras brilhantes foram reduzidas a um seminário clandestino. A despeito de ser impedido de publicar, ele continuou trabalhando clandestinamente em um minúsculo apartamento.
Caçado pela KGB, Alexander Solzhenitsyn escreveu os capítulos do Arquipélago de Gulag entregando-os a amigos de confiança, de modo que nenhum deles tinha posse do manuscrito completo. Em 1973 havia apenas três cópias da obra. Quando a polícia política soviética extorquiu a datilógrafa Elizaveta Voronyanskya, para que ela delatasse um dos esconderijos, acreditando que a obra-prima estava perdida para sempre, ela se enforcou.
Hoje uma nova Cortina de Ferro está sendo construída pelo Islã contra o resto do mundo e os novos heróis são os dissidentes, os apóstatas, os heréticos, os rebeldes e os descrentes. Não é mera coincidência que a primeira vítima de uma fatwa tenha sido o escritor indiano/britânico Salman Rushdie, de família muçulmana.
Pascal Bruckner chamou-os de "os livres pensadores do mundo muçulmano". Nós devemos apoiá-los -- a todos os dissidentes. Porque se de um lado os inimigos da liberdade vêm de sociedades livres, aqueles que se ajoelham diante dos agentes de Alá, por outro alguns dos mais corajosos defensores da liberdade vêm dos regimes islâmicos. A Europa deveria dar apoio financeiro, moral e político a esses amigos da civilização ocidental, enquanto a nossa desonrosa elite, educada e intelectual, está ocupada difamando-os.
Por exemplo, o autor argelino Kamel Daoud, que chamou a Arábia Saudita de "ISIS que deu certo", recentemente causou uma confusão, sendo acusado de "islamofobia", por ter dirigido sua fúria contra um povo ingênuo, que ele diz ignora o abismo que separa o mundo muçulmano da Europa.
Outro exemplo, o jurista Afshin Ellian. exilado iraniano, atualmente na Holanda, trabalha na Universidade de Utrecht, e depois do assassinato de Theo Van Gogh, é protegido por guarda-costas. Após o massacre de Charlie Hebdo, enquanto a mídia europeia se empenhava em culpar os cartunistas "idiotas", Ellian promovia um apelo: "não deixem que os terroristas determinem os limites da liberdade de expressão".
Outra dissidente e autora corajosa, Ayaan Hirsi Ali teve que fugir da Holanda para os EUA, onde ela rapidamente se tornou uma das intelectuais mais proeminentes.
O prefeito marroquino de Roterdã Ahmed Aboutaleb, também vive sob proteção da polícia. Recentemente ele sugeriu aos seus 'companheiros' muçulmanos que protestavam contra as liberdades que encontraram no Ocidente que "fizessem as malas e se f...". Um cristão, heroico defensor dessas liberdades na Holanda, Geert Wilders, está sendo julgado sob a acusação de "discriminação". "Estou na prisão", disse ele, referindo-se aos locais seguros que ele tem que se esconder, "e eles passeiam por aí livremente".
Muitos desses dissidentes são mulheres. Shukria Barakzai, política e jornalista afegã, declarou guerra aos fundamentalistas islâmicos depois que polícia religiosa do Talibã a espancou por ela ter ousado sair sozinha sem uma escolta masculina. Um homem bomba detonou os explosivos amarrados ao seu corpo perto do carro dela, matando três pessoas. Kadra Yusuf, uma jornalista somali, se infiltrou em mesquitas de Oslo para criticar energicamente os imãs, principalmente no tocante à mutilação genital feminina, que sequer é exigida no Alcorão ou nos hádices (relatos sobre a vida de Maomé). No Paquistão, Sherry Rehman pediu "uma reforma nas leis paquistanesas que tratam da blasfêmia". Ela arrisca sua própria vida todos os dias. Ela é considerada pelos islamistas "adequada para ser morta" por ser mulher, muçulmana e ativista secular. A autora e psiquiatra síria/americana, Wafa Sultan, também foi considerada "descrente" merecendo morrer.
Recentemente o jornal Le Figaro publicou uma longa lista de personalidades muçulmano/francesas ameaçadas de "execução". "Colocadas sob permanente proteção policial, consideradas traidoras por fundamentalistas muçulmanos, vivem um inferno. Aos olhos dos islamistas, a liberdade dessas pessoas é um ato de traição à ummah (comunidade)". Elas são escritoras e jornalistas da cultura árabe/muçulmana que criticam a ameaça islamista e a violência inerente do Alcorão. Elas estão sozinhas contra o islamismo que usa o terrorismo concreto das Kalashnikovs e também contra o terrorismo intelectual que as submete à intimidação da mídia. Vistas como "traidoras" em suas comunidade, elas são acusadas pelas elites do Ocidente de "estigmatização".
A jornalista francesa Zineb El Rhazoui tem mais guarda-costas do que muitos ministros do governo de Manuel Valls e, por medida de segurança, vem mudando de casa com frequência nos últimos meses em Paris. Para esta jovem estudiosa, natural de Casablanca, que trabalha na revista semanal francesa Charlie Hebdo,caminhar pelas ruas de Paris se tornou algo inimaginável. Em 7 de janeiro de 2015 uma fatwa foi emitida que diz: "matem Zineb El Rhazoui para vingar o profeta".
Ameaças contra outra dissidente Nadia Remadna, não vêm de Raqqa na Síria, mas de sua própria cidade: Sevran, em Seine-Saint-Denis. Elas refletem a crescente influência dos islamistas nos territórios perdidos da República Francesa. Por qual "crime" ela foi considerada culpada? Ela criou a "Brigada da Mães" para combater a influência islamista sobre jovens muçulmanos.
O professor de filosofia, Sofiane Zitouni, teve que pedir demissão do emprego em uma escola muçulmana/francesa por conta do "islamismo insidioso".
O jornalista e ensaísta francês/argelino Mohamed Sifaoui, autor de diversas investigações sobre círculos islamistas, é vítima de dupla ameaça. Ele é alvo primordial tanto de fundamentalistas quanto dos "tolerantes" grandes inquisidores. Sentenciado a dois anos de prisão pelo regime argelino por ofensas à imprensa", depois assediado por islamistas, Sifaoui pediu asilo político na França em 1999, jamais voltando a por os pés na Argélia. Desde então Sifaoui tem visto sua foto e nome juntamente com as palavras "le mourtad", o apóstata em websites islamistas, o que quer dizer que ele está marcado para morrer. A proteção policial francesa em torno dele tem sido total desde 2006, quando ele defendeu a liberdade de expressão da revista satírica francesa Charlie Hebdo.
Cerca de quinze testemunhas prestaram depoimento a favor da revista Charlie Hebdo. Entre elas se encontrava o falecido ensaísta muçulmano/tunisiano Abdelwahab Meddeb, que teve a coragem de desafiar todo o establishment muçulmano/francês que tentou calar a revista Charlie Hebdo. Meddeb queria mostrar que "não se tratava de ninguém contra o Islã e sim o Islã evoluído contra o Islã atrasado."
Também na França, Hassen Chalghoumi, o corajoso imã de Drancy, prega usando um colete a prova de bala. Quando ele sai na rua cinco policiais o acompanham armados com armas semiautomáticas. Isso não está situado fora da Linha Verde de Bagdá, está sim no centro de Paris. Chalghoumi apoiou a proibição do uso das burcas; fez uma visita sem precedentes ao memorial do Holocausto em Jerusalém; prestou homenagem às vítimas da redação da revista Charlie Hebdo se posicionou a favor de um diálogo com os judeus franceses.
Naser Khader, muçulmano liberal com cidadania dinamarquesa, que defendeu "uma reforma muçulmana", autor do livro "Honra e Vergonha", está sendo ameaçado de morte por grupos islâmicos.
Na Itália, o escritor Magdi Cristiano Allam, natural do Egito, vive sob proteção de guarda-costas por ter criticado o Islã político. O editor adjunto do principal jornal da Itália, Corriere della Sera, Sr. Allam, publicou um livro cujo título apenas já seria o suficiente para por sua vida em perigo: "Viva Israele."
Ibn Warraq vive atrás de um pseudônimo desde que escreveu o influente livro "Porque Eu Não Sou Muçulmano".
O blogueiro palestino Walid Husayin também é uma raridade. Na prisão por ter "satirizado o Alcorão, ele publicou recentemente um livro na França sobre sua experiência nos territórios palestinos, onde seu "ateísmo" quase lhe custou a vida.
Na Tunísia há um punhado de produtores de cinema e intelectuais que lutam pela liberdade de expressão, especialmente depois que o líder secular da oposição Chokri Belaid, foi assassinado. Também Nadia El Fani, diretora de "Ni Allah ni maître" ("Nem Alá Nem Mestre"), e Nabil Karoui, diretor da TV Nessma, estão ameaçados de morte e sendo processados, acusados de "blasfêmia". A "Primavera Árabe" na Tunísia não se transformou em um inverno islamista, como em outros lugares, isso graças principalmente a esses dissidentes.
Esses heróis sabem o que aconteceu com seus antecessores em "a guerra contra os intelectuais árabes". Escritores como Tahar Djaout foram mortos em 1993 pelos islamistas na Argélia, bem como o jornalista Farag Foda, famoso pelas fortes sátiras sobre o fundamentalismo islâmico. Antes de seu assassinato, Foda foi acusado de "blasfêmia" pela grande mesquita de al-Azhar. Uma dozena de blogueiros bengaleses também foram assassinados a sangue frio pelos islamistas pelo "crime" de "secularismo".
No ano passado o Presidente do Egito Abdel Fattah al- Sisi defendeu a reforma do Islã e a maneira como é ensinado, o clérigo do Islã sunita Sheikh Ahmed al Tayeb, chefe da Universidade al-Azhar do Cairo, centro do Islã sunita, se pronunciou da mesma maneira. E ele disse isso nada menos do que em Meca. Os conservadores do Egito fizeram de tudo para abafar o caso – pelo menos por enquanto.
Há contudo cada vez mais dissidentes se manifestando com sucesso, liderando com coragem e visão de futuro. Nos EUA M. Zuhdi Jasser, autor de "A Battle for the Soul of Islam" (Uma Batalha Pela Alma do Islã) e médico, criou o American Islamic Forum for Democracy. No ano passado mais de duas dezenas de personalidades muçulmanas promoveram um apelo "para abraçar uma interpretação pluralista do Islã, rejeitar todas as formas de opressão e abusos cometidos em nome da religião".
No Canadá Raheel e Sohail Raza fundaram "Muslims Facing Tomorrow", onde se encontra o Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade de Western Ontario, Salim Mansur que diz o que pensa.
No Reino Unido Maajid Nawaz dirige a influente Quilliam Foundation e Shiraz Maher, que deixou a organização islamista, Hizb-ut-Tahrir, agora trabalha como Senior Fellow no International Center for the Study of Radicalization no King's College em Londres.
Estes são apenas alguns dos poucos heróis de hoje. Outros tiveram que ser deixados de fora; há muitos nomes para serem incluídos.
A orgulhosa e dolorosa resistência desses "rebeldes de Alá" é um dos mais belos testamentos dos nossos tempos. Esses "rebeldes de Alá" também são a única e real esperança de reforma para o mundo islâmico -- e de preservar a liberdade para todos nós.
Publicado no site do The Gatestone Institute.
11 de julho de 2016
Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Tradução: Joseph Skilnik
São sempre indivíduos que fazem a diferença, como por exemplo: Lech Walesa, que fez toda a diferença. A União Soviética foi derrotada por três pessoas apenas: Ronald Reagan, o Papa João Paulo II -- e os dissidentes. Quando o professor Robert Havemann faleceu na Alemanha Oriental, poucos ficaram sabendo. Este corajoso crítico do regime estava confinado em prisão domiciliar em Grünheide, sob os cuidados da Stasi. Mas o velho professor jamais se deixou intimidar. Ele continuou lutando pelos seus ideais.
O herói do anticomunismo tchecoslovaco, Jan Patočka, morreu sob pesado interrogatório policial. Patočka pagou com a vida o preço do silenciamento. Suas palestras brilhantes foram reduzidas a um seminário clandestino. A despeito de ser impedido de publicar, ele continuou trabalhando clandestinamente em um minúsculo apartamento.
Caçado pela KGB, Alexander Solzhenitsyn escreveu os capítulos do Arquipélago de Gulag entregando-os a amigos de confiança, de modo que nenhum deles tinha posse do manuscrito completo. Em 1973 havia apenas três cópias da obra. Quando a polícia política soviética extorquiu a datilógrafa Elizaveta Voronyanskya, para que ela delatasse um dos esconderijos, acreditando que a obra-prima estava perdida para sempre, ela se enforcou.
Hoje uma nova Cortina de Ferro está sendo construída pelo Islã contra o resto do mundo e os novos heróis são os dissidentes, os apóstatas, os heréticos, os rebeldes e os descrentes. Não é mera coincidência que a primeira vítima de uma fatwa tenha sido o escritor indiano/britânico Salman Rushdie, de família muçulmana.
Pascal Bruckner chamou-os de "os livres pensadores do mundo muçulmano". Nós devemos apoiá-los -- a todos os dissidentes. Porque se de um lado os inimigos da liberdade vêm de sociedades livres, aqueles que se ajoelham diante dos agentes de Alá, por outro alguns dos mais corajosos defensores da liberdade vêm dos regimes islâmicos. A Europa deveria dar apoio financeiro, moral e político a esses amigos da civilização ocidental, enquanto a nossa desonrosa elite, educada e intelectual, está ocupada difamando-os.
Por exemplo, o autor argelino Kamel Daoud, que chamou a Arábia Saudita de "ISIS que deu certo", recentemente causou uma confusão, sendo acusado de "islamofobia", por ter dirigido sua fúria contra um povo ingênuo, que ele diz ignora o abismo que separa o mundo muçulmano da Europa.
Outro exemplo, o jurista Afshin Ellian. exilado iraniano, atualmente na Holanda, trabalha na Universidade de Utrecht, e depois do assassinato de Theo Van Gogh, é protegido por guarda-costas. Após o massacre de Charlie Hebdo, enquanto a mídia europeia se empenhava em culpar os cartunistas "idiotas", Ellian promovia um apelo: "não deixem que os terroristas determinem os limites da liberdade de expressão".
Outra dissidente e autora corajosa, Ayaan Hirsi Ali teve que fugir da Holanda para os EUA, onde ela rapidamente se tornou uma das intelectuais mais proeminentes.
O prefeito marroquino de Roterdã Ahmed Aboutaleb, também vive sob proteção da polícia. Recentemente ele sugeriu aos seus 'companheiros' muçulmanos que protestavam contra as liberdades que encontraram no Ocidente que "fizessem as malas e se f...". Um cristão, heroico defensor dessas liberdades na Holanda, Geert Wilders, está sendo julgado sob a acusação de "discriminação". "Estou na prisão", disse ele, referindo-se aos locais seguros que ele tem que se esconder, "e eles passeiam por aí livremente".
Muitos desses dissidentes são mulheres. Shukria Barakzai, política e jornalista afegã, declarou guerra aos fundamentalistas islâmicos depois que polícia religiosa do Talibã a espancou por ela ter ousado sair sozinha sem uma escolta masculina. Um homem bomba detonou os explosivos amarrados ao seu corpo perto do carro dela, matando três pessoas. Kadra Yusuf, uma jornalista somali, se infiltrou em mesquitas de Oslo para criticar energicamente os imãs, principalmente no tocante à mutilação genital feminina, que sequer é exigida no Alcorão ou nos hádices (relatos sobre a vida de Maomé). No Paquistão, Sherry Rehman pediu "uma reforma nas leis paquistanesas que tratam da blasfêmia". Ela arrisca sua própria vida todos os dias. Ela é considerada pelos islamistas "adequada para ser morta" por ser mulher, muçulmana e ativista secular. A autora e psiquiatra síria/americana, Wafa Sultan, também foi considerada "descrente" merecendo morrer.
Recentemente o jornal Le Figaro publicou uma longa lista de personalidades muçulmano/francesas ameaçadas de "execução". "Colocadas sob permanente proteção policial, consideradas traidoras por fundamentalistas muçulmanos, vivem um inferno. Aos olhos dos islamistas, a liberdade dessas pessoas é um ato de traição à ummah (comunidade)". Elas são escritoras e jornalistas da cultura árabe/muçulmana que criticam a ameaça islamista e a violência inerente do Alcorão. Elas estão sozinhas contra o islamismo que usa o terrorismo concreto das Kalashnikovs e também contra o terrorismo intelectual que as submete à intimidação da mídia. Vistas como "traidoras" em suas comunidade, elas são acusadas pelas elites do Ocidente de "estigmatização".
A jornalista francesa Zineb El Rhazoui tem mais guarda-costas do que muitos ministros do governo de Manuel Valls e, por medida de segurança, vem mudando de casa com frequência nos últimos meses em Paris. Para esta jovem estudiosa, natural de Casablanca, que trabalha na revista semanal francesa Charlie Hebdo,caminhar pelas ruas de Paris se tornou algo inimaginável. Em 7 de janeiro de 2015 uma fatwa foi emitida que diz: "matem Zineb El Rhazoui para vingar o profeta".
Ameaças contra outra dissidente Nadia Remadna, não vêm de Raqqa na Síria, mas de sua própria cidade: Sevran, em Seine-Saint-Denis. Elas refletem a crescente influência dos islamistas nos territórios perdidos da República Francesa. Por qual "crime" ela foi considerada culpada? Ela criou a "Brigada da Mães" para combater a influência islamista sobre jovens muçulmanos.
O professor de filosofia, Sofiane Zitouni, teve que pedir demissão do emprego em uma escola muçulmana/francesa por conta do "islamismo insidioso".
O jornalista e ensaísta francês/argelino Mohamed Sifaoui, autor de diversas investigações sobre círculos islamistas, é vítima de dupla ameaça. Ele é alvo primordial tanto de fundamentalistas quanto dos "tolerantes" grandes inquisidores. Sentenciado a dois anos de prisão pelo regime argelino por ofensas à imprensa", depois assediado por islamistas, Sifaoui pediu asilo político na França em 1999, jamais voltando a por os pés na Argélia. Desde então Sifaoui tem visto sua foto e nome juntamente com as palavras "le mourtad", o apóstata em websites islamistas, o que quer dizer que ele está marcado para morrer. A proteção policial francesa em torno dele tem sido total desde 2006, quando ele defendeu a liberdade de expressão da revista satírica francesa Charlie Hebdo.
Cerca de quinze testemunhas prestaram depoimento a favor da revista Charlie Hebdo. Entre elas se encontrava o falecido ensaísta muçulmano/tunisiano Abdelwahab Meddeb, que teve a coragem de desafiar todo o establishment muçulmano/francês que tentou calar a revista Charlie Hebdo. Meddeb queria mostrar que "não se tratava de ninguém contra o Islã e sim o Islã evoluído contra o Islã atrasado."
Também na França, Hassen Chalghoumi, o corajoso imã de Drancy, prega usando um colete a prova de bala. Quando ele sai na rua cinco policiais o acompanham armados com armas semiautomáticas. Isso não está situado fora da Linha Verde de Bagdá, está sim no centro de Paris. Chalghoumi apoiou a proibição do uso das burcas; fez uma visita sem precedentes ao memorial do Holocausto em Jerusalém; prestou homenagem às vítimas da redação da revista Charlie Hebdo se posicionou a favor de um diálogo com os judeus franceses.
Naser Khader, muçulmano liberal com cidadania dinamarquesa, que defendeu "uma reforma muçulmana", autor do livro "Honra e Vergonha", está sendo ameaçado de morte por grupos islâmicos.
Na Itália, o escritor Magdi Cristiano Allam, natural do Egito, vive sob proteção de guarda-costas por ter criticado o Islã político. O editor adjunto do principal jornal da Itália, Corriere della Sera, Sr. Allam, publicou um livro cujo título apenas já seria o suficiente para por sua vida em perigo: "Viva Israele."
Ibn Warraq vive atrás de um pseudônimo desde que escreveu o influente livro "Porque Eu Não Sou Muçulmano".
O blogueiro palestino Walid Husayin também é uma raridade. Na prisão por ter "satirizado o Alcorão, ele publicou recentemente um livro na França sobre sua experiência nos territórios palestinos, onde seu "ateísmo" quase lhe custou a vida.
Na Tunísia há um punhado de produtores de cinema e intelectuais que lutam pela liberdade de expressão, especialmente depois que o líder secular da oposição Chokri Belaid, foi assassinado. Também Nadia El Fani, diretora de "Ni Allah ni maître" ("Nem Alá Nem Mestre"), e Nabil Karoui, diretor da TV Nessma, estão ameaçados de morte e sendo processados, acusados de "blasfêmia". A "Primavera Árabe" na Tunísia não se transformou em um inverno islamista, como em outros lugares, isso graças principalmente a esses dissidentes.
Esses heróis sabem o que aconteceu com seus antecessores em "a guerra contra os intelectuais árabes". Escritores como Tahar Djaout foram mortos em 1993 pelos islamistas na Argélia, bem como o jornalista Farag Foda, famoso pelas fortes sátiras sobre o fundamentalismo islâmico. Antes de seu assassinato, Foda foi acusado de "blasfêmia" pela grande mesquita de al-Azhar. Uma dozena de blogueiros bengaleses também foram assassinados a sangue frio pelos islamistas pelo "crime" de "secularismo".
No ano passado o Presidente do Egito Abdel Fattah al- Sisi defendeu a reforma do Islã e a maneira como é ensinado, o clérigo do Islã sunita Sheikh Ahmed al Tayeb, chefe da Universidade al-Azhar do Cairo, centro do Islã sunita, se pronunciou da mesma maneira. E ele disse isso nada menos do que em Meca. Os conservadores do Egito fizeram de tudo para abafar o caso – pelo menos por enquanto.
Há contudo cada vez mais dissidentes se manifestando com sucesso, liderando com coragem e visão de futuro. Nos EUA M. Zuhdi Jasser, autor de "A Battle for the Soul of Islam" (Uma Batalha Pela Alma do Islã) e médico, criou o American Islamic Forum for Democracy. No ano passado mais de duas dezenas de personalidades muçulmanas promoveram um apelo "para abraçar uma interpretação pluralista do Islã, rejeitar todas as formas de opressão e abusos cometidos em nome da religião".
No Canadá Raheel e Sohail Raza fundaram "Muslims Facing Tomorrow", onde se encontra o Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade de Western Ontario, Salim Mansur que diz o que pensa.
No Reino Unido Maajid Nawaz dirige a influente Quilliam Foundation e Shiraz Maher, que deixou a organização islamista, Hizb-ut-Tahrir, agora trabalha como Senior Fellow no International Center for the Study of Radicalization no King's College em Londres.
Estes são apenas alguns dos poucos heróis de hoje. Outros tiveram que ser deixados de fora; há muitos nomes para serem incluídos.
A orgulhosa e dolorosa resistência desses "rebeldes de Alá" é um dos mais belos testamentos dos nossos tempos. Esses "rebeldes de Alá" também são a única e real esperança de reforma para o mundo islâmico -- e de preservar a liberdade para todos nós.
Publicado no site do The Gatestone Institute.
11 de julho de 2016
Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Tradução: Joseph Skilnik
Nenhum comentário:
Postar um comentário