ARTIGOS - CIÊNCIA
Pioneiros nas cirurgias de mudança de sexo e estudos clínicos recentes concordam que a maioria do transexuais sofrem de distúrbios psicológicos simultaneamente, levando à tragédia de um elevado número de suicídios. A proibição da psicoterapia para pessoas transexuais pode ser politicamente correta, mas mostra um desrespeito imprudente pela vida humana.
Linha do tempo:
04 de outubro de 1966: A coluna de fofocas do New York Daily News informou que uma moça que estava circulando em clubes de Manhattan admitiu ser um homem em 1965. Ela tinha passado por uma operação de mudança de sexo em Baltimore, na clínica Johns Hopkins.
Em 1979, treze anos mais tarde, um grande número de cirurgias desse tipo haviam sido realizadas, sendo possível avaliar os resultados. Era hora para uma pesquisa com base em pacientes reais.
1970: Qual a eficiência da cirurgia de mudança? Quais foram os resultados para os transexuais?
O primeiro relatório vem do Dr. Harry Benjamin, um forte defensor de terapia hormonal com o sexo oposto e da cirurgia de "reatribuição de gênero", que era realizada num clínica privada para transexuais. De acordo com um artigo no Journal of Gay & Lesbian Mental Health, "em 1972, Benjamin tinha diagnosticado, tratado e feito amizade com, pelo menos, mil dos dez mil americanos conhecidos por serem transexuais."
Um colega do Dr. Benjamin, o endocrinologista Charles Ihlenfeld, administrou a terapia hormonal para cerca de 500 pessoas "trans" ao longo de um período de seis anos na clínica de Benjamin – até que ficou preocupado com os resultados. "Há muito descontentamento entre as pessoas que fizeram a cirurgia", disse ele. "Muitos deles acabam como suicidas. 80% dos que querem mudar de sexo não devem fazê-lo." Mas, mesmo para os 20% que ele achava que poderiam ser bons candidatos para isso, a mudança de sexo não é de nenhuma maneira uma solução para os problemas da vida. Ele pensa nisso mais como uma espécie de alívio. "Compra-se talvez 10 ou 15 anos de uma vida mais feliz", disse ele, "e vale a pena por isso."
Mas o próprio Dr. Ihlenfeld nunca fez mudança de sexo. Eu fiz, e discordo dele nesse último ponto: o alívio não vale a pena. Eu tive um alívio de sete ou oito anos, e depois? Eu estava pior do que antes. Eu parecia uma mulher – meus documentos legais me identificavam como uma mulher – mas eu achei que no final do "alívio" eu queria ser um homem com a mesma intensidade com que eu tinha uma vez desejado ser uma mulher. A recuperação foi difícil.
No entanto, com base em sua experiência no tratamento de 500 transgêneros, o Dr. Ihlenfeld concluiu que o desejo de mudar os sexos provavelmente resultava de fatores psicológicos poderosos. Ele disse em 'Transgender Subjectivities: A Clinicians Guide': "o que quer que a cirurgia tenha feito, ela não cumpriu um desejo básico de algo que é difícil de definir. Conclui-se que estamos tentando tratar superficialmente algo que é muito mais profundo". O Dr. Ihlenfeld deixou a endocrinologia em 1975 para começar uma residência em psiquiatria.
Há cerca de três anos, ao escrever meu livro 'Paper Genders', fiquei curioso e chamei Dr. Ihlenfeld para perguntar se alguma coisa tinha mudado em suas idéias sobre os comentários que fez em 1979. Ihlenfeld foi educado comigo no telefone e rapidamente disse que não, nada tinha mudado. É interessante, na atmosfera de hoje do politicamente correto, que o Dr. Ihlenfeld, um homossexual, sustente a opinião que a cirurgia de "redesignação de gênero" não é a resposta para aliviar os fatores psicológicos que levam à compulsão para mudar de sexo. Eu aprecio sua honesta avaliação clínica, da evidência e recusa em dobrar os resultados médicos a um ponto de vista político particular.
Em seguida, vamos dar uma olhada na Clínica de Gênero da Universidade Johns Hopkins, onde a moça transgênero da fofoca no New York Daily News fez sua cirurgia. O Dr. Paul McHugh tornou-se diretor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais em meados da década de 1970 e pediu ao Dr. Jon Meyer, diretor da clínica na época, a realização de um estudo aprofundado dos resultados de pessoas tratadas na clínica.
McHugh diz:
[Aqueles que foram submetidos a cirurgia] foram pouco modificados em sua condição psicológica. Eles tinham praticamente os mesmos problemas com relacionamentos, trabalho e emoções como antes. A esperança de que eles iriam agora emergir de suas dificuldades emocionais para florescer psicologicamente não tinha se cumprido.
Em 2015 eu estava sentado em frente ao Dr. McHugh em seu escritório na Universidade Johns Hopkins e fiz-lhe a mesma pergunta que havia feito ao Dr. Ihlenfeld: Alguma coisa tinha mudado em suas idéias a respeito da mudança cirúrgica de sexo? McHugh me disse que ele ainda deve ter uma justificação médica para a alteração cirúrgica da genitália, e que é obrigação dos médicos praticantes seguir a ciência até onde ela leva, em vez de ignorar a ciência para avançar o politicamente correto.
Estes dois médicos poderosos e influentes foram pioneiros no tratamento do transexualismo. Dr. Ihlenfeld é um psiquiatra homossexual. Dr. Paul McHugh é um psiquiatra heterossexual. Ambos chegaram à mesma conclusão: fazer a cirurgia não resolve os problemas psicológicos dos pacientes.
Década de 2000: Os fatores psicológicos das clínicas Hopkins e Benjamin foram confirmados por estudos posteriores?
Estudos mostram que a maioria das pessoas transexuais têm outros transtornos psicológicos coincidentes, ou co-morbidades (1).
Um estudo de 2014 constatou que 62,7% dos pacientes diagnosticados com disforia de gênero (ver o conceito aqui) tinham pelo menos um distúrbio associado e 33% foram diagnosticados com graves transtornos depressivos ligados à ideação suicida. Outro estudo de quatro países europeus em 2014 descobriu que quase 70% dos participantes apresentaram um ou mais transtornos do Eixo I(2), principalmente transtornos afetivos (humor) e ansiedade.
Em 2007, no Departamento de Psiquiatria da Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio, observou-se a avaliação clínica das comorbidades dos últimos 10 pacientes entrevistados em sua Gender Identity Clinic. Eles descobriram que "90% destes diversos pacientes tinham, pelo menos, uma outra forma significativa de psicopatologia... [incluindo] problemas de humor e regulação de ansiedade e de adaptação no mundo. Dois dos 10 tiveram arrependimentos significativos persistentes sobre suas transições anteriores".
No entanto, em nome de "direitos civis", as leis estão sendo aprovadas em todos os níveis de governo para impedir que os pacientes transexuais recebam terapias para diagnosticar e tratar os transtornos mentais concomitantes.
Os autores do estudo da Case Western Reserve University pareciam prever esta onda legal chegando quando eles disseram:
“Esta constatação (média) parece contrastar com a retórica pública, forense, e profissional de muitos que cuidam de adultos transgêneros... A ênfase nos direitos civis não é um substituto para o reconhecimento e tratamento da psicopatologia associada. Especialistas em identidade de gênero, ao contrário da mídia, precisam se preocupar com a maioria dos pacientes, não apenas com os que estão aparentemente indo bem na transição”.
Como alguém que passou pela cirurgia, estou inteiramente de acordo. A política não se mistura bem com a ciência. Quando a política se impõe sobre medicina, os pacientes são os que sofrem.
E sobre os suicídios?
Vamos ligar os pontos. Transexuais relatam tentativas de suicídio em um índice dramático – acima de 40%. De acordo com Suicide.org, 90% de todos os suicídios são resultado de distúrbios mentais não tratados. Mais de 60% (e possivelmente até 90%, como mostrado na Case Western) das pessoas trans têm comorbidades psiquiátricas, que muitas vezes são totalmente negligenciadas.
Poderia o tratamento das doenças psiquiátricas subjacentes prevenir suicídios transexuais? Acho que a resposta é um sonoro "sim".
A prova está na cara. Um número tragicamente elevado de pessoas trans tenta o suicídio. O suicídio é o resultado de distúrbios mentais não tratados. A maioria das pessoas transexuais sofre de distúrbios de comorbidade não tratados. E, desafiando toda a razão, leis estão sendo introduzidas para impedir o seu tratamento.
Escrevo levado pela profunda preocupação pelos homens e mulheres transexuais que tentam o suicídio, que são infelizes, e que querem voltar ao seu sexo de nascimento. Os outros - aqueles que parecem estar funcionando bem em transição, pelo menos por agora durante o seu "alívio" –, são celebrados na mídia. Mas eu ouvi de outros que preferem ficar no anonimato, que estão, sim, contemplando o suicídio; suas vidas estão dilaceradas pois, apesar da cirurgia, ainda têm questões debilitantes físicas ou psicológicas: aqueles para os quais o "alívio" já acabou.
Na década de 1970 e também hoje a cirurgia de redesignação de sexo tem sido realizada rotineiramente quando solicitada. As pessoas trans constituem a única população autorizada a se auto-diagnosticar com disforia de gênero, apenas com base em seu desejo pela cirurgia de reatribuição sexual, e não porque a comunidade médica tenha encontrado provas objetivas de que essa cirurgia é medicamente necessária.
Depois de cinquenta anos de intervenção cirúrgica nos Estados Unidos, uma base científica para o tratamento cirúrgico das pessoas trans ainda está faltando. Uma força-tarefa encomendada pela Associação Psiquiátrica Americana fez uma revisão da literatura sobre o tratamento do transtorno de identidade de gênero e em 2012 e declarou: "A qualidade das provas referentes à maioria dos aspectos do tratamento em todos os subgrupos foi determinada como sendo baixa”. Em 2004, a revisão de mais de 100 estudos médicos pós-operatórios internacionais de transexuais não encontrou "nenhuma evidência científica sólida de que a cirurgia de mudança de sexo seja clinicamente eficaz".
Nós ouvimos os ecos dos pioneiros nas clínicas Hopkins e Benjamin e vemos as suas primeiras conclusões confirmadas em estudos de hoje, mostrando mais uma vez que existem transtornos psiquiátricos e psicológicos nas psiques dos que mudam de sexo – mas quem está prestando atenção?
Escárnio e vilipêndio aguardam quem se atreve a sugerir que a psicoterapia é necessária para tratar eficazmente a disforia de gênero. Dr. McHugh, Dr. Ihlenfeld, e outros como eles mostram grande integridade quando levantam publicamente preocupações sobre os problemas psicológicos daqueles que mudam de sexo, e quando respondem contra a "abordagem rolo compressor", de tratamentos que fornecem hormônios e cirurgia de mudança sem antes buscarem tratamentos menos invasivos e que alterem a vida.
Advogados e clientes trans temem que, se um psicólogo ou um psiquiatra olhar muito profundamente na psique do paciente eles possam descobrir a presença de uma doença que, se tratada adequadamente, tiraria o sonho de mudança de sexo, uma fantasia que alimentaram na maior parte de suas vidas. Viver em negação é muitas vezes um meio de fuga, uma maneira de evitar olhar para trás, para eventos da primeira infância, e de lidar com um passado doloroso. As causas desses distúrbios estão enterradas profundamente, e agita-las leva a níveis elevados de ansiedade. E então a mudança da identidade e aparência – embora extrema – parece preferível.
Trinta e três anos atrás passei por uma cirurgia de redesignação de sexo apenas para descobrir que era um alívio temporário, não uma solução para as comorbidades subjacentes. Tenho escrito livros, publicado artigos, e falado publicamente com todo o mundo para esclarecer as pessoas sobre a prevalência de suicídio entre as pessoas transexuais e sobre os riscos e os arrependimentos da mudança de sexo.
As redes de televisão, tais como a ABC, que exaltam transgêneros como Bruce Jenner em sua turbulência psicológica, fazem um grande desserviço para transexuais e para aqueles que os tratam, negando-lhes um ambiente seguro no qual resolvam os problemas mais profundos de comorbidades e suicídio. Continuar a ignorar a história e as advertências de estudos e relatórios – embora inconvenientes ou politicamente incorretas que possam parecer – não é solução para o tratamento de distúrbios psicológicos. Ignorar os suicídios não vai ajudar a preveni-los. Proibir certas intervenções médicas quando sabemos que 90% dos suicídios são devido a transtornos mentais não tratados, e que a maioria das pessoas trans coexistem com transtornos psicológicos, não avança os protocolos de tratamento eficazes, e perde-se a liberdade de seguir até onde a ciência conduz.
Ao se permitir que uma agenda política anule e silencie o processo científico, não irá se impedir os suicídios, nem levar melhores tratamentos para esse grupo. Isso não é compaixão, é desrespeito imprudente para com a vida das pessoas.
Notas de Heitor De Paola:
(1) Co-morbidade (Comorbidity) é a preseça de uma ou mais doença ou síndrome que ocorre simultaneamente com uma condição clínica primária. O distúrbio secundário pode ser de ordem mental ou comportamental.
(2) Axis I é um dos cinco eixos considerados pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) para determinação diagnóstica. O diagnóstico das principais perturbações depressivas geralmente estão acompanhados de distúrbios no trabalho, problemas físicos como hipertensão, tristeza e desespero. (Psychiatric Axis I Comorbidities among Patients with Gender Dysphoria) -http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25180172
Walt Heyer é um autor e orador público com paixão para ajudar os outros que lamentam a mudança de sexo. Através de seus site, SexChangeRegret.com, e blog, WaltHeyer.com, Heyer sensibiliza a opinião pública sobre o arrependimento e outras trágicas consequências sofridas.
Trinta e três anos atrás passei por uma cirurgia de redesignação de sexo apenas para descobrir que era um alívio temporário, não uma solução para as comorbidades subjacentes. |
Pioneiros nas cirurgias de mudança de sexo e estudos clínicos recentes concordam que a maioria do transexuais sofrem de distúrbios psicológicos simultaneamente, levando à tragédia de um elevado número de suicídios. A proibição da psicoterapia para pessoas transexuais pode ser politicamente correta, mas mostra um desrespeito imprudente pela vida humana.
Linha do tempo:
04 de outubro de 1966: A coluna de fofocas do New York Daily News informou que uma moça que estava circulando em clubes de Manhattan admitiu ser um homem em 1965. Ela tinha passado por uma operação de mudança de sexo em Baltimore, na clínica Johns Hopkins.
Em 1979, treze anos mais tarde, um grande número de cirurgias desse tipo haviam sido realizadas, sendo possível avaliar os resultados. Era hora para uma pesquisa com base em pacientes reais.
1970: Qual a eficiência da cirurgia de mudança? Quais foram os resultados para os transexuais?
O primeiro relatório vem do Dr. Harry Benjamin, um forte defensor de terapia hormonal com o sexo oposto e da cirurgia de "reatribuição de gênero", que era realizada num clínica privada para transexuais. De acordo com um artigo no Journal of Gay & Lesbian Mental Health, "em 1972, Benjamin tinha diagnosticado, tratado e feito amizade com, pelo menos, mil dos dez mil americanos conhecidos por serem transexuais."
Um colega do Dr. Benjamin, o endocrinologista Charles Ihlenfeld, administrou a terapia hormonal para cerca de 500 pessoas "trans" ao longo de um período de seis anos na clínica de Benjamin – até que ficou preocupado com os resultados. "Há muito descontentamento entre as pessoas que fizeram a cirurgia", disse ele. "Muitos deles acabam como suicidas. 80% dos que querem mudar de sexo não devem fazê-lo." Mas, mesmo para os 20% que ele achava que poderiam ser bons candidatos para isso, a mudança de sexo não é de nenhuma maneira uma solução para os problemas da vida. Ele pensa nisso mais como uma espécie de alívio. "Compra-se talvez 10 ou 15 anos de uma vida mais feliz", disse ele, "e vale a pena por isso."
Mas o próprio Dr. Ihlenfeld nunca fez mudança de sexo. Eu fiz, e discordo dele nesse último ponto: o alívio não vale a pena. Eu tive um alívio de sete ou oito anos, e depois? Eu estava pior do que antes. Eu parecia uma mulher – meus documentos legais me identificavam como uma mulher – mas eu achei que no final do "alívio" eu queria ser um homem com a mesma intensidade com que eu tinha uma vez desejado ser uma mulher. A recuperação foi difícil.
No entanto, com base em sua experiência no tratamento de 500 transgêneros, o Dr. Ihlenfeld concluiu que o desejo de mudar os sexos provavelmente resultava de fatores psicológicos poderosos. Ele disse em 'Transgender Subjectivities: A Clinicians Guide': "o que quer que a cirurgia tenha feito, ela não cumpriu um desejo básico de algo que é difícil de definir. Conclui-se que estamos tentando tratar superficialmente algo que é muito mais profundo". O Dr. Ihlenfeld deixou a endocrinologia em 1975 para começar uma residência em psiquiatria.
Há cerca de três anos, ao escrever meu livro 'Paper Genders', fiquei curioso e chamei Dr. Ihlenfeld para perguntar se alguma coisa tinha mudado em suas idéias sobre os comentários que fez em 1979. Ihlenfeld foi educado comigo no telefone e rapidamente disse que não, nada tinha mudado. É interessante, na atmosfera de hoje do politicamente correto, que o Dr. Ihlenfeld, um homossexual, sustente a opinião que a cirurgia de "redesignação de gênero" não é a resposta para aliviar os fatores psicológicos que levam à compulsão para mudar de sexo. Eu aprecio sua honesta avaliação clínica, da evidência e recusa em dobrar os resultados médicos a um ponto de vista político particular.
Em seguida, vamos dar uma olhada na Clínica de Gênero da Universidade Johns Hopkins, onde a moça transgênero da fofoca no New York Daily News fez sua cirurgia. O Dr. Paul McHugh tornou-se diretor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais em meados da década de 1970 e pediu ao Dr. Jon Meyer, diretor da clínica na época, a realização de um estudo aprofundado dos resultados de pessoas tratadas na clínica.
McHugh diz:
[Aqueles que foram submetidos a cirurgia] foram pouco modificados em sua condição psicológica. Eles tinham praticamente os mesmos problemas com relacionamentos, trabalho e emoções como antes. A esperança de que eles iriam agora emergir de suas dificuldades emocionais para florescer psicologicamente não tinha se cumprido.
Em 2015 eu estava sentado em frente ao Dr. McHugh em seu escritório na Universidade Johns Hopkins e fiz-lhe a mesma pergunta que havia feito ao Dr. Ihlenfeld: Alguma coisa tinha mudado em suas idéias a respeito da mudança cirúrgica de sexo? McHugh me disse que ele ainda deve ter uma justificação médica para a alteração cirúrgica da genitália, e que é obrigação dos médicos praticantes seguir a ciência até onde ela leva, em vez de ignorar a ciência para avançar o politicamente correto.
Estes dois médicos poderosos e influentes foram pioneiros no tratamento do transexualismo. Dr. Ihlenfeld é um psiquiatra homossexual. Dr. Paul McHugh é um psiquiatra heterossexual. Ambos chegaram à mesma conclusão: fazer a cirurgia não resolve os problemas psicológicos dos pacientes.
Década de 2000: Os fatores psicológicos das clínicas Hopkins e Benjamin foram confirmados por estudos posteriores?
Estudos mostram que a maioria das pessoas transexuais têm outros transtornos psicológicos coincidentes, ou co-morbidades (1).
Um estudo de 2014 constatou que 62,7% dos pacientes diagnosticados com disforia de gênero (ver o conceito aqui) tinham pelo menos um distúrbio associado e 33% foram diagnosticados com graves transtornos depressivos ligados à ideação suicida. Outro estudo de quatro países europeus em 2014 descobriu que quase 70% dos participantes apresentaram um ou mais transtornos do Eixo I(2), principalmente transtornos afetivos (humor) e ansiedade.
Em 2007, no Departamento de Psiquiatria da Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio, observou-se a avaliação clínica das comorbidades dos últimos 10 pacientes entrevistados em sua Gender Identity Clinic. Eles descobriram que "90% destes diversos pacientes tinham, pelo menos, uma outra forma significativa de psicopatologia... [incluindo] problemas de humor e regulação de ansiedade e de adaptação no mundo. Dois dos 10 tiveram arrependimentos significativos persistentes sobre suas transições anteriores".
No entanto, em nome de "direitos civis", as leis estão sendo aprovadas em todos os níveis de governo para impedir que os pacientes transexuais recebam terapias para diagnosticar e tratar os transtornos mentais concomitantes.
Os autores do estudo da Case Western Reserve University pareciam prever esta onda legal chegando quando eles disseram:
“Esta constatação (média) parece contrastar com a retórica pública, forense, e profissional de muitos que cuidam de adultos transgêneros... A ênfase nos direitos civis não é um substituto para o reconhecimento e tratamento da psicopatologia associada. Especialistas em identidade de gênero, ao contrário da mídia, precisam se preocupar com a maioria dos pacientes, não apenas com os que estão aparentemente indo bem na transição”.
Como alguém que passou pela cirurgia, estou inteiramente de acordo. A política não se mistura bem com a ciência. Quando a política se impõe sobre medicina, os pacientes são os que sofrem.
E sobre os suicídios?
Vamos ligar os pontos. Transexuais relatam tentativas de suicídio em um índice dramático – acima de 40%. De acordo com Suicide.org, 90% de todos os suicídios são resultado de distúrbios mentais não tratados. Mais de 60% (e possivelmente até 90%, como mostrado na Case Western) das pessoas trans têm comorbidades psiquiátricas, que muitas vezes são totalmente negligenciadas.
Poderia o tratamento das doenças psiquiátricas subjacentes prevenir suicídios transexuais? Acho que a resposta é um sonoro "sim".
A prova está na cara. Um número tragicamente elevado de pessoas trans tenta o suicídio. O suicídio é o resultado de distúrbios mentais não tratados. A maioria das pessoas transexuais sofre de distúrbios de comorbidade não tratados. E, desafiando toda a razão, leis estão sendo introduzidas para impedir o seu tratamento.
Escrevo levado pela profunda preocupação pelos homens e mulheres transexuais que tentam o suicídio, que são infelizes, e que querem voltar ao seu sexo de nascimento. Os outros - aqueles que parecem estar funcionando bem em transição, pelo menos por agora durante o seu "alívio" –, são celebrados na mídia. Mas eu ouvi de outros que preferem ficar no anonimato, que estão, sim, contemplando o suicídio; suas vidas estão dilaceradas pois, apesar da cirurgia, ainda têm questões debilitantes físicas ou psicológicas: aqueles para os quais o "alívio" já acabou.
Na década de 1970 e também hoje a cirurgia de redesignação de sexo tem sido realizada rotineiramente quando solicitada. As pessoas trans constituem a única população autorizada a se auto-diagnosticar com disforia de gênero, apenas com base em seu desejo pela cirurgia de reatribuição sexual, e não porque a comunidade médica tenha encontrado provas objetivas de que essa cirurgia é medicamente necessária.
Depois de cinquenta anos de intervenção cirúrgica nos Estados Unidos, uma base científica para o tratamento cirúrgico das pessoas trans ainda está faltando. Uma força-tarefa encomendada pela Associação Psiquiátrica Americana fez uma revisão da literatura sobre o tratamento do transtorno de identidade de gênero e em 2012 e declarou: "A qualidade das provas referentes à maioria dos aspectos do tratamento em todos os subgrupos foi determinada como sendo baixa”. Em 2004, a revisão de mais de 100 estudos médicos pós-operatórios internacionais de transexuais não encontrou "nenhuma evidência científica sólida de que a cirurgia de mudança de sexo seja clinicamente eficaz".
Nós ouvimos os ecos dos pioneiros nas clínicas Hopkins e Benjamin e vemos as suas primeiras conclusões confirmadas em estudos de hoje, mostrando mais uma vez que existem transtornos psiquiátricos e psicológicos nas psiques dos que mudam de sexo – mas quem está prestando atenção?
Escárnio e vilipêndio aguardam quem se atreve a sugerir que a psicoterapia é necessária para tratar eficazmente a disforia de gênero. Dr. McHugh, Dr. Ihlenfeld, e outros como eles mostram grande integridade quando levantam publicamente preocupações sobre os problemas psicológicos daqueles que mudam de sexo, e quando respondem contra a "abordagem rolo compressor", de tratamentos que fornecem hormônios e cirurgia de mudança sem antes buscarem tratamentos menos invasivos e que alterem a vida.
Advogados e clientes trans temem que, se um psicólogo ou um psiquiatra olhar muito profundamente na psique do paciente eles possam descobrir a presença de uma doença que, se tratada adequadamente, tiraria o sonho de mudança de sexo, uma fantasia que alimentaram na maior parte de suas vidas. Viver em negação é muitas vezes um meio de fuga, uma maneira de evitar olhar para trás, para eventos da primeira infância, e de lidar com um passado doloroso. As causas desses distúrbios estão enterradas profundamente, e agita-las leva a níveis elevados de ansiedade. E então a mudança da identidade e aparência – embora extrema – parece preferível.
Trinta e três anos atrás passei por uma cirurgia de redesignação de sexo apenas para descobrir que era um alívio temporário, não uma solução para as comorbidades subjacentes. Tenho escrito livros, publicado artigos, e falado publicamente com todo o mundo para esclarecer as pessoas sobre a prevalência de suicídio entre as pessoas transexuais e sobre os riscos e os arrependimentos da mudança de sexo.
As redes de televisão, tais como a ABC, que exaltam transgêneros como Bruce Jenner em sua turbulência psicológica, fazem um grande desserviço para transexuais e para aqueles que os tratam, negando-lhes um ambiente seguro no qual resolvam os problemas mais profundos de comorbidades e suicídio. Continuar a ignorar a história e as advertências de estudos e relatórios – embora inconvenientes ou politicamente incorretas que possam parecer – não é solução para o tratamento de distúrbios psicológicos. Ignorar os suicídios não vai ajudar a preveni-los. Proibir certas intervenções médicas quando sabemos que 90% dos suicídios são devido a transtornos mentais não tratados, e que a maioria das pessoas trans coexistem com transtornos psicológicos, não avança os protocolos de tratamento eficazes, e perde-se a liberdade de seguir até onde a ciência conduz.
Ao se permitir que uma agenda política anule e silencie o processo científico, não irá se impedir os suicídios, nem levar melhores tratamentos para esse grupo. Isso não é compaixão, é desrespeito imprudente para com a vida das pessoas.
Notas de Heitor De Paola:
(1) Co-morbidade (Comorbidity) é a preseça de uma ou mais doença ou síndrome que ocorre simultaneamente com uma condição clínica primária. O distúrbio secundário pode ser de ordem mental ou comportamental.
(2) Axis I é um dos cinco eixos considerados pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) para determinação diagnóstica. O diagnóstico das principais perturbações depressivas geralmente estão acompanhados de distúrbios no trabalho, problemas físicos como hipertensão, tristeza e desespero. (Psychiatric Axis I Comorbidities among Patients with Gender Dysphoria) -http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25180172
Walt Heyer é um autor e orador público com paixão para ajudar os outros que lamentam a mudança de sexo. Através de seus site, SexChangeRegret.com, e blog, WaltHeyer.com, Heyer sensibiliza a opinião pública sobre o arrependimento e outras trágicas consequências sofridas.
A história de Heyer pode ser lida de forma inovadora no Kid Dakota and The Secret at Grandma’s House , bem como em sua autobiografia, A Transgender’s Faith.
Outros livros de Heyer incluem Paper Genders e Gender, Lies and Suicide.
10 de junho de 2016
10 de junho de 2016
WALT HEYER
Publicado originalmente em The Public Discourse.
Tradução: William Uchoa
Divulgação: Papéis Avulsos - http://heitordepaola.com
Publicado originalmente em The Public Discourse.
Tradução: William Uchoa
Divulgação: Papéis Avulsos - http://heitordepaola.com
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