Áudios divulgados pela ‘Folha’ mostram conversas entre o presidente do Senado e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado
O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), durante sessão ordinária em plenário - 18/05/2016(Moreira Mariz/Ag. Senado) |
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu em conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado uma mudança na lei da delação premiada para impedir que um preso se torne delator. "Não pode fazer delação premiada preso", diz Renan no áudio. Após isso, o senador sugere "negociar" com integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) a "transição" de Dilma Rousseff. As gravações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira.
O jornal não informou a data em que os diálogos aconteceram, mas disse que Machado começou a fazer as gravações a partir de março.
Em outro trecho da conversa, ao comentar a situação de Dilma, Machado diz que, com as informações de que a Odebrecht "vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito". E Renan responde: "Tem não, porque vai mostrar as contas", em uma possível referência às contas de campanha da petista.
Alvo da Operação Lava Jato, Machado gravou conversas com interlocutores e agora negocia uma delação premiada com a força-tarefa. O ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi exonerado depois de aparecer em um áudio gravado pelo ex-presidente da Transpetro falando em "estancar a sangria" provocada pela Lava Jato.
A assessoria de imprensa de Renan disse ao jornal, em resposta à gravação, que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações". A nota ainda enfatiza que as opiniões emitidas pelo senador nas gravações, como as críticas à lei atual que rege a delação, já são públicas.
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Confira abaixo os principais trechos da conversa entre Renan e Machado:
Delação - Depois de ouvir Machado dizer que é preciso "passar uma borracha no Brasil", Renan afirma: "Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso". No trecho, a dupla também critica a decisão do STF que permitiu a prisão após condenação em segunda instância.
STF - No trecho em que falam sobre negociar a "transição" com o STF, Machado diz: "Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela". Renan complementa: "Não negociam porque todos estão putos com ela [Dilma]. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda - estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada - aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski [presidente do STF], querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'".
Aécio Neves - Depois de Machado jogar a isca de que "não sobra ninguém" com os avanços da Lava Jato, Renan afirma que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) "está com medo" e dá a entender que ele o procurou para saber detalhes da delação do ex-senador Delcídio do Amaral. "Aécio está com medo. 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'".
Sobre a menção a Aécio, o peemedebista pediu desculpas ao tucano por ter se expressado "inadequadamente". Segundo o texto, Renan se referia à indignação de Aécio - e não ao medo - quando comentou sobre a reação dele diante das revelações de Delcídio.
Lula - Num dado momento, o ex-presidente da Transpetro pergunta a Renan sobre uma conversa que ele teve com o ex-presidente Lula. O peemedebista respondeu que o petista está "consciente" de que pode ser preso "a qualquer momento". "O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá…"
Delcídio - Quando interpelado por Machado sobre a delação do Delcídio, Renan desmonstra estar com medo do que ele pode revelar aos investigadores: "Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo [inaudível] era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o [José] Hawilla fez."
(Da redação)
25 de maio de 2016
diário do poder
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