UMA QUESTÃO DE OPINIÃO, MAS QUE HÁ MAIS CAROÇOS DEBAIXO DESSE ANGU, COM CERTEZA HÁ...

Objetivo maior da divulgação das gravações é desestabilizar o governo Temer

Mais do que em qualquer outra atividade, é na política que se confirma aquele velhíssimo ditado de que as aparências enganam. Por isso, torna-se necessário encarar com cautela os fenômenos políticos, para tentar compreender seus verdadeiros objetivos. No momento atual, quando o país deveria estar mobilizado para debater como enfrentar a mais grave crise econômica e social de sua história, a política brasileira está sendo varrida por um festival de denúncias que revela uma trama diabólica para acabar com a Operação Lava Jato e derrubar a presidente Dilma Rousseff. Bem, parece que é disso que se trata, mas o objetivo maior pode ser totalmente diverso.

Nesta empolgante versão tropicalista da série “House of Cards”, a teoria conspiratória do fim da Lava Jato faz sucesso no Brasil e no exterior, ganhando adeptos a tese de que a presidente Dilma Rousseff teria mesmo sido vítima de um”golpe brando”, como na frase irreal que o PT está tentando atribuir ao Papa Francisco, vejam só como as aparências enganam.

NÃO HÁ NOVIDADE…

Para quem conhece a política brasileira, as gravações de Romero Jucá e Renan Calheiros não trazem novidade nem despertam surpresa. O jornalista Jorge Basto Moreno, de O Globo, considerado um dos maiores conhecedores da política nacional, diz que a “conversa comMmachado não compromete Renan mais do que ele já está”. Confiram:

“Parece que, na conversa com Renan, Sérgio Machado mostrava um cartaz: “Sorria, você está sendo gravado”. Não há comprometimentos, só inconveniências. Mas, como sempre, a gravação, mais uma vez, trucida Aécio Neves. Parece ser esse o objetivo obsessivo do grampeador: promover uma enquete de depoimentos sobre o senador tucano e não buscar conteúdo.

A conversa entre os dois é, portanto, interessantíssima, mas, repito, não compromete Renan mais do que ele já está.

E o pobre do Janot… Para ver cumprida sua orientação a Machado, o procurador-geral da República é obrigado a ouvir esses xingamentos todos contra ele. Dever do ofício. Daqui a pouco, nas coletivas, aparece algum “repórter” se identificando “Fulano de tal, do estúdio de gravações do Janot””, afirma Jorge Bastos Moreno, no texto que nos foi enviado pelo sempre atento comentarista Moacir Pimentel.

TRADUÇÃO SIMULTÂNEA

Como Moreno assinala, as gravações são mesmo interessantíssimas, mas merecem tradução simultânea, especialmente porque estão sendo divulgadas com exclusividade pela Folha de S. Paulo, que por mera coincidência, mostra ser o único veículo da grande mídia que desde o início se manteve claramente contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Também por coincidência, o ministro Teori Zavascki homologou na noite desta terça-feira a delação premiada de Sérgio Machado. Não foi causa das gravações, mas em função do que foi revelado por ele nos depoimentos à força-tarefa da Lava Jato. É por isso que as coincidências geralmente são aparências que enganam.

ÓBVIO ULULANTE

Dizer que dois notórios corruptos como Renan e Jucá queriam parar a Lava Jato e impedir delações premiadas, com toda certeza isso significa o óbvio ululante que Nélson Rodrigues tanto buscava.

Também é óbvio que todos os envolvidos no esquema da Petrobras (e de outros órgãos públicos) contavam com a compreensão do Supremo em relação aos corruptos do PT, o que beneficiaria a todos eles. Mas isso não existe.

O resultado será inverso. A gratidão dos oito ministros a Lula e Dilma tem e teve limites, já é coisa do passado, Dias Toffoli foi o primeiro a pular do barco. Agora mesmo é que o Supremo não terá complacência, vai triturar todos eles, reduzi-los a pó.

DESESTABILIZAR TEMER

Ainda seguindo a trilha do óbvio ululante de Nélson Rodrigues, está mais do que claro que o objetivo maior da divulgação dessas gravações é desestabilizar o governo Temer, na expectativa de que o Senado se disponha a trazer de volta a presidente Dilma Rousseff, maior responsável pela mais grave crise enfrentada por este país.

Ao reforçar a teoria conspiratória do “golpe brando”, os petistas partem do pressuposto de que o Senado Federal é formado por políticos ingênuos e beirando o desequilíbrio mental. O único resultado que poderão conseguir é atrapalhar a nova gestão, que precisa ir em frente, para sepultar de vez as irresponsabilidades cometidas na Era do PT. É isso que interessa.

25 de maio de 2016

Carlos Newton