Sem dúvida alguma, uma explosão que abalou o governo Michel Temer com o diálogo entre o ex-ministro Romero Jucá e o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, um dos personagens investigados no início da Operação Lava-Jato, afastado do cargo pela então presidente Dilma Rousseff quando emergiu o assalto praticado contra a Petrobrás. Indicado pelo PMDB, que relutava em aceitar a exoneração, a saída do governo foi optar por licenças sucessivas de três meses, renovadas várias vezes até o desfecho parcial da questão.
A explosão – com base na grande reportagem de Rubens Valente, Folha de São Paulo de segunda-feira – afetou o governo e fez desmoronar parte do túnel projetado pelo presidente em exercício para reencontrar o caminho do desenvolvimento econômico e social.
A tarefa atribuída ao ministro Henrique Meirelles andava bem, apesar das dificuldades normalmente existentes, sobretudo numa época de desemprego e consequente retração de consumo, causada também, é preciso não esquecer, pela não reposição aos salários de celetistas e servidores públicos da taxa inflacionária de 2015, que alcançou 10,6%.
UM DESASTRE
A parte política foi um desastre. Michel Temer adotou um fisiologismo de compensação incapaz de produzir resultados positivos. Com isso, perdem a população e o país, além do próprio governo, com os estilhaços partindo vidros do Palácio do Planalto. A escolha de Romero Jucá – cuja cassação foi pedida pelo PDT através do Conselho de Ética – constituiu um erro primário. Como é possível nomear-se um ministro que se encontra sob investigação pelo Supremo em decorrência de denúncia apresentada pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot?
É uma contradição bastante expressiva. Pois se alguém é investigado, deve-se aguardar o término da investigação, para que não paire suspeita sobre aquele que pode vir a se tornar ministro de estado.
CONTRADIÇÕES
As contradições embutidas em outras nomeações não deixam Temer bem na fotografia política. O ministro da Justiça afirmou que não existem direitos absolutos. O ministro da Saúde admitiu repactuar com a população custos do Sistema Único de Saúde. Obstáculos se acumulam.
Fala-se em cortes orçamentários, mas não se toca – os governos Lula e Dilma – em reduzir as despesas de correntes dos juros de 14,25% a/a sobre a dívida federal que alcança a estr4atosfera da ordem de 2,9 trilhões de reais, praticamente a metade do PIB.
Esses juros são intocáveis, mas produzem um desembolso anual ao Tesouro superior a 400 bilhões de reais.
CORTES INSUFICIENTES
Os cortes orçamentários possíveis (porque existem os impossíveis) sequer se aproximam do desembolso absorvido pelos bancos e fundos de investimento credores das Notas do Tesouro Nacional que lastreiam e garantem a rolagem da dívida que crescem sem parar.
Mas voltando ao plano essencialmente político. O governo Michel Temer tem sido um desastre. Como todo projeto econômico baseia-se sobre um contexto político, podemos sentir que as coisas estão mal paradas. A previsão do tempo aponta perspectivas de nuvens densas e tempestades. Os ventos da incompetência estão cortando o ar. Mau sinal.
25 de maio de 2016
Pedro do Coutto
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