Mesmo considerada pelo próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha, outro personagem de Curitiba, como “apenas um rito de passagem, pois o que importa é a votação do plenário”, a decisão da Comissão do Impeachment terá um peso muito maior do que se pensa na votação de domingo, até porque ela impede moralmente qualquer fechamento de questão contra a matéria, salvo no caso do PT e do seu indefectível coadjuvante PCdoB, mas que dispensam a utilização desse instrumento de disciplina partidária.
SEM APOIO
O clima exacerbado da comissão na segunda-feira, principalmente a subida de tom do ministro José Eduardo Cardozo e o exasperado discurso do líder do PT, Afonso Florence, revelaram que o governo não dispõe do decantado apoio para barrar o impeachment.
Da mesma forma, a oposição não conseguiu fechar a segunda-feira com os 342 votos que precisa para desalojar a presidente. Espera tê-los ao longo da semana e prevê que eles cheguem a 380.
É preciso que surja até lá um fato novo, capaz de mudar radicalmente os resultados. Dizia-se que, se surgir, esse fato só prejudicaria o governo. Mas, na segunda-feira, o vazamento do áudio do vice Michel Temer fez tremer a base oposicionista.
EXEMPLO DE COLLOR
Logo, chegou-se à conclusão de que Temer estava docemente constrangido com o acidente. Entre tantas conveniências do vazamento estava o compromisso do vice, já reafirmado em entrevista ao Globo por Moreira Franco, de que, assumindo, não vai acabar com os programas sociais do governo.
É preciso não se esquecer das surpresas das grandes votações, inclusive no impeachment de Collor, como o caso do então deputado Onaireves Moura, que ofereceu um jantar para o presidente às vésperas da votação, e depois dessa última ceia, disse não à permanência do seu comensal.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Onaireves é Severiano ao contrário. Foi um dos muitos parlamentares que traíram Collor em 1992. Sete anos antes, em 1985, na eleição indireta para a Presidência, Paulo Maluf “negociou” votos com grande número de parlamentares e levou uma lavagem de Tancredo Neves. Como se sabe, Collor e Maluf jamais cobraram essas contas, digamos assim. Dilma é a próxima vítima e também será traída. Esses acontecimentos políticos fazem lembrar uma criação histórica de Nelson Rodrigues, meu companheiro de redação em O Globo e muito amigo de Pedro do Coutto – a peça “Perdoa-me por me traíres”. (C.N.)
12 de abril de 2016
Jorge Bastos Moreno
O Globo
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