"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 12 de abril de 2016

A SITUAÇÃO É TENEBROSA E DILMA PODE IR DANDO ADEUS ÀS ILUSÕES



No plenário, Dilma pode ser atropelada pela “teoria da manada”
















Uma das melhores definições de estatística é a de que se trata da “arte de torturar os números até que eles confessem o resultado que pretendemos”. Esta versão não está longe da realidade, porque sempre parece existir um jeitinho de fazer malabarismos com os números. No caso do impeachment de Dilma Rousseff, porém, é cada vez menor essa possibilidade de se conseguir um contorcionismo estatístico. O afastamento é praticamente uma realidade, a cada dia a situação piora, indicando que o afastamento da chefe do governo já pode ser considerado uma realidade palpável, como se dizia antigamente.
SUPREMO TENTOU AJUDAR
O Supremo até que tentou ajudar e deu uma bela contribuição à presidente Dilma. Com exceção de Gilmar Mendes e Dias Toffoli, os outros nove ministros conseguiram suspender por mais de dois meses o processo na Câmara, oferecendo ao governo e ao PT um tempo preciosíssimo para negociar e influir na Comissão do Impeachment, que acabou sendo formada da maneira mais conveniente possível à presidente Dilma, com o PMDB até trocando de líder na Câmara.
Mesmo assim, não adiantou nada. Apesar das pressões e negociações (algumas, altamente escusas) o resultado foi tenebroso.
AS APARÊNCIAS ENGANAM
Como se sabe, a Comissão do Impeachment votou a favor do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) por 38 votos a 27. Quer dizer, a grande maioria dos deputados (58,46%) resistiu às ofertas e conchavos e apoiou o processo, enquanto apenas 27 parlamentares (41,54%) votaram contra o afastamento da presidente.
Diante desses números, ainda há quem acredite que Dilma poderá se salvar no julgamento pelo plenário da Câmara. O raciocínio é linear: afinal, se ela conseguir os mesmos 41,54% dos votos dos deputados, terá seu mandato facilmente preservado, e com louvor.
Mas acontecem que esses números são enganosos. O impeachment é um fenômeno essencialmente político, como a Teoria do Dominó – quando a primeira peça cai, as demais vão desabando, inexoravelmente.
VIÉS DE ALTA
Entre os vários fatores que estão contra Dilma, um eles é a tendência (ou algoritmo, no moderno linguajar estatístico), com o viés de alta fortalecido pela “teoria da manada”, que sempre atrai votos de indecisos, já que maioria deles acaba acompanhando o lado que deve sair vencedor. Neste sentido, o resultado na Comissão (38 a 27) certamente deve influenciar alguns dos que deixaram a decisão para a última hora.
Segundo o Estadão, nesta segunda-feira (dia 11), o número de deputados que publicamente são favoráveis ao impeachment subiu para 298, enquanto os que são contra ainda estão em 123, com 49 indecisos e 43 que não quiseram se manifestar. Portanto, faltam 44 votos para o impeachment ser aceito, enquanto a presidente Dilma necessita de 45 votos para escapar do afastamento, caso não haja abstenções ou faltas. Pensem a respeito.
Outro fator importante é a rejeição ao governo Dilma, porque os políticos são sensíveis a este tipo de argumento. No impeachment de Collor, o então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) definiu bem a questão, ao dizer que “esta casa sempre faz o que o povo quer”.
Há também a formidável pressão popular na internet, exercida sobre os indecisos. Muitos deputados vão disputar as eleições de prefeito neste ano e temem essas reações negativas. E quem faltar à sessão ou se abstiver, com toda certeza, vai ter de se explicar aos eleitores.
MALUF E COLLOR
Além de tudo isso, deve-se lembrar que a transmissão da TV será feita ao vivo e a cores, circunstância que motiva muitas deserções inesperadas, porque os deputados têm uma tendência a se preservarem politicamente. Em votações semelhantes no Congresso, em 1985 e 1992, quando a Presidência da República também estava em questão, Maluf e Collor amargaram traições que ninguém esperava. Com Dilma, não será diferente. De lá para cá, pouco mudou na política brasileira.

12 de abril de 2016
Carlos Newton

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