O Brasil não terá paz econômica e sociopolítica mínima se não contiver logo o aumento do desemprego e da dívida do governo. Além de animar o paciente com a esperança de cura, um tratamento longo e difícil, mas eficaz, as "reformas", será preciso levá-lo já a um pronto-socorro com UTI.
Diz-se que um governo com um plano crível de mudanças profundas produziria tal melhora na confiança de empresas e consumidores que a economia voltaria a respirar sem tubos, ainda que em estado crítico.
Enquanto a fada da confiança não vem, o que fazer? É difícil dar injeções de vitamina em uma economia sem crédito, de governo quebrado e com inflação ainda alta.
Mas é preciso um choque de desfibrilador, de estabilização da atividade, já, a fim de evitar queda maior de receita do governo e o círculo vicioso criado pelo desemprego crescente.
Onde arrumar crédito? A inadimplência está mascarada. Bradesco e Itaú empurram com a barriga o reconhecimento de perdas prováveis. Os bancos estão "enrolando", no melhor dos sentidos: refinanciam, renegociam. Tentam evitar falências e o susto de balanços manchados de sangue de calotes. Menos mau. Mas não é bom sinal para a volta do crédito.
Para começar a resolver a encrenca, é preciso baixar as taxas de juros. Um plano de política fiscal (gastos do governo) crível ajudaria: derrubaria juros por conta, controlaria o dólar (e, assim, inflação). Mas o efeito é algo lento e retardado.
A construção civil vai encolher até 2017. Obras de infraestrutura (metade do setor) param. Há encalhe de residências (um quarto do setor).
A fim de dar algum jeito nisso, é preciso relançar com urgência dramática as concessões de infraestrutura, atoladas na insegurança terrível causada por Dilma Rousseff.
Será preciso ofertar rentabilidade gorda, concentrar dinheiros do BNDES nisso, rearrumar as empresas do setor (pequenas? Estrangeiras?), limpar o terreno regulatório de sujeiras menores (as maiores levam tempo). É difícil, mas é para ontem.
O setor imobiliário vai purgar excessos, estoques altos. Alguma confiança do consumidor e juros menores podem antecipar a recuperação. Mas falta crédito. O dinheiro da poupança minguou. É outra tarefa da UTI.
Dada a pindaíba, há o risco de o governo cortar mais investimento "em obras". Não pode. Terá de cortar alhures, além de arrumar algum dinheiro extra: mais imposto, mais privatizações. A grita louca contra alta de imposto, ao menos emergencial, vai dar problema.
É preciso arrumar a Petrobras e o setor elétrico. Não se trata de planos bonitos de reconstruir a regulação arruinada por Dilma Rousseff, necessários, mas demorados. As finanças da petroleira assombram e pioram o crédito de país e governo.
É preciso verificar quais dos elefantes brancos soltos por Dilma Rousseff, obras mal planejadas, são ainda e logo viáveis; quais obras paradas podem ser ressuscitadas.
Além do plano de reformas, o governo que vier precisa de um "plano de cem dias", de providências imediatas, com equipes frenéticas, de alto nível, que descubram como sair do chão puxando os cabelos, pois os meios de estimular consumo e investimento são escassos.
Se bobear, as "reformas" vão se perder no tumulto social e político.
12 de abril de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
Diz-se que um governo com um plano crível de mudanças profundas produziria tal melhora na confiança de empresas e consumidores que a economia voltaria a respirar sem tubos, ainda que em estado crítico.
Enquanto a fada da confiança não vem, o que fazer? É difícil dar injeções de vitamina em uma economia sem crédito, de governo quebrado e com inflação ainda alta.
Mas é preciso um choque de desfibrilador, de estabilização da atividade, já, a fim de evitar queda maior de receita do governo e o círculo vicioso criado pelo desemprego crescente.
Onde arrumar crédito? A inadimplência está mascarada. Bradesco e Itaú empurram com a barriga o reconhecimento de perdas prováveis. Os bancos estão "enrolando", no melhor dos sentidos: refinanciam, renegociam. Tentam evitar falências e o susto de balanços manchados de sangue de calotes. Menos mau. Mas não é bom sinal para a volta do crédito.
Para começar a resolver a encrenca, é preciso baixar as taxas de juros. Um plano de política fiscal (gastos do governo) crível ajudaria: derrubaria juros por conta, controlaria o dólar (e, assim, inflação). Mas o efeito é algo lento e retardado.
A construção civil vai encolher até 2017. Obras de infraestrutura (metade do setor) param. Há encalhe de residências (um quarto do setor).
A fim de dar algum jeito nisso, é preciso relançar com urgência dramática as concessões de infraestrutura, atoladas na insegurança terrível causada por Dilma Rousseff.
Será preciso ofertar rentabilidade gorda, concentrar dinheiros do BNDES nisso, rearrumar as empresas do setor (pequenas? Estrangeiras?), limpar o terreno regulatório de sujeiras menores (as maiores levam tempo). É difícil, mas é para ontem.
O setor imobiliário vai purgar excessos, estoques altos. Alguma confiança do consumidor e juros menores podem antecipar a recuperação. Mas falta crédito. O dinheiro da poupança minguou. É outra tarefa da UTI.
Dada a pindaíba, há o risco de o governo cortar mais investimento "em obras". Não pode. Terá de cortar alhures, além de arrumar algum dinheiro extra: mais imposto, mais privatizações. A grita louca contra alta de imposto, ao menos emergencial, vai dar problema.
É preciso arrumar a Petrobras e o setor elétrico. Não se trata de planos bonitos de reconstruir a regulação arruinada por Dilma Rousseff, necessários, mas demorados. As finanças da petroleira assombram e pioram o crédito de país e governo.
É preciso verificar quais dos elefantes brancos soltos por Dilma Rousseff, obras mal planejadas, são ainda e logo viáveis; quais obras paradas podem ser ressuscitadas.
Além do plano de reformas, o governo que vier precisa de um "plano de cem dias", de providências imediatas, com equipes frenéticas, de alto nível, que descubram como sair do chão puxando os cabelos, pois os meios de estimular consumo e investimento são escassos.
Se bobear, as "reformas" vão se perder no tumulto social e político.
12 de abril de 2016
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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