"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 19 de abril de 2016

CERVERÓ CONFIRMA PROPINA DE US$ 6 MILHÕES PAGA A RENAN CALHEIROS






Cerveró denuncia Renan, Cunha, Lula, Bumlai, Gabrielli & Cia.


Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró confirmou nesta segunda-feira o pagamento de propina de US$ 6 milhões para o presidente do Senado Renan Calheiros. O valor, segundo Cerveró, foi pago pelo operador Jorge Luz em relação à sonda Petrobras 10000. A informação foi dada quando o ex-diretor da Petrobras foi perguntado sobre o assunto pelo advogado de Fernando Schahin, um dos sócios do banco Schahin, que acompanhava o depoimento.

Ao citar Renan, o depoimento de Cerveró foi interrompido por Moro, já que o senador tem foro privilegiado e o depoimento estava vinculado a outro processo, que investiga o acordo entre a Petrobras e o Banco Schahin para a operação do navio-sonda Vitória 10000 como forma de quitação de um empréstimo de José Carlos Bumlai para o PT.

Cerveró já havia afirmado à Procuradoria-Geral da República, em delação premiada já homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, que Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) teriam sido os destinatários da quantia.

INTERVENÇÃO DE CUNHA

Em seu depoimento para o processo que investiga o empréstimo tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai junto ao Banco Schahin, que teria como destino o PT, Nestor Cerveró cita a intervenção do presidente da Câmara Eduardo Cunha para que parte de uma propina de R$ 20 milhões fosse paga aos participantes do esquema de corrupção na estatal.

Cerveró cita dois acertos de propina com a Samsung devido à construção de duas sondas, a Petrobras 10000 e a Vitória 10000. O acordo em relação à segunda sonda não teria sido cumprido, o que teria levado à participação de Eduardo Cunha, segundo o ex-diretor.

“Na segunda sonda, a Samsung aumentou a propina para R$ 20 milhões de dólares, propina essa que não foi paga. Finalmente, só depois de vários anos é que o Fernando Soares conseguiu, através de um apoio do deputado Eduardo Cunha receber parte da propina devida”, disse ao juíz Sérgio Moro.

SEM CONCORRÊNCIA

De acordo com as investigações da Operação Lava-Jato, a operação do navio-sonda Vitória 10000 foi encaminhada sem concorrência para a Schahin Engenharia, controlada pelo Banco Schahin, como forma de pagamento de um empréstimo tomado por José Carlos Bumlai a pedido do PT. Desdobramentos da investigação levaram também à 27ª fase da Operação Lava-Jato, com a prisão do empresário Ronan Maria Pinto. De acordo com o Ministério Público, Ronan teria sido o destinatário final de parte do empréstimo tomado por Bumlai.

Ainda no depoimento Cerveró afirmou que recebeu do então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a incumbência de usar um contrato da Petrobras para quitar uma dívida de R$ 50 milhões do PT da campanha de 2006. Cerveró prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro na tarde desta segunda-feira, o primeiro depois de ter assinado acordo de delação premiada.

PRESSIONADO POR RONDEAU


Cerveró afirmou ter procurado Gabrielli porque estava sendo pressionado pelo então ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau a conseguir dinheiro para liquidar uma dívida de campanha do PMDB, entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões. Ao expor o problema, no entanto, Gabrielli teria dito: “Vou te fazer uma proposta. Você deixa que eu resolvo o problema do Silas e você resolve o problema do PT. O PT tem uma dívida de R$ 50 milhões, decorrente da campanha, com o Banco Schahin, que precisa ser resolvida”.

Cerveró afirmou que já havia sido procurado pela Schahin, que estava interessada em operar sondas para a Petrobras em águas profundas, e viu no contrato de operação da sonda Vitória 10000 a possibilidade de resolver o problema do PT. Ao juiz, contou que chamou Fernando Schahin, diretor do grupo, para conversar e disse a ele que, para chegar a um acordo, a condição seria resolver a dívida do PT com o Banco Schahin.

— Em dois ou três dias, o Gabrielli me ligou no telefone direto. Disse: “Nestor, aquela pendencia que você me falou foi resolvida, pode tocar o barco”. Significava que tinha acertado a dívida — disse Cerveró, informando que a conversa ocorreu entre dezembro e janeiro de 2007.

SINAL VERDE DE GABRIELLI

A partir do sinal verde de Gabrielli, Cerveró disse ter delegado a sequência da documentação a seus subordinados e avisou que não teria propina porque o valor seria o destinado ao PT.

Cerveró depôs no processo em que é réu José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, que admitiu ter retirado em seu nome, no Banco Schahin, um empréstimo de R$ 12,1 milhões. Esse valor foi quitado fraudulentamente quando o grupo Schahin obteve o contrato para operar a sonda Vitória 10000, no valor de US$ 1,6 bilhão.

Cerveró deixou a Petrobras em maio de 2007. Segundo ele, o então ministro Edison Lobão lhe disse em março daquele ano que o presidente Lula afirmara que “não havia jeito” e que teria de substituí-lo para atender a bancada do PMDB, que queria o cargo para votar a CPMF.

NOVO DIRETOR DA BR


O ex-diretor da Petrobras contou que em março houve uma reunião do Conselho da Petrobras e da BR Distribuidora, com a participação da então ministra Dilma Rousseff. O mesmo conselho que o retirou da diretoria internacional da Petrobras o indicou para a BR Distribuidora. Cerveró afirmou que José Eduardo Dutra, que era presidente da BR, simplesmente passou em sua sala e disse: “Vamos embora nós, temos que ir para a BR, você é meu novo diretor financeiro da BR”

Segundo Cerveró, Dutra lhe contou que Lula havia dito: “O Nestor não pode ficar no sereno”. Para o delator, era uma espécie de reconhecimento por ter resolvido a dívida do PT.

O ex-diretor da Petrobras afirmou ter ouvido do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, na época, que o pecuarista José Carlos Bumlai tinha interesse que a dívida fosse resolvida. Cerveró disse que compartilhou cela com Bumlai, a quem foi apresentado pelo próprio Fernando Baiano na época do empréstimo.

Se considerado que o Grupo Schahin pode ter atendido integralmente o pedido de Cerveró, falta ainda identificar como o banco fez o pagamento da diferença, cerca de R$ 38 milhões. A Lava-Jato ainda não identificou se a diferença correspondia a juros da dívida, que havia sido contraída em 2004, ou se podem ter ocorrido outros empréstimos do banco Schahin ao PT..


19 de abril de 2016
Cleide Carvalho e Dimitrius Dantas
O Globo

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