"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 22 de março de 2016

NELSON BARBOSA AMEAÇA MEDIDAS DRÁSTICAS EXTRAPOLANDO SEU LIMITE




Ao fazer ameaças, Barbosa está falando em nome de quem?
















O ministro Nelson Barbosa recentemente ameaçou com adoção de medidas drásticas, caso o Congresso não aprove os projetos de Ajuste Fiscal e Reforma da Previdência. Poderia ter incluído a CPMF. Mas não o fez. A ameaça de medidas drásticas foi dirigida a quem? – pergunto eu. O titular da Fazenda caiu numa cilada contraditória que ele mesmo armou. Isso porque tais projetos são de autoria e responsabilidade da presidente Dilma Rousseff. Não dele, titular da Fazenda.
Reportagem de Sofia Fernandes, Valdo Cruz, Gustavo Patu e Eduardo Cucolo, na Folha de São Paulo,  destaca que ele está sendo criticado por setores do próprio governo e pelo PT, que discordam do rumo traçado para a política econômica. Na equipe da Fazenda, acrescentam os repórteres, surge a versão de que Nelson Barbosa resolveu fazer um alerta diante do risco do agravamento da crise, havendo possibilidade até dele vir a deixar o governo, como aconteceu com seu antecessor, Joaquim Levy. Como alternativa, Barbosa coloca a perspectiva de um enfrentamento imediato dos problemas.
Mas ele coloca tal alternativa para quem? Outra pergunta importante de ser respondida. Pelo tom, ele está inevitavelmente se dirigindo à própria presidente Dilma Rousseff e a ninguém mais. Pois a única pessoa que pode adotar medidas imediatas é logicamente a presidente da República. Assim agindo, o ministro da Fazenda está dirigindo a pressão exatamente sobre quem usou a caneta do poder para nomeá-lo. Em relação a quem mais poderia ele estar direcionando a mensagem? Ao presidente do Congresso, Renan Calheiros? Ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha? Não faria o menor sentido. Seu alvo político, dessa forma, só pode ser o Palácio do Planalto. Melhor teria agido o ministro se, ao invés de ameaçar, colocasse o cargo à disposição da presidente.
ATITUDE INOPORTUNA
Não pode haver outra interpretação sobre sua atitude. Acima de tudo, absolutamente importuna, em face do momento político que o país atravessa, profundamente contrário ao governo no qual se enquadra. Será que Nelson Barbosa não possui uma política à altura da responsabilidade a que está investido? É o que parece, em face da imaturidade de suas palavras. Desprezou a teoria de meu saudoso amigo Antônio Houaiss, que separava o significado do significante.
Sob este ângulo de análise, as expressões às quais recorreu transformaram-se em verdadeiro desastre. Não para a opinião pública de modo geral, mas para aqueles que sabem traduzir uns momentos políticos especiais de outros em panoramas gerais. Nelson Barbosa acendeu uma luz vermelha na porta de entrada, ou de saída, do gabinete que ocupa na Esplanada dos Ministérios. Ele conseguiu entrar. Conseguirá ficar? Ou deveria sair mais cedo do que ele poderia supor.
Isso porque todo planejamento econômico repousa num contexto político. A frase, aliás, não é minha. Seu autor foi o ministro Roberto Campos, quando assumiu o Ministério do Planejamento no governo Castelo Branco, abril de 64, logo após ter sido embaixador do governo João Goulart nos Estados Unidos. Campos pedia atenção para o contexto que começava a se formar no horizonte do Brasil. Ele seria demitido, em 67, pelo governo Costa e Silva. O contexto político dividia o sistema militar de poder. No lugar de Roberto Campos, Delfim Neto no comando da economia. O vento levou.
Agora pode também levar Nelson Barbosa, pouco depois de levar Joaquim Levy para o Banco Mundial. Está em Washington.

22 de março de 2016
Pedro do Coutto

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