Não há limites para o deputado Eduardo Cunha quando se trata de criar obstáculos ao processo que corre contra ele no Conselho de Ética, aproveitando-se do poder conferido pelo cargo de presidente da Câmara. A cada dia é a mesma rotina: aguarda-se para ver qual nova chicana Cunha usará para impedir que aquele colegiado afinal possa decidir o destino do deputado – que, assim exige o País, deve ser o da cassação, abrindo caminho para que ele responda na Justiça pelos crimes dos quais é acusado com fartura de provas.
A esta altura, as atitudes de Cunha e de sua tropa de choque oferecem não apenas uma aula, mas um curso completo de desfaçatez e de insulto aos brasileiros, que constrange até mesmo um Congresso cujo padrão de comportamento não é dos melhores. Assim, o mínimo que se espera de seus pares é que afastem Cunha da presidência da Câmara, para que o processo possa ter seu curso normal e que se restabeleça um pouco de decência num conselho que tem a palavra “ética” em seu nome.
Por ora, o que se testemunha são as manobras protelatórias de Cunha, explorando a seu favor cada dispositivo do regimento da Câmara, que ele conhece como poucos – de tal forma que o deputado está sempre um ou dois movimentos à frente de seus adversários.
Na quarta-feira passada, a votação no Conselho de Ética contra Cunha foi adiada pela sexta vez desde que o processo foi encaminhado, em 24 de novembro. Em decisão monocrática, o primeiro vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), aceitou um recurso de aliados de Cunha que exigiam o afastamento do relator do caso, Fausto Pinato (PRB-SP), cujas conclusões eram desfavoráveis ao presidente da Casa. Com essa atitude de Maranhão, será necessário elaborar outro relatório, que o novo relator, Marcos Rogério (PDT-RO), apresentará na sessão da próxima terça-feira. Teme-se, no entanto, que o processo volte ao ponto de partida.
O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse suspeitar que Maranhão – que, assim como Cunha, é investigado pela Lava Jato – tenha trabalhado sob orientação do presidente da Câmara para forçar a troca de relatores, conseguindo prolongar o processo por mais alguns dias. “Está difícil trabalhar nesta Casa”, desabafou Araújo, que prometeu mobilizar seus colegas para pedir o afastamento cautelar de Cunha da presidência, recorrendo à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal.
Cunha, impassível como sempre, negou que esteja promovendo um golpe. “Golpe é o que estavam fazendo descumprindo o regimento. Obedeço a Constituição, a lei e o regimento, que é o que eu procuro fazer na presidência da Casa”, declarou o deputado, sem corar. Seus aliados repetem a mesma ladainha. O deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), por exemplo, acusou o presidente do Conselho de Ética de ser “um descumpridor contumaz do regimento” e disse a ele que “esse processo está se retardando porque o senhor não está observando o regimento da Casa e deste conselho”.
Fiel à sua estratégia de antecipar-se aos oponentes, Cunha já foi ao Supremo para tentar se garantir no cargo, sob o argumento de que é vítima de perseguição por parte de “adversários políticos”. Ontem, na sessão do Conselho de Ética em que seria apresentado o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara, mais uma vez nada foi votado – mas houve tempo para enxovalhar ainda mais o Congresso. Um deputado leal ao peemedebista trocou sopapos com um desafeto, que havia criticado a “turma do Cunha”. Na cena deprimente, não faltaram arroubos de valentia: “Macho nenhum vai tocar em mim, não!”.
Esse é o clima de bodega em que Cunha e seus apoiadores transformaram o Conselho de Ética – que deveria ser o lugar da defesa institucional da Câmara contra os parlamentares que não respeitam o decoro, mas que se transformou num circo cujos palhaços são os eleitores.
11 de dezembro de 2015
Estadão
A esta altura, as atitudes de Cunha e de sua tropa de choque oferecem não apenas uma aula, mas um curso completo de desfaçatez e de insulto aos brasileiros, que constrange até mesmo um Congresso cujo padrão de comportamento não é dos melhores. Assim, o mínimo que se espera de seus pares é que afastem Cunha da presidência da Câmara, para que o processo possa ter seu curso normal e que se restabeleça um pouco de decência num conselho que tem a palavra “ética” em seu nome.
Por ora, o que se testemunha são as manobras protelatórias de Cunha, explorando a seu favor cada dispositivo do regimento da Câmara, que ele conhece como poucos – de tal forma que o deputado está sempre um ou dois movimentos à frente de seus adversários.
Na quarta-feira passada, a votação no Conselho de Ética contra Cunha foi adiada pela sexta vez desde que o processo foi encaminhado, em 24 de novembro. Em decisão monocrática, o primeiro vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), aceitou um recurso de aliados de Cunha que exigiam o afastamento do relator do caso, Fausto Pinato (PRB-SP), cujas conclusões eram desfavoráveis ao presidente da Casa. Com essa atitude de Maranhão, será necessário elaborar outro relatório, que o novo relator, Marcos Rogério (PDT-RO), apresentará na sessão da próxima terça-feira. Teme-se, no entanto, que o processo volte ao ponto de partida.
O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse suspeitar que Maranhão – que, assim como Cunha, é investigado pela Lava Jato – tenha trabalhado sob orientação do presidente da Câmara para forçar a troca de relatores, conseguindo prolongar o processo por mais alguns dias. “Está difícil trabalhar nesta Casa”, desabafou Araújo, que prometeu mobilizar seus colegas para pedir o afastamento cautelar de Cunha da presidência, recorrendo à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal.
Cunha, impassível como sempre, negou que esteja promovendo um golpe. “Golpe é o que estavam fazendo descumprindo o regimento. Obedeço a Constituição, a lei e o regimento, que é o que eu procuro fazer na presidência da Casa”, declarou o deputado, sem corar. Seus aliados repetem a mesma ladainha. O deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), por exemplo, acusou o presidente do Conselho de Ética de ser “um descumpridor contumaz do regimento” e disse a ele que “esse processo está se retardando porque o senhor não está observando o regimento da Casa e deste conselho”.
Fiel à sua estratégia de antecipar-se aos oponentes, Cunha já foi ao Supremo para tentar se garantir no cargo, sob o argumento de que é vítima de perseguição por parte de “adversários políticos”. Ontem, na sessão do Conselho de Ética em que seria apresentado o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara, mais uma vez nada foi votado – mas houve tempo para enxovalhar ainda mais o Congresso. Um deputado leal ao peemedebista trocou sopapos com um desafeto, que havia criticado a “turma do Cunha”. Na cena deprimente, não faltaram arroubos de valentia: “Macho nenhum vai tocar em mim, não!”.
Esse é o clima de bodega em que Cunha e seus apoiadores transformaram o Conselho de Ética – que deveria ser o lugar da defesa institucional da Câmara contra os parlamentares que não respeitam o decoro, mas que se transformou num circo cujos palhaços são os eleitores.
11 de dezembro de 2015
Estadão
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