Deputados não debandaram em massa para os lados do impeachment. Menos ainda o povo desceu às ruas no clamor pela deposição de Dilma Rousseff. Daqui a dois meses será diferente ou pelo menos haverá motivos para que os brasileiros estejam mais fartos, como estima a oposição?
Por enquanto, o ambiente parece uma mistura pastosa de raiva e torpor.
Na avaliação dos dois lados extremos da pendenga, ainda vai mal a venda de ingressos para o show das ruas, por assim dizer, o interesse pelas manifestações maiores pró e contra, que começam no domingo.
Parlamentares se bandeiam no conta-gotas para o partido da derrubada, ainda que uns dois terços do eleitorado se declarem pelo impeachment, embora pareçam na verdade querer apenas que a presidente se vá, pois pouquíssima gente entende as minúcias do processo, menos ainda deste.
Os adeptos da derrubada, como se sabe, pretendem, portanto, esquentar os tamborins da deposição até o fim do recesso parlamentar, 2 de fevereiro, uma terça da semana que antecede o Carnaval. O Congresso deve voltar de fato lá pelo dia 15.
O PMDB de oposição aberta pretende antecipar para janeiro a convenção do partido, antes marcada para março, a fim de abalar o governo no período morto de janeiro. Na política, por ora, não há outros espetáculos marcados. Difícil que os organizadores de protestos de rua se sujeitem ao fiasco de manifestações convocadas para janeiro, ainda mais aqueles que pretendam contar com a classe média alta paulistana.
Haverá, porém, motivos mais sérios de irritação e tristeza.
Janeiro deve ser um mês de choque para o emprego. Não se trata de dizer que haverá uma explosão do desemprego, embora a parcela de pessoas desocupadas venha crescendo cada vez mais rápido faz um ano. Será, porém, um início de ano especialmente deprimido –2014 não foi assim, faz mais de dez anos que não é assim.
Jovens formados no colégio e, pior, nas faculdades vão se perder num deserto de vagas de trabalho. Os poucos contratados temporários serão de fato temporários –alguns costumam aproveitar o bico a fim de cavar uma vaga fixa, que dificilmente haverá, assim como tampouco haverá trabalho fácil em outra parte. Dada a incerteza incrementada pela desordem política ainda maior, a perspectiva dos empresários é de jogar ainda mais na retranca.
As finanças (dólar, juros, Bolsas) podem estar chacoalhadas por rebaixamentos da nota de crédito do governo do Brasil, uma talvez ainda em janeiro, outra na boca do forno, para sair entre o Carnaval e a Semana Santa. Deve espalhar mais miasmas no ambiente pestilento. Talvez o ministro da Fazenda não dure até a Quarta-feira de Cinzas.
Em 20 de janeiro, pode bem ser que o BC tenha elevado os juros já terríveis, um tema distante para a maioria do povo, mas que vai repercutir mal, de cima para baixo, em gotejamento rápido de maus humores.
Logo no dia 3 de março sai o resultado oficial do crescimento da economia em 2015. O PIB é também uma abstração para quase todos os cidadãos, mas a notícia de que teremos vivido uma das três ou quatro maiores recessões da história da República vai pegar igualmente mal.
Não haverá folga para o governo.
11 de dezembro de 2015
Vinicius Torres Freire
Por enquanto, o ambiente parece uma mistura pastosa de raiva e torpor.
Na avaliação dos dois lados extremos da pendenga, ainda vai mal a venda de ingressos para o show das ruas, por assim dizer, o interesse pelas manifestações maiores pró e contra, que começam no domingo.
Parlamentares se bandeiam no conta-gotas para o partido da derrubada, ainda que uns dois terços do eleitorado se declarem pelo impeachment, embora pareçam na verdade querer apenas que a presidente se vá, pois pouquíssima gente entende as minúcias do processo, menos ainda deste.
Os adeptos da derrubada, como se sabe, pretendem, portanto, esquentar os tamborins da deposição até o fim do recesso parlamentar, 2 de fevereiro, uma terça da semana que antecede o Carnaval. O Congresso deve voltar de fato lá pelo dia 15.
O PMDB de oposição aberta pretende antecipar para janeiro a convenção do partido, antes marcada para março, a fim de abalar o governo no período morto de janeiro. Na política, por ora, não há outros espetáculos marcados. Difícil que os organizadores de protestos de rua se sujeitem ao fiasco de manifestações convocadas para janeiro, ainda mais aqueles que pretendam contar com a classe média alta paulistana.
Haverá, porém, motivos mais sérios de irritação e tristeza.
Janeiro deve ser um mês de choque para o emprego. Não se trata de dizer que haverá uma explosão do desemprego, embora a parcela de pessoas desocupadas venha crescendo cada vez mais rápido faz um ano. Será, porém, um início de ano especialmente deprimido –2014 não foi assim, faz mais de dez anos que não é assim.
Jovens formados no colégio e, pior, nas faculdades vão se perder num deserto de vagas de trabalho. Os poucos contratados temporários serão de fato temporários –alguns costumam aproveitar o bico a fim de cavar uma vaga fixa, que dificilmente haverá, assim como tampouco haverá trabalho fácil em outra parte. Dada a incerteza incrementada pela desordem política ainda maior, a perspectiva dos empresários é de jogar ainda mais na retranca.
As finanças (dólar, juros, Bolsas) podem estar chacoalhadas por rebaixamentos da nota de crédito do governo do Brasil, uma talvez ainda em janeiro, outra na boca do forno, para sair entre o Carnaval e a Semana Santa. Deve espalhar mais miasmas no ambiente pestilento. Talvez o ministro da Fazenda não dure até a Quarta-feira de Cinzas.
Em 20 de janeiro, pode bem ser que o BC tenha elevado os juros já terríveis, um tema distante para a maioria do povo, mas que vai repercutir mal, de cima para baixo, em gotejamento rápido de maus humores.
Logo no dia 3 de março sai o resultado oficial do crescimento da economia em 2015. O PIB é também uma abstração para quase todos os cidadãos, mas a notícia de que teremos vivido uma das três ou quatro maiores recessões da história da República vai pegar igualmente mal.
Não haverá folga para o governo.
11 de dezembro de 2015
Vinicius Torres Freire
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