Todo o mundo está sujeito a sofrer algum tipo de violência nesta vida, mas nós, brasileiros, corremos mais riscos do que o resto do mundo. No Brasil, as coisas se resolvem na porrada, e nenhum homem ou mulher, nenhum jovem ou idoso, nenhuma travesti ou outra minoria do momento escapará disso. Minorias e maiorias, das mais diversas cores, estarão sujeitas ao rigor biliário brasileiro. Aquele que não corre este risco só pode estar morto; e mesmo aos mortos não é garantido o sossego debaixo da terra. A grande maioria de nós atravessará a vida como quem atravessa a rua quando vê uma pessoa suspeita. Viver no Brasil é estar em constante estado de alerta para tentar perceber quem vem vindo na nossa direção.
Se os vinhos e queijos são a marca da França; se as folhas de coca e as touquinhas de lã são a marca da Bolívia, a nossa marca é a de tiros de fuzil na lataria do carro. Diria até que a violência é a força motriz que move o país - a tal da praxeologia de que os austríacos falavam. Aqui, toda a ação humana se manifesta através da violência física por atos menos ou mais brutais do que um chute na altura dos rins.
Para uma pessoa habituada a sair de casa - e sempre me espanta o entusiasmo com que as pessoas saem de suas casas - a rua não é dos lugares mais agradáveis. Esta pessoa estará sempre sujeita a sofrer algum tipo de violência e, com frequência, sofrerá.
Em nenhum campo de atuação poderá contar com o mínimo de segurança ou se verá livre de assaltos. Mesmo se você for um juiz, com direito a escolta armada, correrá o risco de ser perseguido e assassinado de madrugada. Se você denunciar algum escândalo de corrupção em seu município, poderá aparecer morto nas semanas seguintes. Se você protestar contra o Estado, os agentes deste tratam de silenciá-lo na porrada. Se você dirigir um carro preto, correrá o risco de apanhar; se você forpassageiro desse carro preto, também. Não importa a sua orientação sexual, classe econômica ou o assento que ocupa no carro. Se você for juiz ou médico, dentista ou doméstica.
Portanto, nunca entendi a frequente pergunta: Por que o Brasil é o país onde mais se mata tal e tal minoria? Em vez disso, a pergunta que devia ser feita é: Por que tudo é motivo de violência neste país?
Há muito que intelectual brasileiro e seus discípulos barbudos expressam indignação sofrida apenas por um ou outro grupo específico. E, a partir daí, propõem uma solução. É como alguém que tivesse lepra e fosse tratando das feridas no corpo enchendo-se de band-aids.
Uma por uma, todas aquelas tolices baseadas na afirmação de que o brasileiro é amigável e cordial precisam cair. Esta afirmação é uma estupidez sem tamanho. E só atrapalha. A cada dez homicídios que ocorrem no planeta, um acontece no Brasil. Depois do mosquito, o brasileiro é o animal mais mortífero do mundo.
E, mesmo assim, ainda há essa mania esdrúxula de tentar desvendar as violências todas por aqui com explicações sociais e fobias. Qualquer explicação que não fale da maldade e da moralidade, em país onde dentista é queimada viva e criança de cinco anos é morta na frente dos pais, não pode estar certa. Se intelectual e seus discípulos barbudos não percebem isso, nenhuma solução apropriada poderá surgir daí.
11 de dezembro de 2015
Guy Franco
Se os vinhos e queijos são a marca da França; se as folhas de coca e as touquinhas de lã são a marca da Bolívia, a nossa marca é a de tiros de fuzil na lataria do carro. Diria até que a violência é a força motriz que move o país - a tal da praxeologia de que os austríacos falavam. Aqui, toda a ação humana se manifesta através da violência física por atos menos ou mais brutais do que um chute na altura dos rins.
Para uma pessoa habituada a sair de casa - e sempre me espanta o entusiasmo com que as pessoas saem de suas casas - a rua não é dos lugares mais agradáveis. Esta pessoa estará sempre sujeita a sofrer algum tipo de violência e, com frequência, sofrerá.
Em nenhum campo de atuação poderá contar com o mínimo de segurança ou se verá livre de assaltos. Mesmo se você for um juiz, com direito a escolta armada, correrá o risco de ser perseguido e assassinado de madrugada. Se você denunciar algum escândalo de corrupção em seu município, poderá aparecer morto nas semanas seguintes. Se você protestar contra o Estado, os agentes deste tratam de silenciá-lo na porrada. Se você dirigir um carro preto, correrá o risco de apanhar; se você forpassageiro desse carro preto, também. Não importa a sua orientação sexual, classe econômica ou o assento que ocupa no carro. Se você for juiz ou médico, dentista ou doméstica.
Portanto, nunca entendi a frequente pergunta: Por que o Brasil é o país onde mais se mata tal e tal minoria? Em vez disso, a pergunta que devia ser feita é: Por que tudo é motivo de violência neste país?
Há muito que intelectual brasileiro e seus discípulos barbudos expressam indignação sofrida apenas por um ou outro grupo específico. E, a partir daí, propõem uma solução. É como alguém que tivesse lepra e fosse tratando das feridas no corpo enchendo-se de band-aids.
Uma por uma, todas aquelas tolices baseadas na afirmação de que o brasileiro é amigável e cordial precisam cair. Esta afirmação é uma estupidez sem tamanho. E só atrapalha. A cada dez homicídios que ocorrem no planeta, um acontece no Brasil. Depois do mosquito, o brasileiro é o animal mais mortífero do mundo.
E, mesmo assim, ainda há essa mania esdrúxula de tentar desvendar as violências todas por aqui com explicações sociais e fobias. Qualquer explicação que não fale da maldade e da moralidade, em país onde dentista é queimada viva e criança de cinco anos é morta na frente dos pais, não pode estar certa. Se intelectual e seus discípulos barbudos não percebem isso, nenhuma solução apropriada poderá surgir daí.
11 de dezembro de 2015
Guy Franco
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