Albert Einstein legou o princípio de que tudo é relativo, só Deus é absoluto. Essa relatividade assinalada pela pesquisa do Datafolha, destacada nas reportagens de Ricardo Mendonça e Alessandro Janoni reflete plenamente o que os números indicam sobre as posições políticas da presidente Dilma Rousseff, do vice Michel Temer e do deputado Eduardo Cunha.
A avaliação do desempenho da presidente da República melhorou alguns centímetros, mas continua muito ruim. Entretanto para 58% um eventual governo Michel Temer seria pior ou igual ao de Dilma.
Quanto à situação de Eduardo Cunha, nada menos que 82% acham que deve ter seu mandato cassado. As comparações – portanto, inevitáveis – ajudam pelo menos por agora a permanência da chefe do Executivo no Palácio do Planalto. Tudo é relativo e assim é impossível, na política, dissociar os fatos e o peso dos personagens neles envolvidos.
Apesar de tudo, 56% acham que Dilma deveria renunciar. Porém, entre a renúncia e o impeachment, digo eu, há uma distância bastante significativa. Vale acentuar que, em sua reportagem, Ricardo Mendonça destaca que a faixa dos que esperam a renúncia, no espaço de três semana,s declinou 6 pontos na opinião pública, recuando de 62 para 56%.
Os números do Datafolha somados aos resultados do julgamento do Supremo na semana passada são positivos para a presidente, no sentido pessoal, não do seu governo. Basta dizer que 65% o consideram ruim ou péssimo. Mas este é um outro aspecto da questão e não inclui, pelo menos ainda, qualquer juízo de valor a respeito da substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda. Nem poderia.
POPULAÇÃO IGNORA
A população está distante dessa questão. Prova disso de modo geral é que 40% – assinala o Datafolha – não sabem que o vice Michel Temer assumiria o poder, caso Dilma Rousseff dele fosse afastada. Os números do levantamento possuem e apresentam sensibilidade própria abrangendo o conhecimento coletivo.
E é do conhecimento coletivo que no fundo da questão partem os caminhos da política. O impedimento de uma presidente da República é algo profundamente complexo e não se pode exigir do povo a plena compreensão dessa complexidade.
Daí resulta a predominância de uma relativa força de inércia que fornece a base de um equilíbrio mínimo de Dilma Rousseff no Planalto, enquanto abre pra ela a perspectiva –fraca, mas sempre perspectiva – de uma alvorada que ilumine seus passos.
Poderá acontecer ou não, mas isso e outra coisa. Esta análise pode se calcular tem prazo de validade no final dos próximos 7 meses. As tentativas de impeachment vão ter que esperar até lá. O Datafolha pesquisou também as atuais tendências para sucessão de 18 se as eleições fossem hoje: Aécio Neves 26%, Lula 20 pontos, Marina Silva com 19, índice muito elevado para quem comanda o partido sem bases estruturadas. Michel Temer aparece com apenas 2% das intenções de voto.
LULA E SEU LUGAR NA HISTÓRIA DO BRASIL
O ex-presidente Lula, que já tinha assegurado sua presença na História do Brasil, por ter participado diretamente de 7 eleições presidenciais, perdendo 3 e vencendo 4, semana passada consolidou ainda mais sua inserção, no depoimento que na qualidade de informante prestou a Polícia Federal em Brasília. Reportagem também histórica – pode-se dizer – de Vinícius Sassine e Evandro Éboli, O Globo de sábado, apresenta o resumo do depoimento.
O tema era a corrupção na Petrobrás, praticada em série conjuntamente por ex-diretores da estatal e empresário particulares, incluindo os eternos intermediários. O que ficará na história brasileira, neste caso é o fato de Lula ter afirmado surpreendentemente que coubera ao ex-ministro José Dirceu, Chefe da Casa Civil até 2005, encaminhar a ele Lula as indicações políticas dos diretores nomeados. Nomeados por quem? Por ele Lula.
É incrível dessa forma que o ex-presidente da República transfira o conteúdo dos atos de sua responsabilidade, os quais assinou, para o ministro José Dirceu. Lula confundiu diretamente a indicação com a nomeação. Duas etapas distintas, sobretudo para o presidente da República. Daí surge mais um registro histórico para os de hoje e para aqueles que vierem depois de nós.
21 de dezembro de 2015
Pedro do Coutto
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