Na questão do impeachment, não há terceira via nem jeitinho: ou Dilma consegue 171 votos de deputados, mínimo para mantê-la no poder, ou Michel assume. Na primeira hipótese, Madame precisará reformular suas diretrizes de governo e mudar o ministério, sabendo não poder contar com os grupos do PMDB e de outros partidos que terão votado contra ela, mesmo os hesitantes da base oficial. Caso a votação aconteça em fevereiro, melhor para a presidente, abrindo-se a oportunidade de inaugurar uma nova fase e tentar superar a crise econômica. Não vai dar para sugerir a união nacional. Precisará apoiar-se nas próprias forças, com o PT à frente.
No reverso da medalha, se tiver sido afastada pela maioria da Câmara e, depois, condenada pelo Senado, presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, a presidente sairá da História. Caberá ao vice Miguel Temer recompor os cacos da louça quebrada, aí sim apelando para a união nacional. Mesmo os deputados que terão se pronunciado pela permanência de Dilma serão chamados a participar de um ministério chamado de “coração de mãe”, onde sempre caberá mais um. Prevê-se que o então novo presidente apele para a formação de um programa de governo capaz de reunir o mínimo de opiniões convergentes, missão difícil, mas não impossível.
Com certeza o PT ficará de fora, sob a liderança do Lula, já que Dilma terá mergulhado no esquecimento. Michel, no palácio do Planalto, não contará com a simpatia da população, mas, ao menos, receberá uma espécie de moratória positiva, de alguns meses onde ficará sendo observado. Quebrará a cara, se limitar-se às diretrizes do documento divulgado dias atrás pelo PMDB, a tal “ponte para o futuro”. Para governar, necessitará muito mais do que pedir sacrifícios à nação. No caso, de algum antídoto contra o desemprego, os impostos e a alta do custo de vida.
DIAS TENSOS
Os dias ou semanas que precedem a votação do impeachment serão tensos e marcados pelo acirramento dos ânimos. Dilma e o PT contam em receber mais do que os 171 votos de deputados em favor de sua permanência, mas, se brincarem em serviço, arriscam-se a ser postos para fora. A opinião pública não confia no partido nem na presidente, como também olha de viés para o atual vice-presidente. O produto mais em falta nas prateleiras do país chama-se “confiança”, que Michel reconheceu não dispor, seja da parte de Dilma, seja do cidadão comum.
Em suma, melhor seria que tudo se resolvesse ainda este ano, ou no máximo nos primeiros dias de janeiro, mas imaginar Suas Excelências abrindo mão das férias, só por milagre.
08 de dezembro de 2015
Carlos Chagas
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