SÃO PAULO - A mais recente pesquisa Datafolha sobre o cenário político-eleitoral mostra que a crise está afetando a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Além de ele sair derrotado em todas as simulações de segundo turno, a sondagem revela que a imagem do petista como ex-presidente sofre forte erosão.
Em 2010, 71% dos brasileiros consideravam Lula o melhor presidente que o país já teve. Agora, são mais modestos 39% os que o colocam em primeiro lugar. Num mundo 100% racional, isso seria impossível. A exemplo do que se dá no esporte, depois que um recorde foi estabelecido, a marca só poderia ser derrubada por performance superior no futuro.
Só que o mundo não é 100% racional. Na verdade, quando entramos no terreno da história, a objetividade evapora. O problema não é a inexistência de fatos aferíveis, mas o modo como os encadeamos e procuramos encaixá-los numa narrativa coerente. As possibilidades são tantas que tornam a tarefa sobre-humana.
Qualquer evento histórico é fruto de um número tão grande de interações entre pessoas e ocorrências (climáticas, econômicas etc.) que é simplesmente impossível calculá-las. Só que nossas mentes não se acanham diante da intratabilidade do problema e adotam sua hipótese favorita como eixo explicativo, ignorando tudo que não se encaixe nela.
Para agravar o quadro, a própria memória, que Le Goff definiu como a matéria-prima da história, é mais do que traiçoeira. Experimentos neurocientíficos mostram que o conteúdo de nossas lembranças é modificado ao sabor de nossa subjetividade a cada vez que as acessamos.
O resultado, paradoxal, é não apenas que o passado se torna presa fácil de narrativas ideologicamente motivadas mas também que é muito mais incerto do que se imagina. O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro.
12 de dezembro de 2015
Helio Schwartsman
Em 2010, 71% dos brasileiros consideravam Lula o melhor presidente que o país já teve. Agora, são mais modestos 39% os que o colocam em primeiro lugar. Num mundo 100% racional, isso seria impossível. A exemplo do que se dá no esporte, depois que um recorde foi estabelecido, a marca só poderia ser derrubada por performance superior no futuro.
Só que o mundo não é 100% racional. Na verdade, quando entramos no terreno da história, a objetividade evapora. O problema não é a inexistência de fatos aferíveis, mas o modo como os encadeamos e procuramos encaixá-los numa narrativa coerente. As possibilidades são tantas que tornam a tarefa sobre-humana.
Qualquer evento histórico é fruto de um número tão grande de interações entre pessoas e ocorrências (climáticas, econômicas etc.) que é simplesmente impossível calculá-las. Só que nossas mentes não se acanham diante da intratabilidade do problema e adotam sua hipótese favorita como eixo explicativo, ignorando tudo que não se encaixe nela.
Para agravar o quadro, a própria memória, que Le Goff definiu como a matéria-prima da história, é mais do que traiçoeira. Experimentos neurocientíficos mostram que o conteúdo de nossas lembranças é modificado ao sabor de nossa subjetividade a cada vez que as acessamos.
O resultado, paradoxal, é não apenas que o passado se torna presa fácil de narrativas ideologicamente motivadas mas também que é muito mais incerto do que se imagina. O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro.
12 de dezembro de 2015
Helio Schwartsman
Nenhum comentário:
Postar um comentário