Através da Advocacia Geral da União o governo entregou ao presidente do Senado a defesa diante da rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. A tentativa é de livrar-se da acusação de haver maquiado no orçamento 40 bilhões de reais em pedaladas.
A imagem que fica é de um cidadão (ou uma cidadã) que se depara com um gatinho miando à sua frente, tentando impedir a caminhada, coisa que será superada com um simples peteleco. Só que, na verdade, não se trata de um gatinho, mas de um leão feroz que urra em vez de miar.
Assim vai andando a presidente Dilma, imaginando fácil afastar as pedaladas dos pedidos de impeachment apresentados contra ela. Gatinhos sem força para obstá-la.
Só que Madame errou de bicho. É um leão que busca impedir sua trajetória. Porque se as pedaladas são superáveis, o mesmo não acontece com o desemprego em massa, o aumento de impostos, taxas e tarifas, a alta do custo de vida, a perda do poder aquisitivo dos salários, as greves, a queda na produção industrial, os elevados juros e a incapacidade de seu governo enfrentar tantos obstáculos de uma só vez.
Traduzindo: se a presidente for afastada, será em função desse conjunto de empecilhos não resolvidos, jamais por conta de haver manipulado números orçamentários. Fica óbvio que de forma pacífica a população não aceitará por mais tempo tamanho conjunto de desgraças. Encontra-se a um passo de explodir. Para evitar o inevitável, a solução será procurada através dos mecanismos constitucionais e jurídicos que sobraram: o impeachment capaz de debelar o caos já estabelecido no país. Certeza não há de que o novo governo a ser estabelecido terá condições de afastar a indignação e a revolta já batendo às portas da sociedade, mas inexiste outra alternativa. Com ou sem Michel Temer, antecipando-se ou não as eleições, algo acontecerá.
O leão não espera. Presas e garras estão à vista de todos. Os urros já se ouvem, enquanto o governo ilude-se na esperança de ser o miado de um gatinho.
REPATRIAR O CRIME
Ficou para terça-feira a decisão da Câmara de aprovar ou rejeitar uma das maiores aberrações jamais encenadas no país. Na bancarrota, precisando fazer caixa, o governo encaminhou ao Congresso projeto que facilita a repatriação de bilhões depositados irregularmente lá fora por brasileiros e empresas sediadas no Brasil. Dinheiro cujas origens são desconhecidas, provenientes de propinas, roubalheira, contrabando, tráfico de drogas, negócios escusos e, quem sabe, a poupança das velhinhas aposentadas ávidas de botar o seu rico dinheirinho para render em paraísos fiscais sem pagar impostos aqui. Nem deveriam os integrantes da equipe econômica ter cogitado de propor essa vigarice, fiados em que voltando com multa de 30%, esse dinheiro servirá para sairmos da crise. Ledo engano. Primeiro porque nem as velhinhas se arriscarão, mesmo sabendo que pelo projeto em discussão, seriam anistiadas de seu crime contra a Receita Federal. Melhor deixar lá o produto das irregularidades.
O que desperta indignação é que os deputados estiveram, esta semana, a um passo de aprovar tamanho horror, que beneficiaria até mesmo os réus do petrolão. Com à última hora algum dos líderes oficiais desconfiou de que um raio de ética e bom senso poderia iluminar o plenário da Câmara, o governo admitiu adiar a votação para terça-feira.
06 de novembro de 2015
Carlos Chagas
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