A Polícia Federal afirmou em relatório de investigação que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula) ‘capitaneava quadrilha’. Segundo o documento subscrito pelo delegado Márcio Adriano Anselmo, da força-tarefa da Operação Lava Jato, Dirceu não perdeu influência mesmo depois de perder a cadeira de ministro mais poderoso do Governo Lula, em 2005, no auge do escândalo do Mensalão.
“Observa-se portanto que o fato de ter deixado o posto de ministro da Casa Civil e a cassação do mandato de deputado federal não serviram para retirar do investigado José Dirceu todo o poder político que o mesmo angariou no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sendo o homem forte do primeiro mandato”, assinala a PF no relatório em que indicia o ex-ministro, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e mais 12 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica.
DINHEIRO JORRA
A PF invoca a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF) em seu voto no julgamento da célebre Ação Penal 470 (Mensalão). “O dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia. Se não circular com volume e sem obstáculo, não temos esquemas como esse”, disse a ministra, na ocasião.
“E aqui no presente caso o que se observa é que o dinheiro jorra abundante, seja pelas artérias da Petrobrás, seja por meio de pequenos vasos sanguíneos irrigando toda sorte de “pequenos” corruptos”, afirmou o delegado Márcio Adriano Anselmo, da força-tarefa da Lava Jato.
“CONSULTORIA”
O ponto central da investigação que culminou com o enquadramento penal de Dirceu é sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, que movimentou R$ 34 milhões entre 2009 e 2014. A PF suspeita que o maior volume desses recursos tenha tido origem em pagamentos de empreiteiras para as quais Dirceu abriu as portas, inclusive, na Petrobrás.
A PF ressalta que ‘sequer o fato de responder à ação penal do Mensalão, na condição de réu junto ao Supremo (Tribunal Federal), lhe retirou os clientes das vultosas consultorias vazias. É possível identificar, até aqui, o recebimento, por José Dirceu e outros membros da quadrilha por ele capitaneada.”
Em um trecho do relatório de indiciamento, a PF destaca a ligação do ex-ministro com empresário Fernando Moura, emblemático lobista ligado ao PT. Também cita o delator Milton Pascowitch, pivô da Operação Pixuleco, que levou Dirceu para a prisão no dia 3 de agosto – Pascowitch denunciou o esquema de propinas supostamente liderado por Dirceu.
RELACIONAMENTOS
As condutas de Dirceu identificadas até o momento pela PF, em resumo, foram reunidas em dois tópicos:
“I – relacionamento com os executivos das empresas Hope e Personal, que atuam na terceirização de serviços no âmbito da Petrobrás e que, por terem sido “apresentadas” à empresa por Fernando Moura e seu irmão Olavo Moura, “apadrinhadas” por José Dirceu, o grupo passou a “titularizar” uma parcela do faturamento dessas empresas, cujo pagamento era instrumentalizado por Milton Pascowitch.
II – relacionamento com empreiteiras que atuam no âmbito da Petrobrás, notadamente Engevix, OAS, UTC, Odebrecht, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa, que teriam carregado vantagens ilícitas, dissimuladas como “serviços de consultoria” para José Dirceu, seja diretamente ou ainda por meio da Jamp Engenharia.”
02 de setembro de 2015
Ricardo Brandt, Julia Affonso, Andreza Matais e Fausto Macedo
Estadão
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