Com o depoimento do analista Dalmey Fernando Werlang, do Núcleo de Inteligência da Polícia Federal, ganha mais um capítulo a jogada armada pela Odebrecht na esperança de anular a operação Lava Jato, da mesma forma como aconteceu em outras importantes operações da Polícia Federal, que acabaram sepultadas por erros cometidos por delegados ou agentes, como a Satiagraha e a Castelo de Areia.
Os dirigentes da empreiteira se recusam a fazer delação premiada, porque ainda acreditam que podem conseguir impunidade semelhante à do banqueiro Daniel Dantas, que na operação Satiagraha conseguiu se livrar de uma sentença de 10 anos de prisão. Na época, ele até ironizou a Justiça e declarou só se preocupar com a primeira instância, porque “lá em cima eu resolvo”. Referia-se, é claro, aos tribunais superiores.
No caso da Lava Jato, o golpe foi plantar um aparelho ilegal de escuta na cela do doleiro Alberto Yousseff, que desde o início se socorreu na delação premiada e, mesmo sem escuta, vem falando o que deve e o que não deve, com declarações que envolvem até Lula e Dilma no esquema de propina.
TESTEMUNHA DE DEFESA
Na condição de “testemunha de defesa” de um dos executivos da Odebercht, o analista Werlang afirmou à Justiça Federal no Paraná que os delegados da Operação Lava-Jato solicitaram a ele que instalasse “com urgência” equipamento de escuta ambiental em uma cela da Custódia da PF em Curitiba. Ele apontou como autores do pedido os delegados Igor Romário de Paula, delegado regional de combate ao crime organizado, Márcio Adriano Anselmo e Rosalvo Ferreira Franco, este superintendente regional da corporação no Estado.
Segundo o analista, o pedido dos superiores teria sido feito horas antes da prisão do doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava-Jato. Disse também ter montado o aparelho de escuta ambiental “com auxílio de uma colega do Núcleo de Inteligência, Maria Inês, e com apoio de duas pessoas da Custódia”.
O analista disse ter comentado com o delegado Igor que não tinha condições de fazer a análise do conteúdo do grampo. “Ele (Igor) disse que precisava só da coleta e que era para passarmos o material em mídia para o delegado Márcio (Anselmo). A gente estava entendendo que seria uma demanda judicial.”
CHEIO DE FUROS
O golpe armado pelos policiais federais cooptados pela Odebrecht está cheio de furos, não tem o profissionalismo de Daniel Dantas. Para começar, o aparelho de escuta colocado é um trambolho, totalmente obsoleto, está forade uso há décadas. Hoje, os grampos são miniaturas praticamente imperceptíveis, são vendidos em formato de botão de camisa, caneta, relógio, óculos, coisas assim.
O depoimento do analista Werlang também é cheio de furos. Ele disse que o conteúdo da escuta era entregue para o delegado Márcio Anselmo e, na ausência dele, para uma delegada chamado Érika. Mas era entregue por quem? Pelo próprio analista? E não aguardou cópias? Ele comunicou à Chefia do Núcleo de Inteligência esta tarefa, ou estaria fazendo um biscate? As três pessoas que o ajudaram foram convocadas por quem para fazer o serviço. Werlang já teria instalado outros grampos sem ordem judicial? São dúvidas e mais dúvidas, alguma verdadeiramente infantis. Além disso, por que o interesse em grampear Yousseff, se ele jamais de recusou a falar?
Detalhe importante: em agosto, o Ministério Público Federal denunciou criminalmente o analista da PF por calúnia contra seus superiores. A Lava-Jato acha que Werlang se engajou na estratégia de contrainteligência montada para colocar em xeque a investigação.
20 de setembro de 2015
Carlos Newton
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