BELO HORIZONTE – O assunto aqui abordado pode parecer fútil, mas não deixa de ser uma amostra da ineficiência da administração pública e do custo Brasil.
Estive no aeroporto de Confins para pegar um cachorro que chegava num voo às 6h30, o que me obrigou a acordar por volta das 4h30. A aeronave já havia pousado, mas o portão de desembarque e os guichês da companhia aérea permaneciam desertos. Ninguém para dar informação, a não ser na central de informações do aeroporto, que, evidentemente, não sabe detalhes sobre desembarques que estejam ocorrendo.
Os passageiros começaram a desembarcar, mas não havia por perto ninguém que pudesse me informar sobre o paradeiro do meu insólito passageiro. Após umas duas horas circulando pelo saguão inacabado de Confins, fui informado de que, possivelmente, o animal havia sido encaminhado para o terminal de cargas. Disseram-me que ele havia viajado como carga e, como tal, deveria desembarcar lá. Detalhe: eu havia contratado um motorista por um preço que cobriria apenas a ida e volta rápida a Confins. Mas lá fomos nós para o distante terminal de cargas, onde a entrada é controlada e, acertadamente, não se permite a livre circulação de pessoas.
PRIMEIRO, UM EXAME
Esperamos por um bom tempo antes de sermos informados de que minha carga estava chegando. Ótimo, pegaríamos o bichinho e nos mandaríamos. Que nada! Fui avisado de que, primeiro, ele seria examinado por um veterinário para, depois, passar pela inspeção da Receita Federal, à qual eu deveria pagar uma taxa.
Tudo bem, cadê o veterinário? Após vários telefonemas, soube que o profissional que estaria de plantão entrou de férias e que outro veterinário estava sendo convocado para nos atender por volta das 11h. Fiquei penalizado com o sofrimento do bichinho que, após umas 20 horas de viagem, incluindo escalas, permanecia dentro de sua pequena jaula. Felizmente, os funcionários do terminal me autorizaram a retirá-lo para tomar água e se alimentar sem, contudo, sair do lugar.
Às 11h, me deram a notícia de que o veterinário só estaria presente às 13h, quando tem início o segundo expediente. A essa altura, eu estava exausto, enquanto o motorista, talvez calculando o prejuízo e o tempo perdido, me aguardava no carro estacionado sob sol escaldante.
VISTOS E CARIMBOS
Às 13h, chegou a veterinária, que imediatamente deu início aos seus procedimentos. Isso feito, passamos a circular pelas salas e pelos guichês da Receita, de onde saímos, eu e um solícito agente da companhia aérea, com pelo menos 15 folhas de papel com anotações, vistos e carimbos.
Quero deixar claro, aqui, que os inúmeros funcionários que me atenderam foram, todos, particularmente gentis e diligentes. Mas, se assim é, o que nos leva à exaustão e à enorme perda de tempo com tarefas tão banais? É a mão invisível de uma burocracia pública cujas normas e procedimentos labirínticos há tempos afugentam capitais e alimentam a fama de ineficiência do Estado e, injustamente, do trabalhador brasileiro.
20 de agosto de 2015
Flávio Saliba
O Tempo
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