"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CHUTATÍSTICAS



Estávamos quatro amigos num carro, saindo de São Paulo para uma viagem. Enquanto aguardávamos no primeiro semáforo, observamos um menino exibindo-se como malabarista, com três bolas de tênis lançadas ao ar em sequência cíclica. No semáforo seguinte, outro menino lidando com quatro bolas deixou uma cair no chão, quando tentava a manobra de lançá-la por baixo da perna. Um dos amigos comentou:

— Se usasse ovos, ia chover dinheiro para recompor o instrumento de trabalho.

Em outro semáforo, um maiorzinho ampliava o fogo de uma tocha, soprando-a com o álcool que tinha na boca. Mais adiante, outro equilibrava um bastão em pé sobre o queixo, sustentando um disco na outra ponta. Travou-se então este diálogo:

— Parece que a meninada de São Paulo virou malabarista de semáforo.
— Que exagero! Acabamos de passar em frente a um colégio cheio de meninos que não são malabaristas.

— É claro que estou falando de meninos pobres.

— Mesmo assim. Aqueles dez jogando pelada ali não são malabaristas.

— Está bem. Os quatro malabaristas são 40%, o que não é pouco.

— Você precisa aprender a calcular. Primeiro tem de somar os quatro com os dez. No total de quatorze, quatro são 28%, e não 40%. Tem ainda que descontar…

Assim, de redução em redução, chegou-se a uns 0,2%. E ainda cairia muito, mas daí em diante a conversa enveredou pela falsidade de certas “estatísticas” que circulam por aí. Tentarei resumi-la.

O caso da fome no Brasil é um bom exemplo. Quando gente do governo decidiu enfiar nas contas do distinto público um projeto – Fomiséria, ou algo assim – chutaram o número de famintos em 30 milhões, 40 milhões, 50 milhões. Esticaram até 53 milhões, um requinte de precisão, ante a perspectiva de alguém achar exagerado o chute de 60 milhões. Milhões surgem ou desaparecem, e ninguém sabe de onde surgiram nem como sumiram. Quem os apurou? Qual o método de pesquisa utilizado? É de se duvidar que alguém saiba, enquanto isso a ruidosa sanfona publicitária espicha e encolhe (principalmente espicha) ao gosto do interessado.

A FAO encolheu esse chutômetro estatístico para 18,5 milhões, que também não passa de um evidente exagero. Lula lamentou isso, mas confessou outro chute sobre vinte e cinco milhões de meninos de rua, lançado por ele a uma plateia francesa, como se estivesse fazendo uma ótima propaganda do Brasil... e do seu governo.

Num país que lidera a produção e exportação de alimentos, não tem sentido atribuir fome a tanta gente. Aliás, o mais provável é o contrário, pois as estatísticas falam em número crescente de brasileiros com excesso de peso, especialmente entre a população pobre. Muito mais sensata é esta estatística jocosa: A metade da população passa fome, a outra metade faz regime. Só não existe regime sem fome quando ele é inventado por algum “caça-níqueis”, dá até para somar as duas fomes.

Perguntei a um taxista cearense, em SP, sobre a fome no Ceará. Ele reagiu:

— O que é isso, doutor!? Talvez no Piauí, mas no Ceará não tem disso não.

Para um piauiense, a fome estaria em outro lugar, pois está sempre lá longe.
Outra estatística – dessas que não se sabe onde, nem como, nem quem – pendura a mão de obra informal no nível de 60%. Informal, no caso, significa trabalho sem carteira assinada. Sendo informal, não se sabe como isso foi computado, pois o informal não costuma deixar documentos contabilizáveis. A fuga da carteira assinada tem causas bem conhecidas – encargos trabalhistas acachapantes, impostos extorsivos, desestímulo aos geradores de empregos – mas evidentemente o número é exagerado, levando a suspeitar que se esconde atrás dele alguma finalidade inconfessável.

Acompanhei de perto as “chutatísticas” do show homossexual em São Paulo, aumentando ao ritmo anual de 500.000. Quando estava próximo do equivalente à metade da população paulistana, alguém desconfiou e se deu o trabalho de medir o espaço disponível na Av. Paulista (2.500 metros de comprimento por 50 de largura), e calculou que a lotação máxima (5 pessoas por metro quadrado) não poderia ultrapassar 600.000 pessoas. Apesar disso as “chutatísticas” continuaram aumentando, mas está comprovado que no último show não passaram de 100.000 espectadores. E os interessados insistem em inflar os “milhões”. Para quê? Suponho que queiram demonstrar uma força que não têm, para obter privilégios legais que não merecem.

Inventar ou falsificar estatísticas não é atividade recente. Sempre se praticou durante as guerras, como afirma o provérbio conhecido: Em tempo de guerra, boato é como terra. E uma frase espirituosa de Churchill mostra outro lado do assunto: Eu só acredito nas estatísticas que eu mesmo falsifico.

Se quer exagerar, tudo bem. Mas chutar quatro milhões na Paulista?!!!

25 de agosto de 2015
Jacinto Flecha

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