Ensina a sabedoria popular que Deus se encarrega de não deixar que as árvores cresçam até atingir o céu. Com todo o respeito, deveria Eduardo Cunha ter presente essa lição, porque aproxima-se dele uma implacável moto-serra. A denúncia do Procurador Geral da República contra o presidente da Câmara faz prever a interrupção de seu meteórico crescimento. Até sua degola. Ainda que por artes do destino o Supremo Tribunal Federal ou o Tribunal Superior Eleitoral venham a concluir pela presença de dinheiro sujo na campanha presidencial de 2014, anulando assim a eleição de Dilma Rousseff e de Michel Temer, não há hipótese de o deputado fluminense assumir a presidência da República para, em 90 dias, convocar novas eleições. Muito menos se a decisão do Judiciário for estendida para a segunda metade do atual mandato presidencial, coisa que determinaria a escolha do presidente-tampão pelo Congresso. Antes disso, as instituições estarão em frangalhos.
Parecia o plano de Eduardo Cunha: ocupar interinamente o palácio do Planalto e depois completar o período em curso, respaldado pela forte maioria de deputados que detinha até pouco. Quem sabe, contando em que o Senado deixará de confirmar a aprovação, pela Câmara, do fim da reeleição, permitindo-lhe novo mandato.
ROTEIRO DO ABSURDO
Trata-se de um roteiro do absurdo, a estratégia acima exposta, na dependência de combinações variadas. Mas circulava nos corredores do Legislativo. Agora, não circula mais, apesar de factível pela letra da Constituição. Um fator maior, um dia referido pelo dr. Ulysses, ergueu-se diante da trajetória imaginada. Por conta das acusações ao parlamentar, de envolvimento no escândalo da Petrobras, “mais do que o voto, prevalece a voz das ruas”. São elas que hoje condenam antecipadamente o deputado, consiga ele ou não provar sua inocência. Basta lembrar que foi objeto de duas manifestações conflitantes. As multidões contrárias à presidente Dilma, tanto quanto as favoráveis, não o pouparam. A árvore não alcançará o céu. Graças a Deus.
A REALIDADE E O FAZ DE CONTA
Insiste a presidente Dilma em que a crise, apesar de grave, é passageira. Conta em retomar o crescimento econômico, reduzir o desemprego e abafar a inflação. O diabo é que não existem habilidades capazes de encurtar a distância entre a realidade e o faz de conta. Em especial quando falta um projeto nacional para enfrentar o descalabro que nos assola. Caberia ao governo, mais do que ao Senado e aos empresários, ter elaborado um roteiro de mudanças fundamentais na economia. Daquelas para ninguém botar defeito, muito acima e além da meia-sola proposta pelo ministro Joaquim Levy. Madame começou a percorrer o país, mas não mudou a cantilena.
PARTIDO OU PROFISSÃO?
Amparados por ônibus, lanches e quem sabe um mísero jabá, os companheiros foram às ruas, quinta-feira. Entregaram-se às mesmas práticas de sempre: muito barulho, gestos de ginastas aposentados e cartazes ousados. A gente fica pensando se o PT é um partido ou é uma profissão…
24 de agosto de 2015
Carlos Chagas
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