"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

SE NÃO DESMENTIR EMPREITEIRO, CARDOZO TEM QUE DEIXAR O GOVERNO




Ricardo Pessoa diz que o ministro Cardozo convocou advogados












A revista Veja, que se encontra nas bancas, publica extensa reportagem de Daniel Pereira e Robson Bonin sobre declarações feitas pelo engenheiro Ricardo Pessoa, presidente da empresa UTC, desejando ser incluído no rol das delações premiadas à Justiça Federal. Ele, segundo a matéria, tem muito a afirmar sobre o esquema de corrupção na Petrobrás incluindo pessoas que receberam recursos financeiros, ou para suas campanhas eleitorais ou para pagar despesas pessoais, neste caso citando nominalmente o ex-ministro José Dirceu.
Ricardo Pessoa afirmou textualmente que a ajuda a José Dirceu foi feita a partir da simulação de contratos de consultoria. Mas, a meu ver, a parte mais importante da matéria refere-se ao encontro que o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo manteve com advogados de empresas empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato. Ricardo Pessoa sustenta que recebeu de seus advogados no processo a informação de que partiu do próprio José Eduardo Cardozo a iniciativa de procurá-los para uma conversa destinada a tentativa de fazê-lo desistir do pedido de delação premiada.
Esta afirmação é tão grave, como se constata, que conduz o ministro da Justiça a ter que rebatê-la, negando a versão ou então confirmá-la pelo silêncio. Nesta segunda hipótese, o reflexo político terá que culminar na sua saída do governo. Elio Gaspari em sua coluna ontem, no O Globo, considerou um fato normal advogados agirem nos processos, lembrando a extraordinária figura de Heráclito Sobral Pinto. Sobral Pinto defendeu inúmeros réus acusados falsamente pela ditadura de Vargas que se estendeu de 1937 a 1945. Mas o caso é diferente. Sobral Pinto procurou autoridades judiciais, não ministros de Estado para influir nas defesas que fazia sem cobrar absolutamente nada dos clientes presos absurdamente.
EXTRAPOLAÇÃO
No caso de Eduardo Cardozo os advogados extrapolaram o limite das ações judiciais e se deslocaram na busca de influência política, o que foi contestado pelo ministro aposentado Joaquim Barbosa e pelo próprio juiz Sérgio Moro. Enquanto não desmentida a versão de Ricardo Pessoa, o caso reflete também negativamente para o governo Dilma Rousseff, passando a impressão de que o Executivo e o PT temem o relato pormenorizado do presidente da UTC sobre os aspectos principais do vendaval de corrupção que atingiu a Petrobrás.
Este seria, inclusive, um problema a mais para Dilma Rousseff, entre tantos que a envolvem, além de outros que terá ela frente nos próximos dias. Entre estes a apreciação de seu veto à correção de 6,5% no Imposto de Renda pago na fonte ao longo de 2014. Além deste obstáculo terá que se deparar com a provável reação contrária do Congresso à Medida Provisória que entre outros itens reduz em 50% as pensões deixadas por morte pelos segurados.
CRISE COM TEMER
De acordo com reportagem de Natuza Neri e Andréia Sadi na Folha, ela se depara com dificuldades junto ao PMDB, que evoluíram para seu afastamento declarado do vice presidente Michel Temer. Natuza Neri e Andréia Sadi revelam que Temer não é recebido no Palácio do Planalto desde o momento em que decidiu apoiar a candidatura de Eduardo Cunha para presidente da Câmara Federal. Essa questão, que se reflete na não participação de Temer nas reuniões presidenciais já é suficiente para complicar ainda mais as dificuldades políticas do governo. Como se observa, os impasses e obstáculos se multiplicam. Como superá-los, eis a questão essencial e urgente.
23 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto

Nenhum comentário:

Postar um comentário