"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

CARDOZO ISENTA ADVOGADOS, MAS CONFIRMA AS QUADRILHAS




Na entrevista, ministro confirmou a existência da quadrilh
Em declarações publicadas na edição de ontem, 20, na Folha de São Paulo, matéria de Natália Cancian, o ministro José Eduardo Cardozo, voltando a tentar defender o fato de haver recebido advogados de empreiteiras envolvidas nos escândalos da Petrobrás, afirmou textualmente que “advogado não é membro de quadrilha”. Está correta a separação, porém a frase, no fundo, confirma a existência das quadrilhas que assaltaram o universo financeiro da principal empresa do país. Esta conclusão é absolutamente lógica. O titular da Justiça, por ação tácita, confirmou o que o maremoto dos fatos já evidenciou e vem acrescentando mais evidências a cada dia que passa.
Nem poderia ser de outra forma. As delações premiadas, com seus múltiplos autores, já nesta altura dos acontecimentos, revelaram as faces ocultas do escândalo monumental. E, diante de seus relatos, foram surgindo atores em série, é impressionante. Outros virão à tona nos próximos dias. A convergência de projetos criminais reunindo ex-dirigentes da Petrobrás, representantes das empresas empreiteiras, doleiros e lobistas está, portanto, mais do que comprovada. Afinal de contas, como poderiam os delatores inventar seus contatos para os destinos do dinheiro roubado. Roubaram demais, bateram um recorde difícil de superar.
QUADRILHAS IMUNDAS        
Formaram quadrilhas imundas através das quais os assaltos foram praticados ao longo de vários anos. E os gigantescos desvios de verbas públicas somente se materializaram através de contratos com executivos de alto escalão, representando as respectivas empresas. Como aconteceu agora, vejam só, com o apoio financeiro do governo ditatorial da Guiné Equatorial à Beija-Flor, campeã do carnaval de 2015.
Aliás, sobre este fato, efetivamente excepcional o artigo da antropóloga Alba Zaluar no Globo de ontem, chamando atenção para as distorções históricas e as contradições do enredo vencedor, a começar pela apresentação dos navios negreiros sem escravos, emoldurados na beleza do marfim, dos colares, das joias. Um paraíso visual, certamente. Mas no choque da fantasia sobre a realidade do tráfico negreiro, que, no caso brasileiro estendeu-se por mais de 300 anos. Mas esta é outra questão. Serve, contudo, para iluminar mais uma esquina das remessas de dinheiro através de transferências bancárias que incluem operações sofisticadas de câmbio.
FORMAÇÃO DE QUADRILHA
Se apenas o ex-gerente Pedro Barusco se dispõe a devolver 97 milhões de dólares à Petrobrás, está mais do que configurada a formação de quadrilha, prejudicando o Brasil e a todos nós, brasileiros. Na verdade, esbofetearia a sociedade do país, sem exceções. São tais quadrilhas que o ministro Eduardo Cardozo reconheceu oficialmente a existência, no ato em que isentou os advogados dos acusados de participação nas acusações.
De fato, os advogados não integram as quadrilhas, somente defendem a liberdade e a isenção de qualquer culpa para os quadrilheiros. Cardozo errou, isso sim, em recebê-los. Deveria ter indagado qual o assunto que pretendiam tratar. Procedimento, aliás, adotado pelas autoridades em relação a todos os cidadãos que os procuram. Quem procura um ministro de Estado deve indicar bem o que pretende focalizar e tratar. Caso contrário, a busca do acesso cairia no vazio. Como acabou caindo a explicação do ministro da Justiça.

23 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto

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