O ministro Aloizio Mercadante afirmou – reportagem de Ranier Bragon e Márcio Falcão, Folha de São Paulo de ontem – que o apoio no Congresso Nacional será a condição exigida pela presidente Dilma Rousseff para que parlamentares, representando seus partidos, obtenham cargos no segundo e terceiro escalões do governo.
A própria presidente da República cuidará pessoalmente da divisão, acrescentou o ministro chefe da Casa Civil. Bragon e Falcão assinalam que o grupo de Eduardo Cunha, novo presidente da Câmara, já tem uma lista de alvos.
A competência e o aval da legenda serão caracteres exigidos para as negociações. Incrível como uma questão dessa ordem possa ser colocada assim, à base de articulações que têm origem nas sombras de interesses quase pessoais, envolvendo uma série de reflexos pouco visíveis. Isso de um lado.
De outro, sob o ângulo político, representará a rendição de Dilma Rousseff aos vencedores da batalha que se travou pela presidência da Câmara Federal. O Executivo terá capitulado frente ao Legislativo. Quando o equilíbrio rejeita qualquer tipo de rendição.
No caso, inclusive, está em jogo não só a maioria parlamentar, mas a estabilidade do próprio governo.
Será possível que o nível político do país terá baixado tanto assim? Um autêntico toma lá dá cá restrito às lideranças projetadas em torno do Palácio do Planalto, as quais nada têm a ver com os anseios legítimos da população brasileira e do próprio país. Os componentes de tal acordo não poderiam – no passado – dizer o próprio nome das posições que estão assumindo.
SANTIAGO DANTAS
E por tocar nesse enfoque, eu recordo uma frase definitiva de Santiago Dantas, ao rebater argumento de Carlos Lacerda contra a posse de João Goulart em decorrência da renúncia de Jânio Quadros. “A posição não é legítima, porque nenhuma atitude é legítima se aquele que a assume não puder dizer, sem esforço, seu verdadeiro nome”.
Repórter do Correio da Manhã, nunca esqueci a força da colocação de Santiago Dantas, um gênio do pensamento lógico organizado, um tradutor do complexo para o simples, uma verdadeira máquina de pensar.
Em minha opinião não existe legitimidade em acordos firmados de maneira em que foram anunciados numa espécie de pré-estreia pelo ministro Mercadante.
Chama atenção, inclusive, a forma com que fez a revelação, abertamente, aos repórteres.
Como se fosse algo absolutamente normal, parte do jogo político. É claro que, no mundo, nenhum poder se livrará das regras implícitas inerentes a ele, as sutilezas, manobras, interesses econômicos. Porém há um limite para tudo.
Não é cabível que, na tentativa de recuperar-se de uma derrota irrecuperável, a presidente Dilma Rousseff tenha de aceitar dividir o próprio poder, sua esfera singular de atuação.
Dividir, sim. Porque os nomeados por esse traçado caminho, em consequência, tornam-se “indemissíveis”. Ou então, se demitidos, antes do ato a presidente terá que fornecer explicações aos autores das indicações e, ao mesmo tempo, pedir-lhes a indicação dos substitutos.
Como se vê, o problema não é simples. E a solução impossível. Até porque nas guerras as rendições são incondicionais.
05 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto
A própria presidente da República cuidará pessoalmente da divisão, acrescentou o ministro chefe da Casa Civil. Bragon e Falcão assinalam que o grupo de Eduardo Cunha, novo presidente da Câmara, já tem uma lista de alvos.
A competência e o aval da legenda serão caracteres exigidos para as negociações. Incrível como uma questão dessa ordem possa ser colocada assim, à base de articulações que têm origem nas sombras de interesses quase pessoais, envolvendo uma série de reflexos pouco visíveis. Isso de um lado.
De outro, sob o ângulo político, representará a rendição de Dilma Rousseff aos vencedores da batalha que se travou pela presidência da Câmara Federal. O Executivo terá capitulado frente ao Legislativo. Quando o equilíbrio rejeita qualquer tipo de rendição.
No caso, inclusive, está em jogo não só a maioria parlamentar, mas a estabilidade do próprio governo.
Será possível que o nível político do país terá baixado tanto assim? Um autêntico toma lá dá cá restrito às lideranças projetadas em torno do Palácio do Planalto, as quais nada têm a ver com os anseios legítimos da população brasileira e do próprio país. Os componentes de tal acordo não poderiam – no passado – dizer o próprio nome das posições que estão assumindo.
SANTIAGO DANTAS
E por tocar nesse enfoque, eu recordo uma frase definitiva de Santiago Dantas, ao rebater argumento de Carlos Lacerda contra a posse de João Goulart em decorrência da renúncia de Jânio Quadros. “A posição não é legítima, porque nenhuma atitude é legítima se aquele que a assume não puder dizer, sem esforço, seu verdadeiro nome”.
Repórter do Correio da Manhã, nunca esqueci a força da colocação de Santiago Dantas, um gênio do pensamento lógico organizado, um tradutor do complexo para o simples, uma verdadeira máquina de pensar.
Em minha opinião não existe legitimidade em acordos firmados de maneira em que foram anunciados numa espécie de pré-estreia pelo ministro Mercadante.
Chama atenção, inclusive, a forma com que fez a revelação, abertamente, aos repórteres.
Como se fosse algo absolutamente normal, parte do jogo político. É claro que, no mundo, nenhum poder se livrará das regras implícitas inerentes a ele, as sutilezas, manobras, interesses econômicos. Porém há um limite para tudo.
Não é cabível que, na tentativa de recuperar-se de uma derrota irrecuperável, a presidente Dilma Rousseff tenha de aceitar dividir o próprio poder, sua esfera singular de atuação.
Dividir, sim. Porque os nomeados por esse traçado caminho, em consequência, tornam-se “indemissíveis”. Ou então, se demitidos, antes do ato a presidente terá que fornecer explicações aos autores das indicações e, ao mesmo tempo, pedir-lhes a indicação dos substitutos.
Como se vê, o problema não é simples. E a solução impossível. Até porque nas guerras as rendições são incondicionais.
05 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto
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