Às vésperas das eleições britânicas, uma reportagem deixou em maus lençóis os dois partidos que se revezam no governo de Sua Majestade desde 1922. Jornalistas do diário “Daily Telegraph” e da emissora Channel 4 procuraram parlamentares conservadores e trabalhistas com uma proposta indecorosa.
Eles se identificaram como representantes de uma empresa chinesa em busca de ajuda para expandir os negócios no Reino Unido. Os repórteres frisaram que a companhia estava “cheia de dinheiro” e precisava de aliados “influentes” no poder.
DOIS EX-CHANCELERES
O discurso seduziu dois medalhões que já exerceram o cargo de ministro das Relações Exteriores: o conservador Malcolm Rifkind e o trabalhista Jack Straw.
Eles se animaram tanto que toparam o convite sem sequer checar se a tal empresa existia – e tudo era fictício, do nome à suposta sede em Hong Kong.
Uma câmera escondida flagrou os dois políticos negociando o cachê e explicando como poderiam usar o mandato para favorecer clientes.
Rifkind prometeu obter informações de ministros e marcar reuniões com embaixadores. “Isso abre canais de acesso muito úteis”, gabou-se. Straw disse atuar “abaixo do radar” e contou ter forçado a mudança de uma norma da União Europeia para beneficiar um contratante.
SUSPENSÃO IMEDIATA
Os dois foram suspensos de seus partidos após a publicação da reportagem, no domingo.
O Channel 4 exibiria um programa especial sobre o caso na noite de segunda, com o título de “Políticos de aluguel”.
Em todo o mundo, há empresários e parlamentares dispostos a negociar à margem da lei.
A diferença não está nas virtudes dos indivíduos de cada país, e sim na eficácia das instituições para puni-los, como deve acontecer no Reino Unido.
No Brasil, a prisão de empreiteiros acusados de corrupção foi uma boa surpresa. Mas o sucesso da Lava Jato ainda depende de seus efeitos no outro lado do balcão: o dos políticos que alugaram seus mandatos.
25 de fevereiro de 2015
Bernardo Mello Franco Folha
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Fico imaginando com os meus botões, como se sentem os que padecem do tal 'complexo de vira-latas', célebre expressão criada pelo Nelson Rodrigues, para expressar aqueles cidadãos que estão sempre com 'a boca aberta' diante do maravilhoso, fantástico, extraordinário 'primeiro mundo', com as suas invencionices e consumismo desbragados, além, é claro, de uma política bélica inigualável para salvar a democracia, custe quantas vidas custar.
Sim, porque de repente, sentem uma profunda atração pela fleugmática corrupção britânica, o que nos aproximaria da secular cultura europeia, demonstrando que a corrupção nos igualaria ao primeiromundismo. Assim, não precisamos nos envergonhar dos nossos vergonhosos políticos, visto que a espécie pulula em todo o planeta...
Ufa! Que alívio! Estamos bem acompanhados!
A única coisa realmente estranha é que demoramos algumas décadas para punir exemplarmente - quando punimos - a politicalha corrupta, enquanto lá 'nazeuropa', ou 'nozestaduzunidos', a punição é imediata, doa a quem doer.
Aqui também, só que o "doa a quem doer" dói mesmo é no povo, na nação, presenciar a impunidade que corrói as entranhas do país e desacredita o espírito nacional que estimula o amor à pátria.
Comentava outro dia com um amigo, um dado interessante da cultura americana: quando lá estive, em todos os cantos e recantos, casas, janelas, prédios, colégios, o diabo, tremulava a bandeira americana, numa clara manifestação de forte cidadania e de respeito ao país.
No Brasil, ainda não vi nas casas, janelas de apartamentos, prédios, condomínios, tremular a bandeira nacional. O tal pavilhão. Seria comovente saudar o nosso rincão com o símbolo maior que o representa.
m.americo
Eles se identificaram como representantes de uma empresa chinesa em busca de ajuda para expandir os negócios no Reino Unido. Os repórteres frisaram que a companhia estava “cheia de dinheiro” e precisava de aliados “influentes” no poder.
DOIS EX-CHANCELERES
O discurso seduziu dois medalhões que já exerceram o cargo de ministro das Relações Exteriores: o conservador Malcolm Rifkind e o trabalhista Jack Straw.
Eles se animaram tanto que toparam o convite sem sequer checar se a tal empresa existia – e tudo era fictício, do nome à suposta sede em Hong Kong.
Uma câmera escondida flagrou os dois políticos negociando o cachê e explicando como poderiam usar o mandato para favorecer clientes.
Rifkind prometeu obter informações de ministros e marcar reuniões com embaixadores. “Isso abre canais de acesso muito úteis”, gabou-se. Straw disse atuar “abaixo do radar” e contou ter forçado a mudança de uma norma da União Europeia para beneficiar um contratante.
SUSPENSÃO IMEDIATA
Os dois foram suspensos de seus partidos após a publicação da reportagem, no domingo.
O Channel 4 exibiria um programa especial sobre o caso na noite de segunda, com o título de “Políticos de aluguel”.
Em todo o mundo, há empresários e parlamentares dispostos a negociar à margem da lei.
A diferença não está nas virtudes dos indivíduos de cada país, e sim na eficácia das instituições para puni-los, como deve acontecer no Reino Unido.
No Brasil, a prisão de empreiteiros acusados de corrupção foi uma boa surpresa. Mas o sucesso da Lava Jato ainda depende de seus efeitos no outro lado do balcão: o dos políticos que alugaram seus mandatos.
25 de fevereiro de 2015
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Fico imaginando com os meus botões, como se sentem os que padecem do tal 'complexo de vira-latas', célebre expressão criada pelo Nelson Rodrigues, para expressar aqueles cidadãos que estão sempre com 'a boca aberta' diante do maravilhoso, fantástico, extraordinário 'primeiro mundo', com as suas invencionices e consumismo desbragados, além, é claro, de uma política bélica inigualável para salvar a democracia, custe quantas vidas custar.
Sim, porque de repente, sentem uma profunda atração pela fleugmática corrupção britânica, o que nos aproximaria da secular cultura europeia, demonstrando que a corrupção nos igualaria ao primeiromundismo. Assim, não precisamos nos envergonhar dos nossos vergonhosos políticos, visto que a espécie pulula em todo o planeta...
Ufa! Que alívio! Estamos bem acompanhados!
A única coisa realmente estranha é que demoramos algumas décadas para punir exemplarmente - quando punimos - a politicalha corrupta, enquanto lá 'nazeuropa', ou 'nozestaduzunidos', a punição é imediata, doa a quem doer.
Aqui também, só que o "doa a quem doer" dói mesmo é no povo, na nação, presenciar a impunidade que corrói as entranhas do país e desacredita o espírito nacional que estimula o amor à pátria.
Comentava outro dia com um amigo, um dado interessante da cultura americana: quando lá estive, em todos os cantos e recantos, casas, janelas, prédios, colégios, o diabo, tremulava a bandeira americana, numa clara manifestação de forte cidadania e de respeito ao país.
No Brasil, ainda não vi nas casas, janelas de apartamentos, prédios, condomínios, tremular a bandeira nacional. O tal pavilhão. Seria comovente saudar o nosso rincão com o símbolo maior que o representa.
m.americo
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