O cerco aos deputados do PMDB por diversos ministros da presidente Dilma, esta semana, configura corrupção explícita, se for verdadeira a versão de que a equipe de governo anda prometendo nomeações para o segundo escalão em troca de votos para a aprovação de seus projetos.
Só existem dúvidas sobre quem é mais corrupto, se os ministros ou os deputados.
Tome-se um parlamentar cuja opinião é de que direitos trabalhistas não podem ser revogados e, por isso, dispõe-se a votar contra as medidas provisórias extinguindo parte do seguro-desemprego e aviltando as pensões das viúvas.
Que conclusão tirar caso, na hora da votação, Sua Excelência aprove na íntegra essa maldade, porque obteve a promessa de nomeação de um seu apadrinhado para a diretoria de uma empresa estatal?
Multiplique-se essa situação e outras semelhantes, em matéria de benesses e favores distribuídos pelo Executivo a integrantes do Legislativo, e se terá a receita de uma nação corrompida. De instituições falidas.
Pois é o que se delineia no jogo sujo das relações entre o palácio do Planalto e o Congresso, por certo entre expressões de cordialidade e entendimento político.
O pior é que nada poderá ser feito para evitar o crime: os deputados são livres para votar como quiserem e os governantes também, para preencher as vagas na administração direta e indireta. De pouco adiantam leis mais drásticas para punir a corrupção, se ela acontece de acordo com as instituições vigentes.
Só tem uma saída para evitar essa novela de horror, fora, é claro, uma rebelião nacional capaz de não deixar pedra sobre pedra nesses dois poderes da União: a imprensa dedicar-se à leitura minuciosa dos Diários Oficial e do Congresso, interligando nomeações e votações. Pelo menos, o eleitorado tomaria conhecimento da falcatrua. Mas deixaria de votar em seus deletérios representantes de um lado e de outro? Dificilmente, porque viciadas também estão as eleições abastecidas com dinheiro podre, como ainda agora demonstra o escândalo na Petrobras.
Vale repetir: a nação está corrompida, apesar de bissextos esforços promovidos por parte do Judiciário para punir os corruptos.
NO CHILE COMEÇOU ASSIM
Quem tiver boa memória poderá lembrar que no Chile do general Pinochet começou assim. A paralisação dos caminhoneiros gerou não apenas o desabastecimento no país, mas despertou nos militares os piores sentimentos.
Por certo que estimulados pela CIA e os conglomerados econômico-financeiros internacionais. Aqui, felizmente, as forças armadas parecem longe de sensibilizar-se pela exceção e pelo arbítrio, ainda que em passado mais ou menos recente tenham caído na armadilha.
25 de fevereiro de 2015
Carlos Chagas
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