É reconhecidamente limitado, para dizer o mínimo, o Ministério que Dilma Rousseff montou para seu segundo mandato. Em defesa da presidente, pode-se argumentar que ela não tinha alternativa senão submeter-se às exigências fisiológicas dos partidos aliados, pois é esse o espírito do presidencialismo de coalizão, sem o qual o lulopetismo não teria sobrevivido tanto tempo no poder. Contudo, mesmo nesse sistema tão rígido, Dilma teve espaço para nomear assessores de sua confiança - a chamada "cota pessoal". Era a sua chance de, nestes tempos bicudos, escolher gente que tivesse algo a oferecer a um governo que precisa desesperadamente revelar alguma competência. Mas algumas escolhas de Dilma, feitas à sua imagem e semelhança, comprovam a estreiteza de seus horizontes, mostrando sua opção preferencial pela mediocridade.
A "cereja do bolo" foi a recente nomeação de Roberto Mangabeira Unger para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). "Renomeação", seria mais apropriado dizer, porque o acadêmico já ocupou a pasta, durante o governo de Lula, e lá deixou um rastro de megalomania e extravagância. Lula o nomeou para fazer um favor a seu vice, José Alencar, que queria dar um emprego no governo a seu correligionário de PRB - o quarto partido de Unger, que passou também por PMDB, PDT e PPS. Já Dilma, até onde se sabe, reconduziu o indigitado à SAE simplesmente porque quis.
Diante de tantos problemas mais urgentes que o País ora enfrenta, a escolha de Unger para a SAE pode ser vista até como inofensiva, e por razões lamentáveis. Em primeiro lugar, a Secretaria não é o que deveria ser. Em vez de atuar como um centro de planejamento de estratégias de longo prazo, algo que é comum em países sérios e competitivos, a SAE, em seu atual formato, foi um arranjo meramente político feito por Lula justamente para acomodar Unger.
Desde então, com orçamento baixíssimo e pouca visibilidade, a SAE ganhou o apelido de "jilozinho da Esplanada" - aquele que nenhum partido aliado quer. Além disso, a volta de Unger significa que a SAE continuará a ser irrelevante, pois não se espera que seus planos tenham a mínima chance de prosperar.
Se a escolha de Dilma para a SAE tem pouca importância, o mesmo não se pode dizer de suas nomeações para cargos estratégicos, como a Casa Civil e as Relações Institucionais. Essas duas pastas, mais do que quaisquer outras, são cruciais para a articulação do governo com o Congresso e com o próprio Ministério. Logo, se o objetivo fosse sinalizar a vontade de construir pontes, seria desejável que Dilma preenchesse essas vagas com políticos com perfil talhado para essa espinhosa tarefa.
No entanto, ao colocar Pepe Vargas nas Relações Institucionais e ao manter Aloizio Mercadante na Casa Civil, Dilma fez uma aposta no confronto.
Integrante de facção esquerdista dentro do PT, Vargas acreditou que fosse possível dobrar a Câmara dos Deputados com o peso do governo, cobrando a conta da distribuição de cargos federais para fazê-la eleger como seu presidente alguém da confiança do Planalto. Sem nenhuma experiência nessa seara, e movido pela proverbial arrogância petista, Vargas foi engolido pelos governistas. Desafeto de Dilma, o presidente eleito, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resumiu o fiasco de Vargas, de Dilma e dos petistas: "Eu não impus essa derrota ao PT. Eles é que se derrotaram".
Mas Vargas não agiu por conta própria. Por trás dele estava o ministro Aloizio Mercadante - que se tornou o homem forte do governo Dilma por razões que apenas ela pode explicar. Visto no PMDB como o cérebro da desastrada articulação que visou a derrotar Cunha, o ministro-chefe da Casa Civil demonstrou toda a sua incapacidade de conduzir a coalizão governista.
Como o segundo mandato está apenas começando, Dilma ainda tem a oportunidade de mudar o rumo de seu governo. Mas, a julgar pelas escolhas que faz, não há nenhuma razão para acreditar nisso.
A "cereja do bolo" foi a recente nomeação de Roberto Mangabeira Unger para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). "Renomeação", seria mais apropriado dizer, porque o acadêmico já ocupou a pasta, durante o governo de Lula, e lá deixou um rastro de megalomania e extravagância. Lula o nomeou para fazer um favor a seu vice, José Alencar, que queria dar um emprego no governo a seu correligionário de PRB - o quarto partido de Unger, que passou também por PMDB, PDT e PPS. Já Dilma, até onde se sabe, reconduziu o indigitado à SAE simplesmente porque quis.
Diante de tantos problemas mais urgentes que o País ora enfrenta, a escolha de Unger para a SAE pode ser vista até como inofensiva, e por razões lamentáveis. Em primeiro lugar, a Secretaria não é o que deveria ser. Em vez de atuar como um centro de planejamento de estratégias de longo prazo, algo que é comum em países sérios e competitivos, a SAE, em seu atual formato, foi um arranjo meramente político feito por Lula justamente para acomodar Unger.
Desde então, com orçamento baixíssimo e pouca visibilidade, a SAE ganhou o apelido de "jilozinho da Esplanada" - aquele que nenhum partido aliado quer. Além disso, a volta de Unger significa que a SAE continuará a ser irrelevante, pois não se espera que seus planos tenham a mínima chance de prosperar.
Se a escolha de Dilma para a SAE tem pouca importância, o mesmo não se pode dizer de suas nomeações para cargos estratégicos, como a Casa Civil e as Relações Institucionais. Essas duas pastas, mais do que quaisquer outras, são cruciais para a articulação do governo com o Congresso e com o próprio Ministério. Logo, se o objetivo fosse sinalizar a vontade de construir pontes, seria desejável que Dilma preenchesse essas vagas com políticos com perfil talhado para essa espinhosa tarefa.
No entanto, ao colocar Pepe Vargas nas Relações Institucionais e ao manter Aloizio Mercadante na Casa Civil, Dilma fez uma aposta no confronto.
Integrante de facção esquerdista dentro do PT, Vargas acreditou que fosse possível dobrar a Câmara dos Deputados com o peso do governo, cobrando a conta da distribuição de cargos federais para fazê-la eleger como seu presidente alguém da confiança do Planalto. Sem nenhuma experiência nessa seara, e movido pela proverbial arrogância petista, Vargas foi engolido pelos governistas. Desafeto de Dilma, o presidente eleito, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resumiu o fiasco de Vargas, de Dilma e dos petistas: "Eu não impus essa derrota ao PT. Eles é que se derrotaram".
Mas Vargas não agiu por conta própria. Por trás dele estava o ministro Aloizio Mercadante - que se tornou o homem forte do governo Dilma por razões que apenas ela pode explicar. Visto no PMDB como o cérebro da desastrada articulação que visou a derrotar Cunha, o ministro-chefe da Casa Civil demonstrou toda a sua incapacidade de conduzir a coalizão governista.
Como o segundo mandato está apenas começando, Dilma ainda tem a oportunidade de mudar o rumo de seu governo. Mas, a julgar pelas escolhas que faz, não há nenhuma razão para acreditar nisso.
08 de fevereiro de 2015
Editorial O Estadão
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