Hoje (7) a de festa, com Lula e Dilma Rousseff na reunião do diretório nacional do PT. Que festa?! Dificilmente haveria momento pior para encontros do gênero e para comemorar os 35 anos do partido. Aliás, para comemorar qualquer coisa.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acaba de sofrer uma "condução coercitiva", algo ali entre depor espontaneamente e ser preso, pura e simplesmente. Em bom português, ele foi arrastado para depor.
Não bastasse, o ex-gerente executivo da Petrobrás Pedro Barusco revelou que o PT recebeu até US$ 200 milhões de propina. Espantoso.
Para completar, o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acatou o pedido de abertura de uma nova CPI da Petrobrás. Se há algo que nenhum governo quer, é uma CPI na sua cola.
Alguns podem ponderar que Dilma já matou no peito duas CPIs da Petrobrás. Sim, mas o momento era outro e Dilma estava bem mais parruda politicamente. A crise econômica não estava tão escancarada, a crise política era apenas latente, a conta de luz não tinha disparado, a ameaça de falta de luz e de água não contaminava o ambiente. E... as investigações da PF estavam apenas começando.
Hoje, a situação do governo e do PT é de isolamento e perplexidade. A diferença é que o governo está só isolado, mas o PT está também dividido. A cada sorriso, cochicho e abraço entre Dilma e Lula na festa de hoje, os petistas lembrarão quanto os dois, acuados, empurram as culpas um para o outro. Dilma empurra a culpa pela Petrobrás. Lula, a culpa pela economia.
Só resta ao partido - que completou 12 anos no poder e acaba de conquistar o quarto mandato nas urnas - torcer para ninguém sair cantando My Way (Meu jeito). Eternizada por Frank Sinatra, a música chegou à política brasileira quando o delator do mensalão, Roberto Jefferson, recitou ao ser preso no Rio: "E agora o fim está próximo". Estava mesmo. "Arrependimentos, eu tive alguns". Teve mesmo. E hoje?
My Way é o nome da nova etapa da Operação Lava Jato, porque o delator Barusco, que está aumentando o buraco - e os valores - do PT, chamava assim o colega de Petrobrás e de traquinagens Renato Duque, ex-diretor de Serviços da companhia.
Enquanto o partido de Lula e Dilma se debate sem saber para onde ir, o governo tenta desesperadamente achar um incauto do mercado que tenha um super nome, um currículo robusto e uma coragem de ferro para assumir a presidência da Petrobrás.
Vai ser difícil. O mais provável é que Dilma tenha de recorrer à lista de sempre com os economistas alinhados. Quem de fora é tão temerário a ponto de assumir uma companhia que perdeu bilhões em ativos nos últimos anos, foi tomada de assalto por partidos políticos, virou rendez-vous de doleiros, diretores e executivos da iniciativa privada? E que não é capaz de apresentar um balanço auditado e, last but not least, responde a processo na Justiça dos Estados Unidos.
Depois de nomear Joaquim Levy como salvador da Pátria, Dilma bem poderia resgatar Henri Philippe Reichstul, que fez uma gestão moderna, pragmática e séria na Petrobrás. Mas Dilma não chegaria a tanto.
Aliás, ela já tinha destacado Levy para operar a substituição de Graça Foster, mas, bastou a informação sair na imprensa, empurrou Aloizio Mercadante para o meio das negociações. Seria dar excesso de poderes ao tucano, ops!, ao ministro Levy.
Na festa de hoje, o PT, de tão bela origem e de tão boas intenções, vai brindar com amargura o seu próprio destino e com constrangimento os seus Vaccari, André Vargas e tantos outros que foram caindo pelo caminho e pelo "Meu jeito" de Lula governar.
Muitos, intimamente, já cantam: "Teve horas/ Eu tenho certeza de que você sabe/ Quando eu mordi mais do que podia mastigar".
Sim, nós sabemos.
08 de fevereiro 2015
Eliane Cantanhede, O Estado de São Paulo
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