Só a incompetência é capaz de parir a burrice burocrática. Vejam só: concluído o ensino técnico, um jovem saiu atrás do único documento que lhe permitiria ingresso no mercado formal de trabalho: a carteira profissional. Bateu às portas do posto do Ministério do Trabalho de sua cidade e recebeu a seguinte informação: só atendemos dez pessoas por dia, mediante distribuição de senhas, a partir das 13:00.
Direito fundamental inserido no artigo 6º da Constituição Federal, o trabalho é assim tratado pelo Ministério (in)competente, cuja única função deveria ser a de garantir e facilitar a todos os cidadãos o acesso à mola mestra da economia do país: só dez pessoas por dia podem disputar uma carteira profissional, afim de usufruir aquele direito.
Apanhado que foi o país na engrenagem da politicalha, acabou nisso que aí está: bordel, corrupção e incompetência. Na montagem das equipes do poder, como no bordel, é dando que se recebe. A farra das obras públicas garante o mixê. E a incompetência tem lugar garantido nos ministérios leiloados para quem puxar mais votos.
De há muito, o Brasil não é governado, mas apenas usado para o enriquecimento pessoal e o gozo dos direitos políticos hereditários. Há muitas décadas, nos noticiários sobre a politicalha desfilam os mesmos sobrenomes: Sarney, Calheiros, Barbalho, Melo, Neves, Marchesan, Simon, para ficar só nesses aí.
E nada muda. E só se fala do futuro, só se promete o futuro, porque o presente é sempre uma bosta. Ninguém adquire vergonha na cara, ninguém larga a politicalha, para disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Claro, nenhum político seria louco de largar essa vidinha que lhe garante no patrimônio o que falta no governo. Muito menos tendo que dormir na porta do Ministério do Trabalho, aguardando até à uma da tarde, para entrar na fila da carteira profissional.
Então eles ficam encompridando o poder, com toda a empáfia, diárias, verbas de gabinete, quinze salários, foro privilegiado, e o tratamento de excelência. E não se dobram nem aos estragos da idade, com o caju nos cabelos, ou os implantes impudicos, debitados na nossa conta.
Só depois de garantirem uma das tetas do poder para seus rebentos, e já com o pé na cova, alguns se acomodam. Sem o mínimo pudor, penduram seu ócio na “aposentadoria”, bancada pelos compatriotas que, depois ralarem trinta e cinco anos, acabam na miséria do salário mínimo. E a vida no bordel continua.
João Eichbaum é Escritor e Advogado.
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